quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Comissões históricas: mágicas, leques e baluartes

O carnaval de 2010 teve como grande estrela um segmento da escola de samba que a cada ano vem se aprimorando mais: a comissão de frente. A que a Unidos da Tijuca apresentou com certeza entrará na galeria de comissões históricas do carnaval. Com uma coreografia dinâmica e um truque de mágica surpreendente, no qual mulheres trocavam de roupa rapidamente, o grupo pode ser considerado um dos grandes responsáveis pelo campeonato tijucano, já que arrebatou o público e, provavelmente, os jurados, logo no início do desfile, levando-os a assistir ao resto com mais empolgação e até fazendo vista grossa a algumas pequenas imperfeições da escola.

Vídeo da comissão de frente da Unidos da Tijuca de 2010:



Diversas comissões de frente que passaram pela Sapucaí realizaram apresentações impecáveis mas há duas em especial que são grandes referências no quesito e são lembradas até hoje.

Em 1999 a Mangueira trouxe a comissão mais emocionante de todos os tempos, para o enredo "O Século do Samba". Com uma caracterização perfeita, tanto em maquiagem quanto em vestimenta, os integrantes se transformaram em grandes baluartes do mundo do samba, imitando até mesmo o modo de andar e portando objetos pessoais próprios dessas personalidades. De uma só vez, "baixaram" na avenida Noel Rosa, Candeia, Cartola, Pixinguinha, Clementina de Jesus, Ismael Silva, Tia Ciata, Carmem Miranda, entre outros... Infelizmente a comissão mangueirense de 99 só teve a chance de se apresentar uma vez na Sapucaí, já que a escola ficou na sétima colocação, resultado contestado até hoje, e não desfilou no sábado das campeãs.

Vídeos da comissão de frente da Mangueira de 1999:
parte 1:


parte 2:


Conhecida por suas comissões de frente, a Imperatriz trouxe, em 1994, uma das mais conhecidas e lembradas até hoje. A idéia era bem simples, mas o destaque ficou por conta da sincronia de movimentos, que deveriam ser executados de forma perfeita para o bom andamento da coreografia. Os integrantes abriam e fechavam leques, sendo que de um lado eles eram amarelos e, do outro, verdes. O resultado ficou visualmente muito bonito e impactante. A escola foi campeã em 94, com o enredo "Catarina de Médicis na Corte dos Tupinambôs e Tabajeres"

Vídeo da comissão de frente da Imperatriz de 1994:


Ao longo dos anos as escolas tem cada vez mais investido no segmento de abertura de seus desfiles. Hoje em dia já é praticamente uma unanimidade o uso de um tripé ou outro elemento alegórico fazendo parte da comissão de frente. Os coreógrafos tem tido cada vez mais trabalho no desenvolvimento de comissões originais, que surpreendam e emocionem o público e adquiram boas notas. E o que muitas vezes falta a elas é justamente aquilo que as comissões mostradas acima tem de sobra: simplicidade.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quinho e o dilema salgueirense


Um dia depois da apuração do grupo especial, uma notícia surpreendeu o mundo do samba: Quinho teria deixado o Salgueiro. Completamente identificado com a escola, a saída do intérprete não era algo esperado e surpreendeu a todos. Mas durou pouco. No desfile das campeãs, Quinho disse ter voltado atrás, que tudo não passou de um mal entendido e que sua renovação de contrato já estava pronta. Alívio para uns, frustração para outros. Isso porque muitas pessoas "culpam" o intérprete pelos fracos e semelhantes sambas que a Academia tem apresentado nos últimos anos. Uma coisa é certa: os sambas do Salgueiro são escolhidos seguindo o critério de melhor adaptação ao seu intérprete.

Isso ficou claro na disputa desse ano, quando a escola possuia sambas muito melhores em sua safra e acabou optando pela obra da parceria de Josemar Manfredini. O samba possui, no refrão principal, um espaço entre os versos "sem ponto final" e "academia do samba é salgueiro", perfeito para Quinho inserir seus famosos cacos.
E dando prioridade ao seu intérprete, o Salgueiro acaba deixando de lado a oportunidade de levar sambas excelentes para a avenida. Aconteceu isso esse ano, mas o caso mais gritante foi no ano passado, quando a escola tinha em suas eliminatórias o melhor samba do ano, da década (iria competir com o da Vila desse ano) e um dos melhores de sua história. O samba da parceria de Edgar Filho chegou à final, mas não venceu. Perdeu pro samba da parceria de Moisés Santiago e gerou uma grande decepção e frustração para aqueles que sonhavam ver o Salgueiro voltar a ter um samba decente.

O pior é que, por ironia do destino, a escola ainda foi campeã com seu "Vem no tambor da Academia", o que calou a boca daqueles que não apostavam na obra. Mas mesmo assim, o samba campeão não deixa de ser apenas mais um na recente safra do Salgueiro. Nem tão recente, já que desde 1993, quando a Sapucaí explodiu o coração com o Ita, a escola tenta incessantemente repetir um efeito parecido, apresentando sambas animadinhos, pobres em letra e com um refrão explosivo e grudento.
E provavelmente esse metodismo na escolha dos sambas não irá mudar tão cedo, por 4 motivos: 1) Os sambas são ruins, mas conseguem boas notas. 2) Quinho fica, e se dá muito melhor com sambas desse tipo. 3) "Candaces". Quando a escola resolveu inovar e levar um samba de verdade, em 2007, foi um fracasso. Traumatizou. 4) Como já dito, foi campeã em 2009 com um sambinha "mais do mesmo".

Por essas e outras, quando foi anunciada a saída de Quinho do microfone principal da Academia, muita gente comemorou. Agora que ele voltou, só resta torcer para que a ala de compositores da escola consiga fazer sambas que não sejam conhecidos apenas pelo refrão principal. Não precisa ser o melhor, mas não precisa ser o pior. Que seja, apenas, diferente.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Entrevista: Sidney Rezende


Jornalista desde 1985 e apresentador de telejornais da Rede Globo, Sidney Rezende é dono de um dos sites de maior repercusão e credibilidade sobre carnaval na atualidade. O "carnavalesco" é na verdade uma editoria do site principal, http://www.sidneyrezende.com/. É fonte constante de notícias comentadas em fóruns sobre carnaval e um dos poucos lugares onde se pode encontrar informações sobre os desfiles do grupo Rio de Janeiro I.
Fiz um pequena entrevista com ele, por email, e ele diz, entre outras coisas, como começou seu interesse por carnaval e como vê o futuro da maior festa popular do planeta. Segue a entrevista na íntegra:

CA:O seu site é, hoje, um dos maiores referenciais sobre carnaval na Internet. Como você explica esse sucesso?

Sidney:Você a nossa (sic) felicidade em tomar conhecimento que o trabalho que fazemos está tendo esta repercussão. A cobertura de carnaval do SRZD-Carnavalesco é fruto da paixão, competência e grande dedicação do editor Alberto João, criador da ideia, e uma equipe comandada por ele com profunda aplicação. Só posso atribuir a isso o sucesso que a equipe alcança diariamente.


CA: Qual sua escola de samba de coração?

Sidney: Deveria ser exclusivamente Mocidade, pois morei em Bangu, torço para o clube do bairro, e tenho raízes lá. Mas hoje não consigo. Torço para todas. Realmente me emociona o trabalho extraordinário realizado por todas elas


CA: Como começou seu interesse por carnaval?

Sidney: Eu já cubro como repóter o carnaval há muitos anos. Mas quando decidimos publicar notícias dos clubes de futebol marginalizados, para muitos considerados pequenos, eu descobri que também tínhamos que dar atenção a outra expressão do povo brasileiro, o carnaval. E aí, tudo começou!


CA: O site foi um dos poucos, senão o único, que fez uma cobertura mais detalhada sobre o grupo Rio de Janeiro I (antigo grupo B). Você não acha que uma maior atenção da imprensa a essas escolas as beneficiaria? Por que nenhum site tem informações detalhadas sobre os outros grupos de Acesso?

Sidney: Não posso falar pelos outros. Nós daremos cada vez mais atenção a todos os certames que envolvam o samba. Só não temos saúde financeira ainda para cobrirmos jornalisticamente como todas merecem. Mas chegaremos lá. Para isso, nos ajude a divulgar o portal www.sidneyrezende.com


CA: Cite um desfile que tenha sido inesquecível pra você. Por quê?

Sidney: O deste ano. Nunca vi uma manifestação tão expontânea como a do público que reagiu diante da Comissão de Frente da Unidos da Tijuca. Foi incrível.


CA: Qual o samba-enredo que você mais gosta? E qual considera o melhor de todos os tempos?

Sidney: Não tenho condições de responder esta pergunta. Gosto do pluralismo. Um samba de Silas Oliveira, ou de Zuzuca materializam qualquer enredo. Não é incrível que Bom, Bonito e Barato da União da Ilha ainda sirva para rotulá-la até hoje???


CA: O que você acha da polêmica envolvendo a LESGA e uma possível dissolução da mesma, passando as escolas do Acesso a pertencerem à LIESA?

Sidney: Não aprecio nenhuma solução que seja meramente emocional. Lesga e Liesa e demais interessados pelo samba deveriam dedicar mais horas a pensar o futuro do espetáculo. Mas com serenidade.


CA: O que você acha do carnaval de São Paulo?

Sidney: Fico feliz que o povo de São Paulo valorize o samba a cada ano que passa. O nosso número de leitores lá é crescente. Fico impressionado. Mais de 500 mil pessoas acessam nosso site em São Paulo. Não é entusiasmante isso?


CA: Pra você, o carnaval de hoje em dia está num caminho sem volta rumo a uma maior espetacularização da festa, em detrimento do samba no pé e da tradição? Dá pra conciliar os dois?

Sidney: Samba no pé é tudo. E esta expressão está sendo relegada a um plano perigoso. É indispensável que se concilie a beleza plástica alegórica da festa com a arte do passista. Carnaval hoje precisa agradar o público da Sapucaí, a TV e o componente.


CA: O estilo de fazer carnaval de Paulo Barros pode se tornar comum entre as escolas? Agremiações tradicionais como Portela e Império Serrano terão que se adaptar?

Sidney: Não creio. E seria um atraso se isso acontecesse. Paulo Barros é um gênio e precisa continuar este delicioso conflito no seu próprio cérebro de superação a cada ano. Portela é Portela. Vila é Vila. Salgueiro é Sagueiro. Mangueira é Mangueira. Paulo Barros é mais um maestro. E dos bons.


CA: Pra terminar, como você espera que seja o carnaval daqui pra frente? Como serão os desfiles daqui pra frente? Quais escolas são promissoras e poderão estar entre as grandes no futuro?

Sidney: Prefiro pular essa. Não sou a pessoa mais capacitada. Quanto ao nosso site, que tem 4 milhões de leitores, eu te garanto que no carnaval de 2011 terá muito mais. (rs)



O Carnaval de Avenida agradece a participação de Sidney Rezende e o parabeniza pelo excelente trabalho. Pra quem quiser conferir um dos melhores portais de carnaval da Internet, o endereço é www.sidneyrezende.com/editoria/carnavalesco. Vale também visitar as outras editorias do site, muito completas e sobre os mais variados assuntos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Resumo de 2010

Fazendo um panorama geral do carnaval de 2010, pode-se dizer que tivemos um resultado satisfatório. No grupo Especial foi feita justiça. A melhor escola realmente venceu e todas as demais colocações também foram coerentes. Já no Acesso A, a LESGA, liga responsável pelo grupo, se mostra ser uma instituição cada vez mais duvidosa e pode estar com os dias contados. Nos demais grupos, sob responsabilidade da AESCRJ, resultados justos e interessantes, com escolas tradicionais dando a volta por cima e outras se afundando ainda mais. Vamos analisar mais profundamente grupo por grupo.

No Especial, ganhou a campeã do povo. A Unidos da Tijuca foi uma unanimidade para quem acompanhou os desfiles e aclamada por toda a cidade. Venceu com méritos, 74 anos depois de seu único título no grupo principal. Junto com a escola do Borel, voltam ao sambódromo no sábado a Grande Rio, Beija-Flor, Vila Isabel, Salgueiro e Mangueira, para o desfile das campeãs.
Também destaques do grupo, Mocidade e União da Ilha atingiram seus objetivos. A primeira, de reencontrar sua identidade e apagar de vez o terrível desfile de 2009, que quase resultou no rebaixamento da escola. A segunda, de permanecer no Especial, o que poderia ser considerada uma missão impossível já que nos últimos anos a escola que subia sempre caía no ano seguinte. Já a Viradouro, última colocada, vai desfilar no grupo de Acesso em 2011. É até estranho pensar na escola, que foi campeã em 1997, rebaixada. Mas foi merecido.

No grupo de Acesso, a apuração mais polêmica do ano. A São Clemente sagrou-se campeã com notas máximas em todos os quesitos, o que é bem difícil no atual sistema decimal de pontuação. Ao analisar o desfile da escola, também percebe-se que ela não foi tão perfeita assim. As "estranhezas" continuam com o vice-campeonato da Inocentes de Belford Roxo, que era uma das escolas cotadas para o rebaixamento. A desconfiança surge pelo fato de o presidente da Inocentes ser também presidente da Liga das escolas do Acesso. Além disso, agremiações favoritas ao título, como Renascer de Jacarepaguá, Rocinha e Cubango, acabaram em posições bem baixas. O resultado de tudo isso é que alguns presidentes de escolas do grupo teriam se reunido com a diretoria da Liesa pra ver se a instituição tem interesse em assumir também o grupo A. A novela promete... Por hora, São Clemente volta ao grupo Especial e Paraíso do Tuiuti e Unidos de Padre Miguel, esta prejudicada por ter sido a primeira a desfilar, caem para o grupo B.

E no grupo B, a Alegria da Zona Sul sagrou-se campeã, merecidamente. A escola despontou como favorita logo no início da apuração, junto com o Arranco do Engenho de Dentro. No fim, por alguns décimos de diferença, a agremiação de Copacabana levou a melhor e desfila no grupo A ano que vem. Flor da Mina do Andarai, Boi da Ilha do Governador e Unidos do Jacarezinho, com seu polêmico samba sobre Internet, caem pro grupo C e dão adeus à Sapucaí.

No grupo C, que desfila na Intendente Magalhães juntamente com os demais grupos de baixo, a Independente de São João de Meriti foi a vencedora e volta ao Sambódromo, juntamente com a Difícil é o Nome, segunda colocada. Unidos de Cosmos, Acadêmicos do Dendê e Unidos de Manguinhos foram rebaixadas.

No grupo D, vitória da tradicionalíssima Em Cima da Hora e espera-se que agora ela esteja a caminho de recuperar seu verdadeiro lugar no carnaval carioca. A escola sobe de grupo junto com a também tradicional Villa Rica, vice-campeã, e com as duas escolas que ficaram empatadas na terceira posição: Rosa de Ouro e a surpreendente Favo de Acari, que conseguiu seu segundo acesso consecutivo no seu segundo ano de desfile. Nesse mesmo grupo, a Unidos de Lucas amargou seu terceiro rebaixamento consecutivo e desfilará, assim como União de Vaz Lobo e Unidos do Cabral, na última divisão do carnaval carioca ano que vem. Um situação nem um pouco condizente com a história do Galo de Ouro.

E no último grupo, a Leão de Nova Iguaçu, que também não é escola pra desfilar em grupo E, foi a campeã e sobe para o grupo D junto com a recente Império da Praça Seca. A Unidos do Uraiti ficou em último lugar e não desfilará em 2011. As escolas Chatuba de Mesquita e Matriz de São João de Meriti foram aprovadas em seus desfiles de avaliação e passam a integrar a Associação.

Em São Paulo, a Rosas de Ouro venceu depois de um jejum de 16 anos. Junto com a escola, também participam do desfile das campeãs a Mocidade Alegre, Vai-Vai, Gaviões da Fiel e Mancha Verde. Leandro de Itaquera e Imperador do Ipiranga foram rebaixadas, dando lugar à Nenê de Vila Matilde e Unidos do Peruche no grupo Especial.

E esse foi o carnaval de 2010, que ainda pode render bastante, sobretudo no que diz respeito às questões mal resolvidas do grupo de Acesso A do Rio. Além disso, o troca-troca de integrantes das escolas dessa vez começou cedo, mas isso é assunto pra mais tarde. Pra quem ficar com saudades, hoje acontece o desfile das campeãs de São Paulo e amanhã o do Rio. Depois disso, restarão apenas cinzas e algumas brasas incandescentes.

Abre-Alas



Começa o carnaval 2011. Não, não é brincadeira! O carnaval de 2011 começou assim que a última nota do último jurado para a última escola foi lida na apuração de quarta-feira. Muitas pessoas pensam que o carnaval se resume apenas aos cinco dias de fevereiro onde são realizados os desfiles. Mas ele vai muito além. Para realizar o espetáculo que não chega a durar uma hora para as escolas do grupo de acesso, muito trabalho é feito durante o ano todo.
E é isso que este blog vai tentar mostrar. Não apenas com notícias mas também falando sobre o carnaval, que é um assunto vastíssimo e nem sempre bem explorado. Como já devem ter percebido, o foco aqui será o carnaval das escolas de samba, especialmente do Rio de Janeiro mas falarei de outros estados também, principalmente São Paulo. O samba-enredo será especificamente um assunto bastante recorrente, já que é o tema que talvez me interesse mais.

Falando um pouco de mim, me chamo André, tenho 19 anos e sou estudante de Comunicação, da UFRJ. Acompanho carnaval desde 1997 e torço pra Beija-Flor. Mas sei ser imparcial e embora vez por outra eu venha a dar minha opinião pessoal aqui, sei diferenciar torcida de coerência. Acredito ter um bom conhecimento sobre o tema e espero poder proporcionar textos de qualidade.

No mais, só com o tempo vamos ver que rumo este blog vai tomar. Como diz a academia da Tijuca, não espero ser nem melhor nem pior, apenas mostrar o carnaval como vejo, como ele realmente é e como ele pode ir muito além de uma simples festa popular.

O Carnaval de Avenida saúda o povo e pede passagem!