terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Samba de Sampa - 2012

Após apresentar, em 2011, uma de suas melhores safras, o Carnaval de São Paulo volta ter sambas medianos, sem grandes destaques. A safra de 2012 é nivelada por baixo, apesar de conter algumas obras interessantes. Muitos sambas foram prejudicados por seus enredos esdrúxulos, outros não souberam explorar temas bons.

A Vai-Vai, atual campeã, após o histórico samba de 2011, vem com um dos piores de 2012. Patrocinado pela Bombril, o que valeu o verso "é bom brilhar", o enredo sobre as mulheres não teve uma abordagem original ou elaborada. O samba tem alguns momentos melódicos interessantes, mas a letra é muito pobre. A falta de rima no último refrão deu um efeito estranho. Samba bem fraco, abaixo do padrão da escola.

A vice-campeã Tucuruvi, ao contrário da anterior, tem uma das melhores obras do ano. O enredo sobre a África pode ser bem batido, principalmente se levarmos em conta o Carnaval carioca. Mas o samba consegue ter momentos de originalidade, como no final, com o empolgante "ôôô" que leva ao refrão principal, também excelente. O refrão do meio também é muito bom e as variações melódicas de toda a composição são ótimas. Grande samba da Tucuruvi, um dos melhores da escola.

A Vila Maria vai em busca do título inédito com um enredo que envolve mãos, artesanato e era digital, contando ainda com a "tag" #vilamariafeitaàmão no logo do enredo, recurso característico do Twitter. O samba é muito bom, com dois refrões explosivos (apesar do primeiro ter um "que" de oba-oba) e melodia valente. Só no último verso que temos um desfecho melódico mal concluído, mas nada que incomode ou comprometa o conjunto. O termo "online" empobrece a letra, apesar de estar no contexto.

Uma das escolas com melhor safra própria, a Mancha Verde tem o melhor samba de 2012 em São Paulo. Com o enredo sobre a lição de humildade de Odu-Obará, o samba destaca-se pela melodia, bem típica dos sambas paulistanos e muito bonita, dolente e forte. A letra, repleta de nomes de orixás, cumpre seu papel e se adequa à melodia. A interpretação de Freddy Vianna é magistral. E algo louvável na Mancha é o fato de, em nenhum de seus sambas, fazer alusão ao Palmeiras. O vínculo com o clube nunca é demonstrado ou inserido no enredo, o que é muito bom, já que Carnaval não deve se misturar com futebol.

A Gaviões da Fiel, diferente do que faz a Mancha, frequentemente cita o Corinthians em seus enredos. Desta vez, está dentro do contexto, já que a escola homenageará o ex-presidente Lula. Mas o samba, no geral, é fraco. Explora muito pouco e de forma muito simples a vida de Lula, não dando a real dimensão de sua importância para o país. Sem grandes momentos, passa apagado na safra.

O samba da Águia de Ouro sobre a Tropicália cresce na segunda parte, com uma entrada bastante explosiva. A letra desta estrofe também é a melhor parte do samba. Os demais trechos são bastante simples e os refrões não tem muita força. Samba mediano, não se destaca tanto.

A versão concorrente do samba da Mocidade Alegre era excelente, em uma interpretação sensacional de Bruno Ribas. No CD, o limitadíssimo Clóvis Pê tirou muito a força do samba. Com uma interpretação medíocre, deixa a audição cansativa. Tecnicamente o samba é muito bom, mas sua gravação não foi boa. Na versão das eliminatórias, entra na lista dos grandes sambas da Mocidade Alegre. O enredo é sobre Jorge Amado, focando na parte mais mística e religiosa da vida do escritor.

A Rosas de Ouro fará uma homenagem a Roberto Justus com um enredo sobre a Hungria. O samba é fraco, sem momentos marcantes tanto de letra quanto de melodia. Bastante linear, é mais um que não chama atenção e não faz jus à escola. Pode tirar boas notas, pois é correto, mas será esquecido após o Carnaval.

Com um enredo sobre a paz, a Tom Maior vem com um samba muito agradável, bem leve e com algumas boas variações. Conta com uma homenagem ao ex-presidente da agremiação, Marko Antônio da Silva, falecido em maio deste ano, uma das melhores partes da composição. Não é um sambaço mas cumpre seu papel e se destaca na safra.

A X-9 Paulistana apresentará um enredo sobre o Rally dos Sertões, falando sobre os locais do percurso da competição. É um ótimo samba, que melhora depois de alguma audições. O refrão principal é, praticamente, o título do enredo, recurso que não gosto. A primeira parte começa forte e tem boas variações. O "poeira, poeira" da segunda parte, recurso semelhante ao "hey, hey, hey" do samba da Mangueira, é um atrativo a mais na obra.

A sempre injustiçada Pérola Negra tem, como sempre, um dos melhores sambas do ano. Fruto de uma fusão entre as duas obras que mais se destacaram nas eliminatórias, é animado e possui refrões empolgantes para falar da cidade de Itanhaém. Fica um pouco abaixo das últimas obras da Pérola, mas é bom e se destaca na safra.

O Império de Casa Verde, em mais um enredo patrocinado, falará sobre as lentes. A melodia é excelente, mas a letra e pobre e beira o "trash" em alguns momentos, causando uma dualidade estranha. Pena ver uma escola como o Império, que na década passada apresentou tantos bons sambas, precisar de versos como "tô nessa onda de esquimó e vou zoar". Mas a audição vale pela bela melodia.

Campeã do Grupo de Acesso, a Dragões da Real estreia no Especial com um enredo em homenagens às mães. Mas o samba da escola da torcida do São Paulo é o pior da safra. A melodia não tem momentos marcantes e a letra é muito pobre, contando com o verso "tem mãe levando a culpa com os erros do filho no jogo". O refrão principal é a única parte mais interessante, mas no geral o samba é bem ruim.

Voltando à elite, a tradicional Camisa Verde e Branco falará sobre o amor com um samba enorme. A extensa letra, no entanto, é boa, apesar de simples. Conta com alguns clichês que são inevitáveis para o enredo, mas a melodia ajuda muito a deixar a audição interessante, com ótimas variações, sobretudo na segunda parte.

Na opinião do Carnaval de Avenida, este é o ranking dos sambas de São Paulo:

1- Mancha Verde
2- Tucuruvi
3- Mocidade Alegre
4- Vila Maria
5- X-9 Paulistana
6- Pérola Negra
7- Tom Maior
8- Camisa Verde e Branco
9- Águia de Ouro
10- Império de Casa Verde
11- Vai-Vai
12- Rosas de Ouro
13- Gaviões da Fiel
14- Dragões da Real

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

B de decepção

A primeira vez que ouvi um CD com sambas do grupo B foi em 2007. E vários sambaços passaram pela Sapucaí na terça-feira daquele ano, como os de Independente da Praça da Bandeira, Vizinha Faladeira e Inocentes de Belford Roxo. Mas não sei se esse foi um ano atípico ou se a partir daí que a safra da terceira divisão do Carnaval começou a degringolar. Ano a ano, os sambas só caíram de nível, e em 2012 teremos a pior safra desde então.

Na primeira faixa, a primeira grande decepção. A União do Parque Curicica é uma das agremiações que mais gosto, me conquistou com o excelente samba de 2008, sobre a água. E sempre traz bons sambas, além de ser uma escola promissora, já tendo batido na trave do acesso algumas vezes. O samba de 2012 é bem mediano. Tem alguns poucos momentos interessantes de melodia e uma letra bem fraca, com uma segunda parte imensa. O verso "mas todo cuidado é pouco quando rola um carteado" é só um dos exemplos da pobreza do samba.

Em seguida, temos a Unidos de Padre Miguel, que pelo segundo ano consecutivo vem com um dos mais fracos sambas do grupo. Burocrático até dizer chega, não tem nenhum atrativo. Letra chata e melodia cansativa. Outra decepção, já que depois de ouvir os sambas de 2007 e 2008 da vermelha e branca, sempre vamos esperar obras no mesmo nível.

A faixa do Arranco é um alívio. A escola, pelo segundo ano seguido, traz um dos melhores sambas do grupo, mas, infelizmente, em 2012 isso não quer dizer muita coisa. Não é uma maravilha mas é uma boa obra para um enredo "repetido", já que o Arranco também fez um desfile sobre a dança em 2008. O refrão do meio é muito bom, a melhor parte.

Em seguida, outra decepção de outra escola que gosto bastante. O Sereno de Campo Grande, mais uma agremiação promissora, vem com um samba bem aquém do que tem feito nos últimos Carnavais, sobre um enredo que proporciona grandes possibilidades poéticas: a noite. Mas a obra é medíocre e conta com versos como "seja no luxo ou na roça, é pra curtir". A melodia tem algumas partes legais, mas não compensam.

A União de Jacarepaguá tem o melhor samba do Grupo B. Fruto de uma fusão de TRÊS sambas, possui uma melodia bem interessante, com momentos bem bacanas, sobretudo na primeira parte. E é encorpado, sem versos pobres. Não é maravilhoso mas fica bem acima dos demais.

A Tradição conseguiu a façanha de ter um samba onde TODOS, SIMPLESMENTE TODOS os versos possuem A MESMA melodia. O que muda é o tom, mas a melodia de todos é igual. Isso fica bem claro na segunda parte, onde os versos são pausados no meio. Na primeira é menos perceptível porque os versos foram fragmentados. Mas o samba todo tem apenas uma melodia. Expressões como "ziraldar" e "comequieto" terminam de destruir a obra. Desta vez a encomenda não deu certo. E é frustrante, já que em 2011 a escola apresentou um dos melhores sambas do ano.

A Difícil é o Nome é uma decepção porque podia ter o melhor samba do grupo, disparado. A obra concorrente de Diego Nicolau era sensacional, não entendo porque não venceu. Ao invés disso, a escola resolver fazer o de sempre e levar pro desfile um samba bem fraco. Incompreensível.

Sobre a Mocidade de Vicente de Carvalho, não consigo acreditar que este seja o melhor que sua ala de compositores possa oferecer. Pior do ano.

A Caprichosos, como se esperava, vem com um samba repleto de versos para elevar a sua auto-estima. Esperava um pouco mais, mas o samba acaba se destacando na péssima safra. O refrão principal é viciante e muito bem sacado com seu "quem comeu, comeu, quem não comeu não come mais". A segunda parte é razoável. E só.

O samba da Alegria da Zona Sul também se destaca pelo nível da safra ser fraco. A melodia tem variações bem interessantes e diferentes. Na segunda parte há trechos que parece que atravessam o samba. Mas acredito (e espero) que sejam apenas desenhos menos comuns. A letra fica abaixo da melodia mas não é de todo ruim.

Fechando o CD, a Vila Santa Tereza volta à Sapucaí com um samba fraco para um enredo que não ajuda: os brinquedos. Uma clara intenção de fazer um desfile leve e de fácil compreensão. O samba, fruto de fusão, leva a assinatura de Cláudio Russo. Mas a letra é pobre e possui versos sem nexo, soltos, como no refrão principal: "Hoje eu quero brincar, amor/ Sou Santa Tereza/ Encantar seu coração/ Aperte o play da diversão". De interessante, a melodia do refrão do meio.

Safra tenebrosa para um grupo que tende a ficar cada vez mais competitivo. As escolas precisam abrir o olho, porque com o enxugamento de grupos que vem sendo planejado, cada quesito vai ser de suma importância para quem quiser continuar na Sapucaí e almejar degraus mais altos. Enredos melhores e sambas melhores. Não custam caro e nós gostamos. Vocês são capazes de fazer bem mais do que isso ai.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Algumas coisas...

...Vão dar uma mudada por aqui.

Não posto há algum tempo porque o fim do período tomou bastante do meu tempo.

Mas a partir desta semana pretendo retomar.

Mas de uma forma diferente. Talvez um pouco mais informal, mais opinativa e falando sobre mais assuntos.

Na verdade não sei bem, mas vamos vendo como fica.

Peço desculpas às escolas que não tiveram seus sambas-enredo analisados nos mesmos moldes das outras: Cubango, Mocidade, União da Ilha, Imperatriz, Beija-Flor, Santa Cruz, Viradouro, Império da Tijuca, Estácio e Inocentes.

Ainda falarei deles, claro, mas de outra forma. Assim como também falarei novamente sobre as demais, já que, agora, com CD's lançados, algumas impressões mudaram.

E é isso aí, ainda esta semana volto pra falar sobre o CD do Especial.

Abraços!

"Corra e olhe o céu
Que o sol vem trazer
Bom dia..."

sábado, 5 de novembro de 2011

Samba-enredo 2012 - Acadêmicos do Grande Rio


Para mostrar toda a sua superação, a Grande Rio levará para a Sapucaí o samba de Edispuma, Foca, Licinho Jr. e Marcelinho Santos, campeões pelo segundo ano consecutivo. Favorito desde o início da disputa, inclusive sendo apontado pelo Carnaval de Avenida como aposta para a vitória, o samba conquistou a torcida e os componentes da tricolor de Caxias em uma safra que não possuia muitos concorrentes a altura.

"Quem me viu chorar, vai me ver sorrir" é o cartão de visitas do samba. Um dos refrões mais fortes do ano, onde a escola mostra a que veio. A palavra "desafio", que a princípio pode soar meio forçada, apenas para rimar com Grande Rio, pode fazer uma menção à uma exaltação à escola, que inclusive abre a faixa gravada pelos compositores: "se for falar de amor, aceito o desafio...". A letra da obra é uma verdadeira prece motivacional, que mexe ainda mais com os brios por ser em primeira pessoa, inserindo quem canta no contexto do enredo. E é emocionante para quem se identifica de alguma forma com as histórias de superação, criando uma grande identificação do público com a escola.

Assim como a sinopse, o samba é bastante subjetivo. A escola irá homenagear diversas personalidades, mas nenhuma delas é explicitamente citada. Após a escolha da obra vencedora, a direção da agremiação optou por fazer uma pequena mudança no verso "faço da vida um grande festival". Trocou para "em Parintins, um grande festival", em menção ao levantador de toadas David Assayag, homenageado no enredo. É o único personagem mais claramente identificado. Algo um pouco injustificável, já que Parintins, como todo o resto, já estava subjetivamente incluso na letra, justamente no verso do festival. Além disso, os versos anteriores já poderiam ser entendidos como menção à David, que é deficiente visual: "posso enxergar, sei que meu coração vai me guiar". Do jeito que ficou, acabou destoando um pouco, já que é a única parte objetiva da obra, e deu a David mais destaque que aos outros.

A melodia se destaca nos dois refrões, onde ganha mais força. Na passagem do refrão para o início da primeira parte, há uma mudança mais brusca no ritmo, que dá uma caída. Mas segue corretamente em toda a extensão da obra, não sendo linear e encaixando muito bem na voz do intérprete Wantuir, algo que os últimos sambas da Grande Rio não tinham conseguido perfeitamente. Sendo a última escola a desfilar, a tricolor possui um samba com capacidade de manter a animação do público e dos componentes, sendo mais suave mas com momentos de explosão.

A mensagem de superação da Grande Rio irá encerrar os desfile do Grupo Especial do Rio. Certamente é uma das escolas mais aguardadas, por todas as dificuldades que passou no último Carnaval. A apresentação promete ser emocionante, até pelo fato dos desfiles da escola serem sempre muito bons e cada vez mais a aproximam do título. Com todo a aura emocional que a envolverá, é muito provável que virá bastante forte. "Eu tô sentindo que chegou a nossa hora" é o que diz o samba. E é melhor não duvidar dos "guerreiros do bem" de Caxias.

ACADÊMICOS DO GRANDE RIO - 2012




Enredo: Eu acredito em você! E você?
Compositores: Edispuma, Foca, Licinho Jr. e Marcelinho Santos

A luz que vem do céu
Brilhou no meu olhar
Trazendo a esperança
Que os anjos vêm anunciar
Lutar sem desistir
Das cinzas renascer
Eu encontrei na fé
A força pra vencer
A felicidade mandou avisar
É preciso superar

Derrubar o “gigante” eu vou
É lição de coragem e amor
Eu sou “guerreiro do bem”, vou caminhar
A minha história vai te emocionar


A arte de viver
É aprender no dia a dia
Usando a imaginação
Ao som da melodia
Posso enxergar
Sei que meu coração vai me guiar
Eu sigo em frente sem desanimar
Em Parintins, um grande festival
Acreditar que pra sonhar não há limitações
A “roda gira” e traz a solução
Me dê a sua mão por liberdade
Sou brasileiro, mandei a tristeza embora
Eu “tô” sentindo que chegou a nossa hora

Quem me viu chorar, vai me ver sorrir
Eu acredito em você pro desafio
E abro meu coração, cantando a minha emoção
Superação é o carnaval da Grande Rio

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Samba-enredo 2012 - Unidos de Vila Isabel


O canto livre de Angola vai ser embalado pelo samba de André Diniz, Arlindo Cruz, Artur das Ferragens, Evandro Bocão e Leonel. A parceria multicampeã levou mais uma, com um dos melhores sambas do Carnaval 2012. Era a obra apontada como favorita pelo Carnaval de Avenida e teve vitória relativamente fácil, sobrando nas apresentações na quadra.

O samba tem uma letra muito forte e imponente. Começa tirando um pouco o foco do enredo e fazendo menção à "Kizomba", enredo de 1988 da Vila, que deu o primeiro título à escola. Sem dúvidas é uma passagem que mexe com os brios dos componentes. O fim da estrofe tem uma variação muito boa, mais afro, que é quase uma conclamação. Aliás, o samba é todo feito para se bater no peito e cantar: "somos a pura raíz do samba", "somos cultura que embarca", "temos o sangue de Angola correndo na veia", "vibra, oh, minha Vila". Não faltam versos aguerridos, que dão ainda mais imponência ao samba e contagia quem canta.

A estrutura da composição é diferenciada, contendo apenas com um refrão. A estrofe central não se repete, o que dá ainda mais dinamismo e fluência ao canto. Ao final da segunda parte, o momento de maior risco da obra: os contracantos. Os últimos versos possuem trechos entre aspas, com melodia diferente, para serem cantados pelo coro em resposta ao intérprete. Algo que pode tirar o sono dos diretores de harmonia, mas que, se der certo, poderá proporcionar um efeito muito bonito. A primeira versão do samba de Martinho da Vila para o enredo sobre Noel Rosa, em 2010, também possuia contracantos. Eram bem mais complexos que os do samba de 2012 e acabaram sendo excluidos ainda no início das eliminatórias. Desta vez, a escola vai arriscar.

O único refrão é a parte mais suave do samba. Apesar de ser bastante melodioso e até dolente, possui ritmo bem marcado e forte como a letra. O enredo é bem contado e de fácil compreensão, até pelo fato da história dos escravos vindos da África para o Brasil e dando origem ao samba já ser mais do que conhecida pelos sambistas. No último verso, lembrança a Martinho da Vila, grande baluarte da escola, que é Embaixador Cultural de Angola no Brasil.

Dando sequência a sua brilhante safra recente, a Vila Isabel novamente apresenta uma obra de muita qualidade. Muitos torceram o nariz para mais uma vitória de André Diniz, mas é inegável que os sambas de sua parceria são sempre excelentes. Não há como contestar qualquer uma de suas vitórias. Em 2012, a Vila terá uma oportunidade única: ser a última a desfilar em um dia com sete escola se apresentando. Com 13 escolas no Especial devido à ausência de rebaixamento em 2011, o domingo de Carnaval terá sete escolas, como antigamente. Logo, a escola de Noel provavelmente desfilará já com dia claro. Com o enredo e o samba que tem, o público que permanecer na Sapucaí para prestigiar a azul e branca certamente presenciará um dos momentos mais bonitos do Carnaval 2012.

UNIDOS DE VILA ISABEL - 2012




Enredo: Você semba lá... Que eu sambo cá! O canto livre de Angola
Compositores: André Diniz, Arlindo Cruz, Artur das Ferragens, Evandro Bocão e Leonel

Vibra, oh, minha Vila
A sua alma tem negra vocação
Somos a pura raiz do samba
Bate meu peito à sua pulsação
Incorpora outra vez Kizomba e segue na missão
Tambor africano ecoando, solo feiticeiro
Na cor da pele, o negro
Fogo aos olhos que invadem
Pra quem é de lá
Forja o orgulho, chama pra lutar

Reina ginga ê matamba, vem ver a lua de Luanda nos guiar
Reina ginga ê matamba, negra de Zambi, sua terra é seu altar

Somos cultura que embarca
Navio negreiro, correntes da escravidão
Temos o sangue de Angola
Correndo na veia, luta e libertação
A saga de ancestrais
Que por aqui perpetuou
A fé, os rituais, um elo de amor
Pelos terreiros (dança, jongo, capoeira)
Nascia o samba (ao sabor de um chorinho)
Tia Ciata embalou
Com braços de violões e cavaquinhos a tocar
Nesse cortejo (a herança verdadeira)
A nossa Vila (agradece com carinho)
Viva o povo de Angola e o negro Rei Martinho

Semba de lá, que eu sambo de cá
Já clareou o dia de paz
Vai ressoar o canto livre
Nos meus tambores, o sonho vive

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Samba-enredo 2012 - Unidos da Tijuca


Luiz Gonzaga será coroado rei do sertão ao som do samba de Vadinho, Josemar Manfredini, Jorge Calado, Silas Augusto e Cesinha. A parceria encerrou a supremacia de Julio Alves e Totonho na Unidos da Tijuca, conquistando a torcida e fazendo apresentações arrebatadoras na quadra. O Carnaval de Avenida destacou a obra como uma das melhores da disputa na agremiação do Borel.

A letra é mais elaborada e menos subjetiva do as dos últimos sambas da Tijuca. Não depende do desfile para se fazer entender, até pelo enredo ser diferente do que Paulo Barros vinha apresentando. Há certo exagero na utilização dos termos e expressões nordestinas. Apesar de serem pertinentes, podem causar certa confusão e serem cantadas de forma errada. Trechos entre aspas também são recorrentes, fazendo alusão às canções de Luiz Gonzaga. Também estão adequados ao enredo mas simbolizam certa falta de criatividade, já que são versos prontos apenas encaixados na letra.

Apesar de não ser forte poeticamente e não ter momentos expressivos, se destaca por sua melodia. Sempre pra cima e com boas variações, torna a obra contagiante e a destaca entre os demais sambas do ano. O único trecho menos agradável é o refrão principal, que tem um tom elevado demais, sendo cantado quase que aos berros. Mas é algo que pode ser corrigido na versão definitiva, inclusive se adequando mais a voz de Bruno Ribas.

Os trechos com aspas acabam se destacando melodicamente, por lembrarem as músicas de Luiz Gonzaga em ritmo semelhante às mesmas. O "chuva, sol" da primeira parte e o "simbora que a noite já vem, saudades do meu São João" da segunda são os momentos de melhor variação, tendo até um caráter mais dolente que os demais versos. No conjunto, é bastante correta e adequada a um enredo leve e bem animado. Um desafio para a escola e seu carnavalesco, que viverão uma mudança estilística brusca do que vinham fazendo.

Apesar de provavelmente não fazer parte dos grandes sambas tijucanos, a obra de 2012 é uma evolução no engessamento que a escola estava impondo a si mesma. A começar pela derrota dos compositores que sempre venciam, apesar do samba deles ter sido um dos melhores que já fizeram. Bem aceito pela comunidade e imensamente melhor que o de 2011, tem capacidade de crescer e ser um dos destaque do ano. Algumas pequenas alterações na letra foram feitas, já presentes na versão abaixo. O áudio ainda é o dos compositores.

UNIDOS DA TIJUCA - 2012




Enredo: O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão
Compositores: Vadinho, Josemar Manfredini, Jorge Calado, Silas Augusto e Cesinha

Nessa viagem arretada
“Lua” clareia a inspiração
Vejo a realeza encantada
Com as belezas do Sertão
“Chuva, sol”, meu olhar
Brilhou em terra distante
Ai, que visão deslumbrante, se avexe não
Muié rendá é rendeira
E no tempero da feira
O barro, o mestre, a criação

Mandacaru, a flor do cangaço
Tem “xote menina” nesse arrasta pé
Oh! Meu Padim, santo abençoado
É promessa, eu pago, me guia na fé


Em cada estação, a “triste partida”
Eu vi no caminho vida severina
À margem do Chico espantei o mal
Bordando o folclore, raiz cultural
Simbora que a noite já vem, “saudades do meu São João”
“Respeita Véio Januário, seus oito baixo tinhoso que só”
“Numa serenata” feliz vou cantar
No meu Pé de Serra festejo ao luar
Tijuca, a luz do arauto anuncia
Na carruagem da folia, hoje tem coroação

A minha emoção vai te convidar
Canta Tijuca, vem comemorar
“Inté Asa Branca” encontra o pavão
Pra coroar o “Rei do Sertão”

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Samba-enredo 2012 - Unidos do Porto da Pedra


"Para o deleite e a emoção no Carnaval", o samba de Vadinho, Fernando "Macaco", Tião Califórnia, Cici Maravilha, Denil e Oscar Bessa será a trilha do desfile da Porto da Pedra sobre o iogurte. Era a aposta do Carnaval de Avenida e um dos poucos sambas que conseguiram transformar a fria e pouco carnavalesca sinopse da escola numa composição agradável e até mesmo com toques poéticos.

Depois de escolhido o samba, a escola realizou algumas mudanças na letra que o melhoraram consideravelmente. Os versos "Dá nome a sobremesa popular", que fazia um trocadilho com Danone, patrocinadora da escola, e "ativa as funções vitais", que pode se associar à necessidades fisiológicas, foram cortados. O único verso duvidoso mantido foi o último, "iogurte é leite, tem saúde e muito mais", que provavelmente foi uma exigência do patrocinador, já que estava presente em todos os sambas concorrentes. "Seio jorrando amor" também é uma passagem um tanto quanto curiosa. A primeira parte é o melhor momento textual do samba, quando são lembradas histórias e lendas envolvendo o leite, deixando o enredo mais interessante.

Apesar do enredo em si não ser dos melhores, está bem contado e é de fácil entendimento a partir do samba. A primeira parte trata do leite e sua simbologia e relevância mundial e a segunda do alimento como é consumido nos dias de hoje. O refrão do meio consegue retratar, de forma bem sutil, alguns pontos esdrúxulos da sinopse, como os alimentos derivados do leite.

A melodia é o mais interessante desta obra. Alterna momentos mais explosivos com outros mais dolentes. O refrão principal é forte e empolgante. Já a primeira parte é mais melodiosa, com notas alongadas e boas variações. Aliás, uma das qualidades deste samba é não ser constante, sempre alternando os desenhos melódicos. O único momento mais arrastado era justamente nos versos eliminados na versão oficial. E na nova versão alguns trechos também tiveram sua melodia modificada, mas a escola não fez nenhum tipo de divulgação do áudio oficial, então não é possível fazer uma análise mais profunda. Mas no curto vídeo do coro da escola na gravação do CD, é possível ver que houve melhora. Veja o vídeo aqui.

A Porto da Pedra foi muito criticada (inclusive por este blog) quando divulgou seu enredo e sua sinopse. Um desfile patrocinado sempre torna sua elaboração menos natural, com interferências e imposições dos patrocinadores. A sinopse pouco poética e muito objetiva, aliada ao tema pouco literário, contribuiram para essa "torção de nariz" generalizada. Apesar do samba não se destacar na safra, alivia um pouco a tensão, já que é uma boa obra e tende a crescer com as modificações. Ainda não foi o suficiente para a escola ficar de bem com os sambistas, mas ao menos está fazendo o possível para o iogurte não azedar.

O áudio abaixo ainda é o antigo, na versão dos compositores. A letra já está na versão oficial, com as modificações.

UNIDOS DO PORTO DA PEDRA - 2012




Enredo: Da seiva materna ao equilíbrio da vida
Compositores: Vadinho, Fernando "Macaco", Tião Califórnia, Cici Maravilha, Denil e Oscar Bessa

Poema à vida e ao seio jorrando amor
A seiva materna
Meu Porto da Pedra alimentou
Hera gera o caminho das estrelas
Mãe loba amamentou o grande império
Mistério no deserto da solidão
O mercador viu a transformação
Do leite em primeira iguaria
A fé se envolveu e foi saborear
Na história, a humanidade vive a cultuar
A dádiva que fez o animal sagrado
Fermentou fartura e saber
Fonte rica de prazer

No calor dessa receita, deixa provar
A combinação perfeita ao paladar
A essência é derivada da mistura dos sabores
É no mel que se adoça a magia dessas cores


Seguiu o alimento vencendo batalhas
Esse doce sabor pelo mundo
Com o tempo rompendo muralhas
Brilhou à luz da civilização
Pelos mares navegou
Embalando a evolução
Leveza, o equilíbrio se traduz em beleza
Do dia a dia me refaz
Iogurte é leite, tem saúde e muito mais

Vem no ritmo do tigre de São Gonçalo
Alimenta seu povo apaixonado
Cada porção traz um cuidado especial
Para o deleite e a emoção no carnaval

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Samba-enredo 2012 - São Clemente


A aventura musical da São Clemente será embalada pelo samba de Flavinho Segal, FM, Grey, Guguinha, Marcos Antunes, Ricardo Góes, Serginho Machado e Vânia. O Carnaval de Avenida destacou a obra como uma das melhores da safra da preta e amarela, mas entre os finalistas era a menos cotada como possível vencedora.

A letra está longe de ser um primor poético, mas cumpre bem a sua função e tem a irreverência típica da agremiação. Apesar de ainda ser um sopro do que a São Clemente já foi, é bom ver a escola novamente apostar num samba que tenha a sua cara. Logo no refrão já é possível ver que não se trata do samba de uma escola qualquer. "Tem bububu no bobobó/ sem sassarico é o 'ó'/ bumbum de fora, pernas pro ar/ Bravo, a São Clemente vai passar" são os versos que abrem a obra clementiana. Muito criticado por alguns, é bastante popular e pode "pegar". O restante do samba é textualmente correto, tendo no refrão central um dos momentos mais expressivos. A segunda parte conta ainda com um infame trocadilho no verso "Puxa, aqui Paris é avenida".

Musicais relacionados na sinopse, como "O Fantasma da Ópera", "A Noviça Rebelde" e "O Violinista no Telhado", são facilmente identificados na letra, apesar da boa sinopse apresentada pela escola merecer um pouco mais de ousadia e criatividade. Apesar de não ser uma letra certinha, ficou um pouco óbvia. A "aventura musical" não tem, no samba, uma linha sequencial definida. Vai narrando imagens baseadas na sinopse, mas que não se conectam. A abordagem poderia ser um pouco mais profunda, com uma letra mais inteligente e elaborada.

A melodia é bem gostosa de ouvir, pra cima e animada. O refrão do meio é, novamente, o grande destaque nesse aspecto, além do principal, que é do tipo que "gruda". O começo da primeira parte também é melodicamente forte. No restante, poucas variações. Simples e leve, com a cara da São Clemente, que não costuma apostar em melodias muito elaboradas ou letras rebuscadas.

Na bela safra de 2012, o samba não se destaca tanto, mas o "bububu no bobobó" já está dando o que falar. Longe de ser apontada como favorita ao título, a São Clemente levará para a Avenida um samba despretensioso, pra brincar e sassaricar no Carnaval. Desfilando por dois anos consecutivos no Grupo Especial pela primeira vez em anos, a escola de Botafogo, que não é mais em Botafogo, tem como meta tentar a permanência, contrariando todas as perspectivas.

SÃO CLEMENTE - 2012




Enredo: Uma aventura musical na Sapucaí
Compositores: Flavinho Segal, FM, Grey, Guguinha, Marcos Antunes, Ricardo Góes, Serginho Machado e Vânia

Prepare o seu coração
É pura emoção
A sirene acabou de tocar (U-lá-lá)
A orquestra começou
E entoou o meu cantar
Um violino anuncia
Vem viajar na magia
Do meu cabaré, com samba no pé
Vem exibir, pode aplaudir
Será que é sonho meu?
Sucesso aqui vou eu

Põe a máscara pra mim
Vem comigo, a hora é esta
Não sei viver sem você
És o artista, faz a nossa festa


De tudo aconteceu
Puxa! Aqui Paris é avenida
Hoje o malandro sou eu
Vi a tristeza feliz da vida
Dei um susto, o fantasma sumiu ( Búuu )
Sou irreverente
Se o samba empolgou, virou carnaval
Nossa aventura musical
Noviça dançou ao som da canção
E conquistou meu coração

Tem bububu no bobobó
Sem sassarico é o “ó”
Bumbum de fora, pernas pro ar
Bravo!!! A São Clemente vai passar

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Samba-enredo 2012 - Portela


O que começou como um fenômeno da Internet tem tudo para ser um dos grandes sambas de enredo do Carnaval carioca. Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento e Naldo são os autores do samba da Portela para 2012. Era a aposta do Carnaval de Avenida como favorito. Era a aposta de todos os sambistas que viam nessa obra um sopro de esperança, não só para a própria Portela, mas para o gênero samba-enredo.

A letra é uma poesia, como há muito não se via. Falando sobre as festas da Bahia, tendo Clara Nunes como guia, o enredo consegue ser assimilado facilmente. Possui uma estrutura diferenciada, com três refrões, sendo o primeiro deles um dos momentos de maior inspiração na safra de 2012: "No mar/ procissão dos navegantes/ eu também sou almirante/ de nossa senhora Iemanjá". Uma brilhante sacada para mostrar a equivalência entre Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá. O final do samba é outro excelente trecho, que faz, praticamente, um resumo do enredo. A obra se encerra de forma magistral: "Vestido de azul e branco/ eu venho estender o nosso manto/ aos meus santos do samba que são orixás".

A melodia remete a composições antigas, sem variações mirabolantes, porém bem trabalhadas e bastante agradáveis. Os dois refrões internos se destacam e se parecem, tendo um prolongamento no primeiro verso e sendo mais rápidos nos demais. O ritmo da terceira estrofe, com versos bem curtinhos, tem um toque afro bem interessante. O alerta para a harmonia da escola fica por conta do refrão principal, que é a parte mais acelerada. Isso dificulta um pouco o canto, sobretudo em "Madureira sobe o pelô". Quando cantado em coro, pode acabar embolando um pouco.

Alguns ajustes já foram feitos na melodia original. Em certos trechos o tom foi levantado, visando enfatizar a obra e até mesmo facilitar o canto. A letra também sofreu algumas pequena alterações. O áudio abaixo já conta com todas as mudanças, além de ser interpretado pelo intérprete oficial da escola, Gilsinho.

No mais, é apreciar este verdadeiro sambaço da Portela, que há muitos anos não apresentava um samba digno de sua majestosa safra. Independente do que aconteça no dia do desfile, certamente é um dos sambas que ficará marcado no Carnaval 2012. E, quem sabe, sirva de exemplo para que outras escolas também se libertem das convenções e engessamentos dos sambas de enredo atuais. Na brilhante safra de 2012, a obra da Águia de Madureira já vem sendo considerada por muitos como a melhor do ano.

PORTELA - 2012




Enredo: ...E o povo na rua cantando é feito uma reza, um ritual...
Compositores: Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento e Naldo

Meu rei
Senhor do Bonfim alumia
Os caminhos da Portela
Que eu guardo no meu patuá
Eu vim na proteção dos meus guias
Com Clara guerreira à Bahia
Cheguei, eu cheguei pra festejar
Deixa lavar nos altares e terreiros
Tem jarro com água de cheiro
Vou jogar flores no mar

No mar
Procissão dos navegantes
Eu também sou almirante
De nossa senhora Iemanjá


Vou no gongá
Bater tambor
Rezo no altar
Levo o andor
Vem chegando os batuqueiros
Desce a ladeira, meu amor
Que a patuscada começou
Eu vim pra rua
Onde o samba de roda chegou

Iaiá
De saia rendada em cetim
Bota o tempero na festa
Oi, tem abará e quindim


Portela cheia de encantos
Acolhe a Bahia em seu canto
Com festas, rezas, rituais
Vestido de azul e branco
Eu venho estender o nosso manto
Aos meus santos do samba que são Orixás

Madureira sobe o Pelô... Tem capoeira
Na batida do tambor... Samba Ioiô
Rola o toque de Olodum... Lá na Ribeira
A Bahia me chamou

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Samba-enredo 2012 - Acadêmicos do Salgueiro


O cordel salgueirense será embalado pelo samba dos compositores Diego Tavares, Dílson Marimba, Domingos PS, Marcelo Motta, Ribeirinho e Tico do Gato. Era a obra preferida pela maioria das pessoas, fato demonstrado na final das eliminatórias, quando o vencedor foi o mais cantado na quadra, e o que mais empolgou. Era o samba em que o Carnaval de Avenida apostava como favorito.

Como a maioria dos sambas que falam sobre o Nordeste, este também possui diversas expressões típicas, como "vixe maria", "não se avexe não", "oh meu padinho", etc. A letra não é tão poética, até porque o enredo não pede isso, mas possui boas sacadas e riqueza de informações. O Salgueiro, desde o ano passado, parece que decidiu abandonar o estilo de sambas "oba-obas", que refletiam a eterna tentativa de repetir o sucesso do "Ita", de 93. Com o sucesso da composição de 2011, uma das melhores do ano, os compositores da Academia resolveram investir mais na qualidade melódica e textual, e o resultado foi uma das melhores safras recentes da escola.

O único pecado na letra do samba é o verso "é carnaval, é carnaval", mais pobre que o conjunto, sem uma necessidade específica. O trecho seguinte, no final da segunda parte, é um dos mais bonitos. O refrão do meio não é muito elaborado, sendo bem curtinho e com versos pouco desenvolvidos. Mas acaba sendo um dos trechos mais fortes em melodia.

A melodia, aliás, também é muito melhor que a dos sambas que o Salgueiro vinha apresentando. Novamente, a exemplo de 2011, mostra que os compositores não estão mais se prendendo ao modelo "Ita". O refrão do meio, como foi dito, é uma das partes de maior destaque, muito empolgante e explosivo. Mas empolgação com qualidade, afinal é possível aliar as duas características. A segunda parte também é muito forte, com um variações muito boas no ritmo de forró nos versos "oh meu padinho venha me abençoar/ meu santo é forte, desse cão vai me apartar". O refrão de baixo também se destaca melodicamente, sendo bastante explosivo.

O enredo está bem abordado, sendo fácil identificar personagens típicos, como Lampião e Antônio Conselheiro, e histórias da literatura de cordel, como "Os Doze Pares de França" e "O Pavão Misterioso". Na cabeça do samba está a imagem da feira, onde são vendidos os cordeis, dando uma boa sequência lógica à narrativa do enredo, apesar dos versos não serem sempre encadeados. Em alguns momentos há um "que" de Unidos da Tijuca, onde o desfile poderá proporcionar uma melhor compreensão, apesar de não ser crucial na interpretação.

Muito bom tecnicamente, fácil de cantar e sem perder a animação característica da escola, o Salgueiro deve emplacar mais um sucesso no Carnaval. Seguindo o lema da escola, a obra da Academia para 2012 não é melhor nem pior que as demais, é apenas diferente e muito boa.

ACADÊMICOS DO SALGUEIRO - 2012




Enredo: Cordel branco e encarnado
Compositores: Diego Tavares, Dílson Marimba, Domingos PS, Marcelo Motta, Ribeirinho e Tico do Gato

Sou "Cabra da Peste"
Oh, minha "fia", eu vim de longe pro Salgueiro
Em trovas, errante, guardei
Rainhas e reis e até heróico bandoleiro
Na feira vi o meu reinado que surgia
Qual folhetim, mais um "cadim, vixe maria!"
Os doze do imperador
Que conquistou o romanceiro popular
Viagem na barca, a ave encantada
Amor que vence na lenda
Mistério pairando no ar

Cabra macho justiceiro
Virgulino é Lampião
Salve, Antônio Conselheiro
O profeta do sertão


Vá de retro, sai assombração
Volta pra ilusão do além
No repente do verso
O "bicho" perverso não pega ninguém
Oh, meu "padinho", venha me abençoar
Meu santo é forte, desse "cão" vai me apartar
Quero chegar ao céu num sonho divinal
É carnaval! É carnaval!
Salgueiro, teus trovadores são poetas da canção
Traz sua corte, é dia de coroação
Não se "avexe" não

Salgueiro é amor que mora no peito
Com todo respeito, o rei da folia
Eu sou o cordel branco e encarnado
"Danado" pra versar na Academia

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Samba-enredo 2012 - Renascer de Jacarepaguá



O samba que dará o tom do desfile da Renascer em sua estreia no Grupo Especial foi composto por Adriano Cesário, Claudio Russo, Fábio Costa e Isaac. Na mediana safra da escola, era a melhor opção, inclusive sendo indicado como o favorito pelo Carnaval de Avenida.

A letra da composição era a mais poética da disputa. Um bom trabalho dos compositores para um enredo difícil e pouco abrangente. Apesar da vida do artista plástico Romero Britto ser um tema original e inédito, ficou nítido na sinopse a falta de assunto para preencher um desfile inteiro de Grupo Especial. E apesar da dificuldade em transformar as passagens da vida de Romero em imagens poéticas, o resultado do samba escolhido foi bastante satisfatório. O termo "pop arte", no início da segunda parte, destoa um pouco dos demais. Poderia não ter sido utilizado tão diretamente, apesar de ser o foco do trabalho de Romero. Uma das partes mais bonitas é o trecho sobre Recife, no final do samba.

É, inclusive, curiosa a menção à terra natal de Romero apenas no final, já que, normalmente, os enredos biográficos se iniciam pela cidade dos homenageados. Nesse caso, aparece no final representando a saudade do pintor, uma boa sacada. A relevância de Romero Britto não está em algum grande feito de sua vida e sim em suas obras. O modo como ele as produz ganhou um grande destaque, sobretudo na primeira parte. Assim como na sinopse, o samba tenta dar um ar de divindade ao talento de Romero em passagens que, apesar de bonitas, soam um tanto quanto forçadas. A exposição de seus trabalhos em Paris talvez seja o maior dos fatos retratados pelo enredo, e é citado no verso "tal qual as telas na cidade luz". A falta de assunto acaba resultando em versos que não são muito contextualizados, como "dar ao papel a emoção que seduz" ou "o faz buscar em cada cor o infinito".

A melodia segue os moldes das últimas composições apresentadas pela Renascer, mais pesada e com variações marcantes. A primeira aparece logo no primeiro verso, começando o samba com bastante força. O quarto verso do refrão do meio também apresenta um desenho diferenciado, apesar do refrão em si não ser tão expressivo. Da metade para o final da segunda parte, o samba volta a ganhar mais força, terminando de forma emocionante no trecho sobre Recife, que é o melhor momento da obra. A passagem para o refrão principal é bem feita e este, por sua vez, também se destaca no conjunto. Empolga e é textualmente interessante, principalmente no verso "no tom da folia vou me apresentar", que também pode simbolizar a apresentação da escola ao público, já que muitas pessoas podem não conhece-la por não ser tão famosa e nunca ter desfilado no grupo principal.

Com a sempre dura missão de abrir os desfiles, a Renascer tem um samba até mais pra baixo do que o recomendado. Mas é uma obra de qualidade, que faz jus à sua safra. Quem já acompanha a algum tempo o trabalho da escola no Grupo A, sabe que, em matéria de samba, ela é sempre um dos destaque do ano. Considerada promissora, terá, enfim, a chance de mostrar seu valor entre as grandes e apresentar a "galeria Jacarepaguá" para o mundo.

RENASCER DE JACAREPAGUÁ - 2012




Enredo: Romero Britto, o artista da alegria dá o tom na folia
Compositores: Adriano Cesário, Claudio Russo, Fábio Costa e Isaac

Esse dom que faz o artista imortal
É luz do céu para pintar
A Renascer no carnaval
O faz buscar em cada cor o infinito
Acreditar, Romero Britto
Que Deus mora na inspiração
Em páginas, arte que viu
O inverso se abriu, presente de irmão
Contraste que se refletiu
Universo do artista, outra direção

Nas cores de sua aquarela
Valores brincando na tela
Aquele abraço desenhar
Gira o compasso, eu quero outra vez sambar


Sensibilidade, pop arte ao mundo espalhou
Sorrir é brilhar
Dar ao papel a emoção que seduz
Eu sei que a arte vai reinar
Tal qual as telas na cidade luz
Do alto do morro o redentor abraça o gênio
Que hoje repinta esta cidade
Moleque, Recife é saudade
Há tantos meninos assim
Querendo um sonho
Na liberdade das cores sem fim

Pintor da alegria, calor da emoção
Pintou Renascer no meu coração
No tom da folia vou me apresentar
Na galeria Jacarepaguá

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Samba-enredo 2012 - Estação Primeira de Mangueira


Em 2012, a Mangueira vai festejar na Sapucaí com o samba de Lequinho, Igor Leal, Junior Fionda e Paulinho de Carvalho. Um dos favoritos desde o começo, inclusive sendo a aposta do Carnaval de Avenida, a parceria conhecida durante a disputa como 65-A derrotou outras fortes composições na final. Alguns dias após o resultado, a escola divulgou a letra e o áudio oficiais, com algumas mudanças. Algumas boas, outras nem tanto.

Sem excessos de poesia, mas com qualidade, a letra exalta a escola e o Cacique de Ramos, sendo condizente com a melodia animada. O começo da segunda parte é um dos melhores momentos, com a repetição da palavra "sim" em alusão à música "Doce Refúgio". O verso que lembra o Bafo da Onça consegue expressar muito bem a rivalidade entre os blocos. Entre as mudanças na letra original, está a inclusão da palavra "novo" em "salve o novo Palácio do Samba". Uma alteração desnecessária, que acaba atribuindo um caráter político a um verso que era apenas de exaltação, além de se distanciar do enredo. Oxóssi, orixá de grande relevância na história do Cacique, também foi incluido na letra. No refrão do meio, "já começou a festa" se tornou "a Surdo Um faz festa", uma menção à bateria da escola. Um pouco forçado e também desnecessário.

Em relação a sinopse, o samba omite o início do enredo, que fala sobre a vinda dos escravos, começando a partir do sonho do escravo à sombra da tamarineira. Claro que não é possível incluir tudo o que está na sinopse no samba, até porque a da Mangueira era bem grande. Mas esse trecho parecia ser relevante, já que a maioria das demais obras da safra possuia algum verso sobre ele. No mais, a obra faz boa abordagem do enredo e consegue dar destaque ao Cacique, que, na sinopse, parecia coadjuvante. O "na palma da mão" do refrão principal foi um pouco criticado, pois podia dar uma ideia de "oba-oba". Mas, na verdade, é um verso bastante contextualizado, já que o gesto de bater palma é bem característico das rodas de samba do Cacique.

A melodia, como já foi dito, é bastante animada e contagiante, como não poderia deixar de ser em um samba sobre um bloco, ainda mais o Cacique de Ramos. Mesmo assim, é muito boa, com nuances e variações bem trabalhadas. No refrão do meio, a mudança do verso "firma o batuque que eu quero sambar" para "firma o batuque, quero sambar" é muito bem-vinda, já que na primeira versão o trecho era quase um trava-língua devido à melodia acelerada. Destaque absoluto para o "hey hey hey" no final da segunda parte, um recurso simples mas que deu um diferencial e um charme a mais à composição. Explosivo como um todo, dificilmente não proporcionará um desfile empolgante.

No mais, o samba tem a cara da Mangueira. E quando a Mangueira vem com cara de Mangueira, vem forte. A seguir, o áudio divulgado pela escola, já gravado pelos intérpretes oficiais da verde e rosa e com as modificações feitas na letra e na melodia.

ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA - 2012




Enredo: Vou festejar! Sou Cacique, sou Mangueira
Compositores: Lequinho, Igor Leal, Junior Fionda e Paulinho de Carvalho

Salve a tribo dos bambas!
Onde um simples verso se torna canção
Salve o novo Palácio do Samba!
O “Doce Refúgio” pra inspiração
Debaixo da tamarineira
Oxóssi guerreiro me fez recordar
Um lugar… O meu berço num novo lar
Seguindo com os “pés no chão”
“Raiz” que se tornou religião
Da boêmia, dos antigos carnavais
Não esquecerei jamais!

Firma o batuque, quero sambar… Me leva!
A Surdo Um faz festa!
Esqueça a dor da vida
Caciqueando na avenida


Sim…
Vi o bloco passando, o nobre rezando e o povo a cantar
Sim…
Era um nó na garganta ver o Bafo da Onça desfilar
Chora, chegou a hora eu não vou ligar
Minha cultura é arte popular
Nasceu em "Fundo de Quintal"
Sou imortal e vou dizer
Agonizar não é morrer
Mangueira fez o meu sonho acontecer
O povo não perde o prazer de cantar
Por todo universo minha voz ecoou
Respeite quem pode chegar
Onde a gente chegou!

Vem festejar, na palma da mão
Eu sou o samba, “a voz do morro”!
Não dá pra conter tamanha emoção
Cacique e Mangueira num só coração

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Samba-enredo 2012 - Paraíso do Tuiuti


Os compositores do samba que a Tuiuti levará para a avenida em homenagem a Clara Nunes são Adauto Alves, Anibal, Jurandir, Pelé e Reza. A parceria composta por grandes campeões da escola era a favorita na final, apesar da concorrência forte de outras boas obras que a escola possuia em sua safra. O Carnaval de Avenida destacou este samba como um dos melhores, apesar de não apontá-lo como vencedor.

A letra é bastante burocrática, sem grandes passagens, mas correta. A poesia utilizada é um tanto quanto previsível, fazendo com que não emocione. Trechos quase convencionais, como "que felicidade, meu Tuiuti vai revivendo a emoção", "a natureza sorrindo fazendo a vida florescer" e "um ser de luz a iluminar meu caminhar", além de algumas rimas pouco elaboradas, acabam empobrecendo a obra. Os dois melhores momentos são os refrões, sobretudo o principal, que proporciona uma bela imagem de Clara Nunes em forma de estrela sorrindo para o morro do Tuiuti. No verso "e o povo vai fazer seu ritual" a conjunção "e" poderia ser suprimida para evitar repetição, já que também está presente no verso seguinte.

Apesar da bela sinopse ter um caráter mais biográfico, o samba não segue esta linha, sem se aprofundar muito na vida de Clara Nunes. Apenas fala sobre ela, como uma ode. Também não aborda muito a aura mística em torno da vida de Clara Nunes, preocupando-se mais em exalta-la. Um detalhe curioso são as repetidas menções ao canto e à voz de Clara, que aparecem três vezes na letra: "eternizando a bela voz que não dá mais pra esquecer", "e lá no infinito seu canto ecoou" e "seu canto traz a paz ao coração". É preciso cautela para saber até que ponto tal superficialidade da letra pode ser prejudicial.

O grande benefício que o samba trará a escola é ser pra cima e possuir uma melodia bem leve. Como a Tuiuti será a primeira a desfilar no sábado, precisará de um samba que anime a Sapucaí para que sua apresentação não seja fria. Tecnicamente é uma melodia bastante linear, se destacando mais nos dois refrões. O principal é explosivo e empolgante e o central é mais pra baixo, com uma variação muito bonita. Nas demais partes, pouca ousadia ou trechos mais marcantes.

Priorizando a funcionalidade, o samba da Tuiuti não deverá ser um dos destaque do ano, apesar de não ser ruim. Mas a escola deve realmente ter a permanência no Grupo A como prioridade antes de pensar em voos mais altos, e, pra isso, a obra é mais adequada para uma boa fluência do desfile. Será o terceiro enredo biográfico consecutivo apresentado pela escola, depois de Eneida em 2010 e Caetano Veloso em 2011, com o qual foi campeã do Grupo B.

PARAÍSO DO TUIUTI - 2012




Enredo: A tal mineiras
Compositores Adauto Alves, Anibal, Jurandir, Pelé e Reza

Oh, quanta saudade
Da tal mineira... Doce inspiração
Que felicidade!
Meu Tuiuti vai revivendo a emoção
Um ser de luz
A iluminar meu caminhar
Quem nos conduz
Nesta avenida é o sabiá
A natureza sorrindo
Fazendo a vida florescer
Eternizando a bela voz
Que não da mais pra esquecer
É agua no mar... É maré cheia
Com a proteção de Oxalá, clareia

E lá no infinito seu canto ecoou
Morena mineira, mestiça raiz
Encontro das raças, rufar do tambor
Trazendo axé pra nos fazer feliz


(Mas vem)
Vem de longe a batucada
Entre morros e vielas
Salve a deusa, salve o samba
Encantando a passarela
Seu canto
Traz a paz ao coração
É mais que uma prece, é devoção
E o povo vai fazer seu ritual
E na simplicidade
Acende a chama do meu carnaval

Hoje eu vi uma estrela... No céu
Sorrindo pro morro do meu Tuiuti
É Clara guerreira, num gesto de amor
Iluminando a Sapucaí!!! (Eu vi! Eu vi!)

domingo, 9 de outubro de 2011

Quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam na mesma


por Cassius Abreu

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao André, que é dono deste espaço tão bem organizado e constantemente atualizado, recebendo várias visitas, por permitir que eu possa compartilhar com os seus leitores algumas das minhas opiniões sobre o Carnaval Carioca. Não sei com qual frequência escreverei aqui - se é que voltarei a escrever, haha -; no entanto, meu objetivo é apenas dar pitacos sobre algum tema recente e sobre o qual me interessei em comentar. Nesta postagem inicial, comento a decisão da LIESA em fazer quatro alterações para a apuração do Carnaval 2012.

Depois de muitas discussões sobre os resultados do Carnaval 2011 - no Grupo Especial e no Grupo de Acesso A - e das justificativas dadas pelos jurados, a LIESA aceitou receber sugestões e criticas para propor melhorias no regulamento. No entanto, se as únicas mudanças a serem feitas forem as divulgadas na semana passada, acredito que o mesmo panorama será repetido em 2012.

Inicialmente, ressalto que concordei com boa parte dos resultados do Grupo Especial no último Carnaval, ainda que o valor das notas seja discutível e que as notas dos mesmos jurados apresentem perfis similares ao longo dos anos. Não se pretende aqui entrar num longo debate sobre a apuração do Carnaval e sobre jurados - particularmente, sou a favor de uma reforma completa no regulamento (critérios objetivos, julgamento por méritos e não por problemas) e de uma participação maior do poder público nos nomes escolhidos.

Apenas tratarei, individualmente, das quatro reformas que anunciou a Liga. Vamos a elas:

Notas de 9 a 10

Na prática, já é isto que tem ocorrido nos últimos anos. Qual seria a diferença de uma escala decimal de 9 a 10 (onze notas possíveis) para a escala de meio ponto indo de 5 a 10? Na minha visão, é mais fácil descontar décimos decisivos na escala de 9 a 10. Se não, observemos: o 9.8/10 (terceiro maior nota) parece ser ótimo e pode ser justificado como 'ausência de criatividade'. Por outro lado, o 9/10 (na escala antiga) é mais 'cruel', exigindo - teoricamente - maiores justificativas.

Redução para 40 jurados

Esta foi uma boa decisão da LIESA, assumindo que haviam feito algo errado. Para que cinco apresentações do casal e da comissão-de-frente? A duração do desfile continuou igual (de 80 para 82min), fazendo com que muitas escolas tivessem de correr nos últimos anos. A LESGA fez o mesmo no Acesso e, de forma igual, voltou atrás. A se comemorar o bom senso nesta decisão.

Descarte apenas da menor nota

Sempre serei contra descartar nota. Desfile tem de ser julgado na íntegra! O descarte permite que uma escola ignore o primeiro ou o último módulo de julgamento, se assim o quiser, tendo em vista que a punição será descartada. A outra desculpa dada para os descartes - 'correção de distorções' - soa como se a própria Liga reconhecesse que os jurados têm chances de falhar. Neste caso, seria melhor capacitá-los e torná-los confiáveis, não? Na verdade, esta decisão é decorrência da anterior (do contrário seriam apenas 20 notas para decidir a classificação) e, da mesma forma, pode ser comemorada.

Bônus para melhor escola

Esta é de doer! Se "10 é 10" (argumento do presidente da LIESA para a ausência de justificativas à nota máxima), o que seria o 10.1? Como alguém está acima do perfeito? Oras, se o modelo é comparativo, que se dê 10 apenas às que realmente estiverem irretocáveis e desconte-se das demais. Por consequência, não há necessidade mesmo de ter um décimo além da perfeição. E eu nunca vi um experimento durar tanto tempo: é mais fácil termos novas leis da Física a sair a conclusão definitiva sobre a bonificação, hehe.

sábado, 8 de outubro de 2011

Samba-enredo 2012 - Império Serrano


Em uma das disputas mais previsíveis deste ano, o Império Serrano coroou o samba de Arlindo Cruz, Arlindo Neto e Tico do Império. A obra, que era a aposta do Carnaval de Avenida como possível vencedora, destacou-se desde o início da disputa, sendo considerado um dos melhores concorrentes para 2012. Provavelmente será o melhor samba do Grupo A no próximo Carnaval, homenagem mais que justa à Dama do Samba, Dona Ivone Lara.

A letra do samba é de uma simplicidade poética admirável, não havendo versos pobres ou desnecessários, e, mesmo assim, não sendo rebuscado demais. Na verdade, a letra tem um caráter bastante popular, e prova que leveza e funcionalidade também podem ter qualidade. O grande momento é, sem dúvidas, o refrão principal. Os "laia laias" eram um recurso muito utilizado antigamente, mas, com o tempo, foram sendo deixados de lado. Voltam de forma magistral neste samba, ainda mais por serem um prolongamento do nome de Dona Ivone, aproveitando a sonoridade do "Lara". Vale lembrar também que os "laia laias" eram uma artifício marcante dos sambas da própria Ivone Lara, o que os deixam ainda mais contextualizados.

A simplicidade da letra torna a compreensão do enredo bem fácil. Apesar de não haver uma abordagem tão profunda quanto a sinopse, é possível identificar todos os grandes momentos da carreira de Dona Ivone, contando ainda com alguns títulos de algumas de suas músicas mais famosas, como "Tiê", "Sorriso Negro" e "Os Cinco Bailes da História do Rio", este último um dos mais famosos sambas-enredo do Império. O único trecho que se afasta um pouco do enredo é o final da primeira parte, que fala sobre a "Sinfônica", como é conhecida a bateria da escola. São versos que poderiam estar em qualquer samba sobre qualquer enredo. A ideia da escola "despertar", como é mencionado no começo do samba, já foi utilizada no samba de 2011. Mas são detalhes que de forma alguma tiram o brilho da composição.

A melodia não tem muitas variações, mas é bem agradável e redonda. Tem um caráter majoritariamente mais leve, sendo mais forte no começo da primeira parte e em toda a segunda. O refrão principal é a parte mais marcante, por ser diferenciado e contagiante. Se diferencia do convencional, se assemelhando mais a sambas de raiz ou mesmo sambas-enredo mais antigos.

Pelo terceiro ano consecutivo, o Império Serrano terá um dos melhores sambas do Carnaval, fazendo jus à sua brilhante safra. A expectativa pelo desfile da escola cresce ainda mais, e certamente chamará ainda mais atenção pela excelente obra. "Dona Ivone Laaara Ia Laia, Laia Laia, Laia Laia..."

IMPÉRIO SERRANO - 2012




Enredo: Dona Ivone Lara, enredo do meu samba
Compositores: Arlindo Cruz, Arlindo Neto e Tico do Império

Serra dos anos dourados da nossa história
Desperta e vem cantar feliz
O jongo e o samba de raiz
No enredo desse Carnaval
Que não é sonho meu pois ela é real
Ivone Lara Ia
Quero ver quem não vai se embalar
No encanto do Tiê Oia Lá Oxá
Desfilando em verde e branco
E a sinfônica demonstra o seu amor
Batendo forte no balanço do agogô

A rainha da casa, mãe, esposa de fé
Diz que o dom de compor é coisa de mulher
Com o mestre venceu o desafio, ô
Nos Cinco Bailes da História do meu Rio


Dona, Dama, Diva...
Estrela do samba de luz radiante
Show no Opinião
Parceira de bambas, carreira brilhante
Com a liberdade, num lindo alvorecer
Sonha nossa terna mãe baiana
Seu sorriso negro não dá pra esquecer
E hoje nosso Império aclama

Dona Ivone
Lara Ia Laia
Laia Laia
Laia Laia

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Samba-enredo 2012 - Acadêmicos da Rocinha


Os autores do samba que a Rocinha vai colocar na praça em 2012 são Cadinho, Dartagnan, João Gordo, Márcio Swing, Mauro Speranza e Ricardo Barriga. A obra era a menos cogitada como possível vencedora na final, que contou com os três sambas destacados pelo Carnaval de Avenida como os melhores da safra. Cada finalista apresentava um estilo diferente, e o vencedor seria o que mais se adequasse ao estilo do desfile da escola, que deverá ser mais leve. Sob um ponto de vista mais técnico, o samba campeão era o mais fraco dos três.

A letra possui algumas palavras soltas no corpo do samba, como "paixão" e "lindo", que soam como se apenas tivessem sido introduzidas para preencher a melodia. Há também alguns versos com listagem de termos, como "sábios, mercadores, realizações" e "pra mentes abertas, livros, paixões e xadrez", que empobrecem a letra. O verso "a melhor idade mantendo a forma" é o pior trecho, muito objetivo e sem maior tratamento poético na transmissão da ideia. Mas há também boas passagens, como a referência aos jogos de praça, como damas e xadrez, e às esculturas, em "heróis forjados em ferro". O refrão do meio é outro bom momento, um dos mais bonitos do samba. No refrão principal, ficou um pouco forçado a utilização da palavra taça para rimar com praça.

A sinopse do enredo narra o voo de um pombo sobrevoando as praças e contando sua história. Isso está presente na letra e é perceptível, como no verso "pousei pra ver a meninada". Mas pode se tornar confuso para quem não leu a sinopse e não sabe do que se trata. O restante da narrativa é boa e de fácil assimilação. Peca apenas pelo início da primeira parte, onde os quatro primeiros versos não tem nenhum tipo de relação com o enredo.

Como já foi mencionado, a melodia é bem leve e animada, o que beneficia o canto dos componentes, além de ser vantajoso para a escola, que será apenas a segunda a desfilar no sábado de Carnaval, encontrando a Sapucaí ainda um pouco fria. No entanto, há poucas variações melódicas e as existentes não são ousadas. São corretas e pouco expressivas, o que deixa a obra sem uma identidade mais marcante. Na primeira parte não flui perfeitamente, sendo fragmentada no meio dos versos. O refrão do meio novamente se destaca neste aspecto. O final da segunda parte é outro bom momento, sendo explosivo e preparando bem a entrada para o refrão principal, que também é empolgante.

O samba da Borboleta de São Conrado cumprirá seu papel no desfile, mas não deve ser destaque na safra de 2012 e nem na da própria escola, que possui sambas bem melhores. O do último desfile, sobre o vidro, era muito superior. Ainda pode sofrer alguns ajustes que melhorem sua qualidade e o tornem mais forte. Por enquanto, tende a passar apagado diante das obras das outras escolas.

ACADÊMICOS DA ROCINHA - 2012




Enredo: Vou colocar teu nome na praça
Compositores: Cadinho, Dartagnan, João Gordo, Márcio Swing, Mauro Speranza e Ricardo Barriga

No céu colorido, azul infinito
O branco das nuvens nas asas da paz
Visão verdejante, cores da Rocinha
Paixão, princesinha que amo demais
Voando num tempo lindo, milenar
À luz de Ágora, a Grécia a palpitar
Sábios, mercadores, realizações
E a voz do povo assumindo as decisões

Na praça encontrei o amor
A saudade permanece, a banda passou
Pela noite um tempo pra ser feliz
Iluminado pelas festas da matriz


Refúgio de selvas concretas
Pra mentes abertas, livros, paixões e xadrez
Heróis forjados em ferro, ases da história
As damas e reis
Pousei pra ver a meninada
Driblar a tristeza e jogar futebol
A melhor idade mantendo a forma
Um lindo domingo de sol
Voei pra Brasília, esperar não é saber
A voz do povo faz a hora
Rocinha não espera acontecer

Eu vou botar teu nome na praça
Da apoteose do meu carnaval
Com muito orgulho carrego a taça
E entrego à borboleta em um voo especial

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Eliminatórias 2012 - Acadêmicos de Santa Cruz

Última a dar início às suas eliminatórias, a Santa Cruz tem a safra mais fraca entre as escolas do Especial e Acesso A. O enredo não ajudou. Teoricamente, seria uma homenagem ao radialista Antônio Carlos, mas, pelo que se viu na sinopse, o desfile falará sobre a história do rádio em geral, começando com sua criação. O radialista estaria presente apenas em uma parte, e parece que isso não foi muito bem assimilado pelos compositores. A maioria das letras dá atenção integral a Antônio Carlos, e, como só parte da sinopse fala sobre ele, os compositores não tiveram material suficiente para produzir um samba com qualidade. A safra é toda muito pobre textualmente. Não há um único samba que apresente maior apuro poético ou informativo. Há algumas boas melodias, mas que não salvam as composições. A Santa Cruz possui compositores competentes que certamente tem capacidade de produzir obras muito superiores. Seja qual for o samba escolhido para 2012, será um dos mais fracos do ano. Uma alternativa para a escola seria tentar uma fusão.

RESUMINDO: Safra mais fraca do ano. Os sambas são pobres em letra e não estão completamente de acordo com a sinopse, que por sua vez também não é boa. Uma fusão poderia ser uma boa opção

Abaixo estão os três melhores sambas da safra da Santa Cruz, na opinião do Carnaval de Avenida.

O samba de Balinha, Douglas Oliveira, Eduardo Barros, Flavinho do Agogô e Léo do Tamborim tem uma letra mais correta, sem termos "trashs". Carece de informações da sinopse, como todos. A melodia não tem grandes momentos, sendo uma das menos marcantes.



Compositores: Balinha, Douglas Oliveira, Eduardo Barros, Flavinho do Agogô e Léo do Tamborim
Intérprete: Igor Vianna

Vem ver, amor
O encanto que a ciência revelou
Transmitindo a imaginação
A invenção se propagou (ô)
E no Brasil, a "era" surgiu
Foi do erudito ao popular
Novelas, romances, platéia a vibrar
A música vai ressoar
Chegou o artista, o protagonista
Que hoje vai brilhar

Vou te levar, inspiração
Sintonizar a estação
Das ondas do rádio... Magia
Pro fundo do seu coração


Quem é... Que toca a alma do povo
Um "líder" trazendo o novo
A força da informação
Quem é a simplicidade do nosso país
Irreverência e animação
Antônio Carlos...
Os personagens entram em cena
Seu bloco declama um poema
No carnaval da emoção

Vai Santa Cruz
Canta bem forte, comunidade
A felicidade é o seu despertar
O grande show vai começar



Outro samba de letra correta mas pobre de informações é o de Hipólito, Hiram Gomes, Marquinho Bombeiro, Serginho Ribeiro e Zé Luiz Bom de Onda. É nítida a tentativa de "encher linguiça" para preencher toda a letra. O diferencial deste é uma melodia mais produzida, que apesar de não ter variações marcantes, deixa a audição mais interessante.



Compositores: Hipólito, Hiram Gomes, Marquinho Bombeiro, Serginho Ribeiro e Zé Luiz Bom de Onda
Intérprete: Luizinho Andanças

O galo já cantou, o dia raiou
O sol nasceu sorrindo
Porção de energia que nos faz sonhar
O show vai começar! Nas ondas do rádio...
Do Recife ao Corcovado
Da elite ao popular surge a voz do Brasil
Em busca da felicidade
Fazendo a mocinha delirar
O romantismo está no ar

De verde e branco, na era de ouro
Fiz a voz de galã, pra você me amar
Dando vida aos sonhos
Em sintonia vou te conquistar


Na transição cultural
Um geminiano apaixonado
Vira atração nacional
Contestador, alegrando o dia a dia
Conforta o coração mais distante
Com fé e esperança, informação e simpatia
Mostrando a receita da felicidade
Em toda sua trajetória
Hoje é você quem faz o final da história

Eu tô ao vivo da Sapucaí, arrastando foliões
Sou Santa Cruz que emoção
Acorda Brasil para escutar
O Show do Antônio Carlos tá no ar



Apesar do terrível verso "narrando alegria em led e hd", o samba de Afonsinho BV, Beto Varandas, Ditão, Márcio da Pizzaria e Márcio das Camisas é o que melhor adequa letra e melodia dentro do possível na limitada safra da Santa Cruz. Apesar de tambem possuir carência de informações e poesia, é mais encorpado e melhor produzido. O Carnaval de Avenida aposta neste samba, mas não descarta a possibilidade de fusão.



Compositores: Afonsinho BV, Beto Varandas, Ditão, Márcio da Pizzaria e Márcio das Camisas
Intérprete: Nêgo

Ligada nas ondas vem a Santa Cruz
Amor... Bom dia!
Do primeiro mundo veio a inspiração
Aqui o rádio surgia
Chegando ao Rio de Janeiro
A voz do Brasil ecoou
"Em busca da felicidade"
Por toda a cidade é a voz do amor
Aí o artista entra em cena
Invade lugares em tom de emoção
E chega a todos os lares
Dando asas a imaginação

Falei pra Juju, vai virar fofoca
Não importa o tempo, eu quero é curtir
O meu horóscopo me diz que estou na moda
Vários personagens na Sapucaí


E hoje minha fantasia
Narrando alegria em led e hd
Nas telas ou ondas do rádio
Antônio Carlos o show é você
Minha acadêmia tão linda e tão bela
Vem pra passarela... Pra te exaltar
Liga "pra geral" do asfalto a favela
Que hoje tem festa no planeta carnaval

Acorda Brasil, já chegou a hora
Tem muita notícia pairando no ar
A nossa cidade está toda prosa
"Se liga", o show vai começar

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Eliminatórias 2012 - Unidos do Porto da Pedra

Como era de se esperar, o enredo patrocinado pela Danone sobre o leite e seus derivados, com foco no iogurte, não rendeu. A safra da Porto da Pedra é bem fraca, fruto de uma sinopse pouco inspiradora. Não faltaram tentativas de trocadilhos com o nome do patrocinador, como "Porto da Pedra dá o nome", além dos verbos "amamentar" e "mamar". Contar o enredo com beleza poética era uma tarefa quase impossível, e não há um único samba sem pelo menos um trecho de gosto duvidoso. Alem do verso "Iogurte é leite, tem saúde e muito mais", que, provavelmente, foi uma exigência do patrocinador, pois aparece em todas as obras. Um ou outro samba conseguiu uma letra elaborada, mas mesmo assim é notória a falta de carnavalização e poetização do enredo. Foi uma opção da escola. Se vai dar certo ou não, é outra história. E que consequências isto pode ter para o Carnaval também.

RESUMINDO: A Porto da Pedra não tem uma safra de sambas-enredo, tem uma safra de jingles comerciais.

Abaixo, os três melhores sambas da safra da Porto da Pedra, na opinião do Carnaval de Avenida.

O samba de Bira, Daniel Katar, Diego Ferreiro, Porkinho, Robinho, Sapinho e Vinicius Amaral se salva pela boa e animada melodia, pois a letra é muito pobre e sem beleza poética. Se sobressai perante os demais quando não se observa suas características técnicas.



Compositores: Bira, Daniel Katar, Diego Ferreiro, Porkinho, Robinho, Sapinho e Vinicius Amaral
Intérprete: Gilsinho

Meu Tigre traz nas garras pra Avenida
O que há milênios inspira o homem a buscar
Um alimento completo e divino
No seio materno
Pude experimentar!
Fortaleceu deuses e antigas nações
Manipulado sofre uma transformação
Assim surgem seus derivados
Fascinando o paladar
Se expandindo com as viagens e o comércio,
Migra para encantar

Quem iria imaginar O velho sonho de ser imortal
Unido a essa seiva alcançava
Pra culinária e medicina, um novo ideal


Na Europa... Novos costumes, tradições
Se espalham... Influenciando a cura e o sabor
Sucesso no mercado mundial
Essa bebida ganha um toque especial
Das mãos mineiras... Que dedicadas à família brasileira
Se junta à tecnologia para encontrar
A fórmula perfeita, o equilíbrio da vida
Um carinho sem igual...
''Iogurte é leite, tem saúde e muito mais...''
Valorizando esse presente bendito
Que num dia enlouquecido
Leva a humanidade pra sambar!

Meu rítmo é fruto dessa fonte de amor
Paixão verdadeira, feroz sem temor
Quebrando as barreiras, cheia de emoção,
Porto da Pedra vai tocar seu coração!



Carlinhos Maciel, Claudinho, Cristiane Mazarim, Doutor Jairo, Jorge Remédio, Marcelo Poesia e Quinzinho conseguiram dar um tom mais poéticos ao enredo, numa das melhores letras da disputa. A melodia não tem grandes momentos, sendo apenas correta. Apesar de não ser excelente, o samba ganha destaque por não ter grandes defeitos.



Compositores: Carlinhos Maciel, Claudinho, Cristiane Mazarim, Doutor Jairo, Jorge Remédio, Marcelo Poesia e Quinzinho
Intérprete: Wantuir

Oh! Divino dom que alimenta minha inspiração
O seio... A natureza... A beleza da amamentação
Instinto materno criando história
Palavras banhadas em rios de fé
O encontro que une o céu e a terra
A deusa... A linda mulher
Caminhos de luz em poesia
A flor faz meu samba brotar
Em contos da mitologia... Seres sagrados vão eternizar
Força, prazer e esperança... Lembranças em meu paladar
Do alimento que me faz cantar

Vem do teu calor a transformação
São tantas delícias... Que tentação!
Iogurte é leite... É saúde... É bem mais
O equilíbrio da vida meu tigre é quem faz


Conquistando a Avenida... Semeando corações
Receitas combinam o sabor
Dando coragem ao imperador
Na minha missão... O ideal
Vou navegar na fantasia
As iguarias saborear
Ver na raiz um sonho embalar
Quero carinho... Oh, minha mãe...
A proteção tão natural
E ao voltar a seu colo...
Bebo energia neste carnaval

É sublime o amor que traz uma vida
Embala nos braços a grande emoção
Porto da pedra seiva a alegria
Faz bater o surdo em seu coração



A trivial expressão "leite de pedra" (ou, no caso, iogurte), é o que define o samba de Bento, Cici Maravilha, Denil, Fernando "Macaco", Oscar Bessa, Tião Califórnia e Vadinho. A letra é bastante poética, apesar de conter inevitáveis versos mais pobres e referências ao patrocinador. A melodia é leve e tem boas variações, que deixam a audição agradável. Os dois refrões são bons. Um oásis no meio do deserto lácteo da Porto da Pedra. O Carnaval de Avenida aposta neste samba.



Compositores: Bento, Cici Maravilha, Denil, Fernando "Macaco", Oscar Bessa, Tião Califórnia e Vadinho
Intérprete: Nêgo

Poema à vida e ao seio jorrando amor
A seiva materna,
Meu Porto da Pedra alimentou
Hera tece o caminho das estrelas
A loba mãe amamentou o grande império
Mistério no desperto da solidão
O mercador viu a transformação
Do leite em primeiro iguaria
A fé se envolveu e foi saborear
Na história, a humanidade vive a cultuar
Na dádiva que fez o animal sagrado
Fermentou fartura e saber
Fonte rica de prazer

No calor dessa receita, deixa coalhar
A combinação perfeita ao paladar
A essência é derivada à mistura dos sabores
É no mel que se adoça a magia dessas cores


Seguiu o alimento vencendo batalhas
Esse doce sabor pelo mundo
Com o tempo rompendo muralhas
Brilhou à luz da civilização
Pelos mares navegou
Embalando a evolução
Está em cada mesa, é gosto singular
Dá nome à sobremesa popular
E ativa as funções vitais
Leveza, o equilíbrio se traduz em beleza
Do dia a dia me refaz
Yogurte é leite, tem saúde e muito mais

Vem no ritmo do Tigre de São Gonçalo
Alimenta seu povo apaixonado
Cada porção traz um cuidado especial
Para o deleite e a emoção no carnaval