terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Samba de Sampa - 2012

Após apresentar, em 2011, uma de suas melhores safras, o Carnaval de São Paulo volta ter sambas medianos, sem grandes destaques. A safra de 2012 é nivelada por baixo, apesar de conter algumas obras interessantes. Muitos sambas foram prejudicados por seus enredos esdrúxulos, outros não souberam explorar temas bons.

A Vai-Vai, atual campeã, após o histórico samba de 2011, vem com um dos piores de 2012. Patrocinado pela Bombril, o que valeu o verso "é bom brilhar", o enredo sobre as mulheres não teve uma abordagem original ou elaborada. O samba tem alguns momentos melódicos interessantes, mas a letra é muito pobre. A falta de rima no último refrão deu um efeito estranho. Samba bem fraco, abaixo do padrão da escola.

A vice-campeã Tucuruvi, ao contrário da anterior, tem uma das melhores obras do ano. O enredo sobre a África pode ser bem batido, principalmente se levarmos em conta o Carnaval carioca. Mas o samba consegue ter momentos de originalidade, como no final, com o empolgante "ôôô" que leva ao refrão principal, também excelente. O refrão do meio também é muito bom e as variações melódicas de toda a composição são ótimas. Grande samba da Tucuruvi, um dos melhores da escola.

A Vila Maria vai em busca do título inédito com um enredo que envolve mãos, artesanato e era digital, contando ainda com a "tag" #vilamariafeitaàmão no logo do enredo, recurso característico do Twitter. O samba é muito bom, com dois refrões explosivos (apesar do primeiro ter um "que" de oba-oba) e melodia valente. Só no último verso que temos um desfecho melódico mal concluído, mas nada que incomode ou comprometa o conjunto. O termo "online" empobrece a letra, apesar de estar no contexto.

Uma das escolas com melhor safra própria, a Mancha Verde tem o melhor samba de 2012 em São Paulo. Com o enredo sobre a lição de humildade de Odu-Obará, o samba destaca-se pela melodia, bem típica dos sambas paulistanos e muito bonita, dolente e forte. A letra, repleta de nomes de orixás, cumpre seu papel e se adequa à melodia. A interpretação de Freddy Vianna é magistral. E algo louvável na Mancha é o fato de, em nenhum de seus sambas, fazer alusão ao Palmeiras. O vínculo com o clube nunca é demonstrado ou inserido no enredo, o que é muito bom, já que Carnaval não deve se misturar com futebol.

A Gaviões da Fiel, diferente do que faz a Mancha, frequentemente cita o Corinthians em seus enredos. Desta vez, está dentro do contexto, já que a escola homenageará o ex-presidente Lula. Mas o samba, no geral, é fraco. Explora muito pouco e de forma muito simples a vida de Lula, não dando a real dimensão de sua importância para o país. Sem grandes momentos, passa apagado na safra.

O samba da Águia de Ouro sobre a Tropicália cresce na segunda parte, com uma entrada bastante explosiva. A letra desta estrofe também é a melhor parte do samba. Os demais trechos são bastante simples e os refrões não tem muita força. Samba mediano, não se destaca tanto.

A versão concorrente do samba da Mocidade Alegre era excelente, em uma interpretação sensacional de Bruno Ribas. No CD, o limitadíssimo Clóvis Pê tirou muito a força do samba. Com uma interpretação medíocre, deixa a audição cansativa. Tecnicamente o samba é muito bom, mas sua gravação não foi boa. Na versão das eliminatórias, entra na lista dos grandes sambas da Mocidade Alegre. O enredo é sobre Jorge Amado, focando na parte mais mística e religiosa da vida do escritor.

A Rosas de Ouro fará uma homenagem a Roberto Justus com um enredo sobre a Hungria. O samba é fraco, sem momentos marcantes tanto de letra quanto de melodia. Bastante linear, é mais um que não chama atenção e não faz jus à escola. Pode tirar boas notas, pois é correto, mas será esquecido após o Carnaval.

Com um enredo sobre a paz, a Tom Maior vem com um samba muito agradável, bem leve e com algumas boas variações. Conta com uma homenagem ao ex-presidente da agremiação, Marko Antônio da Silva, falecido em maio deste ano, uma das melhores partes da composição. Não é um sambaço mas cumpre seu papel e se destaca na safra.

A X-9 Paulistana apresentará um enredo sobre o Rally dos Sertões, falando sobre os locais do percurso da competição. É um ótimo samba, que melhora depois de alguma audições. O refrão principal é, praticamente, o título do enredo, recurso que não gosto. A primeira parte começa forte e tem boas variações. O "poeira, poeira" da segunda parte, recurso semelhante ao "hey, hey, hey" do samba da Mangueira, é um atrativo a mais na obra.

A sempre injustiçada Pérola Negra tem, como sempre, um dos melhores sambas do ano. Fruto de uma fusão entre as duas obras que mais se destacaram nas eliminatórias, é animado e possui refrões empolgantes para falar da cidade de Itanhaém. Fica um pouco abaixo das últimas obras da Pérola, mas é bom e se destaca na safra.

O Império de Casa Verde, em mais um enredo patrocinado, falará sobre as lentes. A melodia é excelente, mas a letra e pobre e beira o "trash" em alguns momentos, causando uma dualidade estranha. Pena ver uma escola como o Império, que na década passada apresentou tantos bons sambas, precisar de versos como "tô nessa onda de esquimó e vou zoar". Mas a audição vale pela bela melodia.

Campeã do Grupo de Acesso, a Dragões da Real estreia no Especial com um enredo em homenagens às mães. Mas o samba da escola da torcida do São Paulo é o pior da safra. A melodia não tem momentos marcantes e a letra é muito pobre, contando com o verso "tem mãe levando a culpa com os erros do filho no jogo". O refrão principal é a única parte mais interessante, mas no geral o samba é bem ruim.

Voltando à elite, a tradicional Camisa Verde e Branco falará sobre o amor com um samba enorme. A extensa letra, no entanto, é boa, apesar de simples. Conta com alguns clichês que são inevitáveis para o enredo, mas a melodia ajuda muito a deixar a audição interessante, com ótimas variações, sobretudo na segunda parte.

Na opinião do Carnaval de Avenida, este é o ranking dos sambas de São Paulo:

1- Mancha Verde
2- Tucuruvi
3- Mocidade Alegre
4- Vila Maria
5- X-9 Paulistana
6- Pérola Negra
7- Tom Maior
8- Camisa Verde e Branco
9- Águia de Ouro
10- Império de Casa Verde
11- Vai-Vai
12- Rosas de Ouro
13- Gaviões da Fiel
14- Dragões da Real

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

B de decepção

A primeira vez que ouvi um CD com sambas do grupo B foi em 2007. E vários sambaços passaram pela Sapucaí na terça-feira daquele ano, como os de Independente da Praça da Bandeira, Vizinha Faladeira e Inocentes de Belford Roxo. Mas não sei se esse foi um ano atípico ou se a partir daí que a safra da terceira divisão do Carnaval começou a degringolar. Ano a ano, os sambas só caíram de nível, e em 2012 teremos a pior safra desde então.

Na primeira faixa, a primeira grande decepção. A União do Parque Curicica é uma das agremiações que mais gosto, me conquistou com o excelente samba de 2008, sobre a água. E sempre traz bons sambas, além de ser uma escola promissora, já tendo batido na trave do acesso algumas vezes. O samba de 2012 é bem mediano. Tem alguns poucos momentos interessantes de melodia e uma letra bem fraca, com uma segunda parte imensa. O verso "mas todo cuidado é pouco quando rola um carteado" é só um dos exemplos da pobreza do samba.

Em seguida, temos a Unidos de Padre Miguel, que pelo segundo ano consecutivo vem com um dos mais fracos sambas do grupo. Burocrático até dizer chega, não tem nenhum atrativo. Letra chata e melodia cansativa. Outra decepção, já que depois de ouvir os sambas de 2007 e 2008 da vermelha e branca, sempre vamos esperar obras no mesmo nível.

A faixa do Arranco é um alívio. A escola, pelo segundo ano seguido, traz um dos melhores sambas do grupo, mas, infelizmente, em 2012 isso não quer dizer muita coisa. Não é uma maravilha mas é uma boa obra para um enredo "repetido", já que o Arranco também fez um desfile sobre a dança em 2008. O refrão do meio é muito bom, a melhor parte.

Em seguida, outra decepção de outra escola que gosto bastante. O Sereno de Campo Grande, mais uma agremiação promissora, vem com um samba bem aquém do que tem feito nos últimos Carnavais, sobre um enredo que proporciona grandes possibilidades poéticas: a noite. Mas a obra é medíocre e conta com versos como "seja no luxo ou na roça, é pra curtir". A melodia tem algumas partes legais, mas não compensam.

A União de Jacarepaguá tem o melhor samba do Grupo B. Fruto de uma fusão de TRÊS sambas, possui uma melodia bem interessante, com momentos bem bacanas, sobretudo na primeira parte. E é encorpado, sem versos pobres. Não é maravilhoso mas fica bem acima dos demais.

A Tradição conseguiu a façanha de ter um samba onde TODOS, SIMPLESMENTE TODOS os versos possuem A MESMA melodia. O que muda é o tom, mas a melodia de todos é igual. Isso fica bem claro na segunda parte, onde os versos são pausados no meio. Na primeira é menos perceptível porque os versos foram fragmentados. Mas o samba todo tem apenas uma melodia. Expressões como "ziraldar" e "comequieto" terminam de destruir a obra. Desta vez a encomenda não deu certo. E é frustrante, já que em 2011 a escola apresentou um dos melhores sambas do ano.

A Difícil é o Nome é uma decepção porque podia ter o melhor samba do grupo, disparado. A obra concorrente de Diego Nicolau era sensacional, não entendo porque não venceu. Ao invés disso, a escola resolver fazer o de sempre e levar pro desfile um samba bem fraco. Incompreensível.

Sobre a Mocidade de Vicente de Carvalho, não consigo acreditar que este seja o melhor que sua ala de compositores possa oferecer. Pior do ano.

A Caprichosos, como se esperava, vem com um samba repleto de versos para elevar a sua auto-estima. Esperava um pouco mais, mas o samba acaba se destacando na péssima safra. O refrão principal é viciante e muito bem sacado com seu "quem comeu, comeu, quem não comeu não come mais". A segunda parte é razoável. E só.

O samba da Alegria da Zona Sul também se destaca pelo nível da safra ser fraco. A melodia tem variações bem interessantes e diferentes. Na segunda parte há trechos que parece que atravessam o samba. Mas acredito (e espero) que sejam apenas desenhos menos comuns. A letra fica abaixo da melodia mas não é de todo ruim.

Fechando o CD, a Vila Santa Tereza volta à Sapucaí com um samba fraco para um enredo que não ajuda: os brinquedos. Uma clara intenção de fazer um desfile leve e de fácil compreensão. O samba, fruto de fusão, leva a assinatura de Cláudio Russo. Mas a letra é pobre e possui versos sem nexo, soltos, como no refrão principal: "Hoje eu quero brincar, amor/ Sou Santa Tereza/ Encantar seu coração/ Aperte o play da diversão". De interessante, a melodia do refrão do meio.

Safra tenebrosa para um grupo que tende a ficar cada vez mais competitivo. As escolas precisam abrir o olho, porque com o enxugamento de grupos que vem sendo planejado, cada quesito vai ser de suma importância para quem quiser continuar na Sapucaí e almejar degraus mais altos. Enredos melhores e sambas melhores. Não custam caro e nós gostamos. Vocês são capazes de fazer bem mais do que isso ai.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Algumas coisas...

...Vão dar uma mudada por aqui.

Não posto há algum tempo porque o fim do período tomou bastante do meu tempo.

Mas a partir desta semana pretendo retomar.

Mas de uma forma diferente. Talvez um pouco mais informal, mais opinativa e falando sobre mais assuntos.

Na verdade não sei bem, mas vamos vendo como fica.

Peço desculpas às escolas que não tiveram seus sambas-enredo analisados nos mesmos moldes das outras: Cubango, Mocidade, União da Ilha, Imperatriz, Beija-Flor, Santa Cruz, Viradouro, Império da Tijuca, Estácio e Inocentes.

Ainda falarei deles, claro, mas de outra forma. Assim como também falarei novamente sobre as demais, já que, agora, com CD's lançados, algumas impressões mudaram.

E é isso aí, ainda esta semana volto pra falar sobre o CD do Especial.

Abraços!

"Corra e olhe o céu
Que o sol vem trazer
Bom dia..."