sábado, 5 de novembro de 2011

Samba-enredo 2012 - Acadêmicos do Grande Rio


Para mostrar toda a sua superação, a Grande Rio levará para a Sapucaí o samba de Edispuma, Foca, Licinho Jr. e Marcelinho Santos, campeões pelo segundo ano consecutivo. Favorito desde o início da disputa, inclusive sendo apontado pelo Carnaval de Avenida como aposta para a vitória, o samba conquistou a torcida e os componentes da tricolor de Caxias em uma safra que não possuia muitos concorrentes a altura.

"Quem me viu chorar, vai me ver sorrir" é o cartão de visitas do samba. Um dos refrões mais fortes do ano, onde a escola mostra a que veio. A palavra "desafio", que a princípio pode soar meio forçada, apenas para rimar com Grande Rio, pode fazer uma menção à uma exaltação à escola, que inclusive abre a faixa gravada pelos compositores: "se for falar de amor, aceito o desafio...". A letra da obra é uma verdadeira prece motivacional, que mexe ainda mais com os brios por ser em primeira pessoa, inserindo quem canta no contexto do enredo. E é emocionante para quem se identifica de alguma forma com as histórias de superação, criando uma grande identificação do público com a escola.

Assim como a sinopse, o samba é bastante subjetivo. A escola irá homenagear diversas personalidades, mas nenhuma delas é explicitamente citada. Após a escolha da obra vencedora, a direção da agremiação optou por fazer uma pequena mudança no verso "faço da vida um grande festival". Trocou para "em Parintins, um grande festival", em menção ao levantador de toadas David Assayag, homenageado no enredo. É o único personagem mais claramente identificado. Algo um pouco injustificável, já que Parintins, como todo o resto, já estava subjetivamente incluso na letra, justamente no verso do festival. Além disso, os versos anteriores já poderiam ser entendidos como menção à David, que é deficiente visual: "posso enxergar, sei que meu coração vai me guiar". Do jeito que ficou, acabou destoando um pouco, já que é a única parte objetiva da obra, e deu a David mais destaque que aos outros.

A melodia se destaca nos dois refrões, onde ganha mais força. Na passagem do refrão para o início da primeira parte, há uma mudança mais brusca no ritmo, que dá uma caída. Mas segue corretamente em toda a extensão da obra, não sendo linear e encaixando muito bem na voz do intérprete Wantuir, algo que os últimos sambas da Grande Rio não tinham conseguido perfeitamente. Sendo a última escola a desfilar, a tricolor possui um samba com capacidade de manter a animação do público e dos componentes, sendo mais suave mas com momentos de explosão.

A mensagem de superação da Grande Rio irá encerrar os desfile do Grupo Especial do Rio. Certamente é uma das escolas mais aguardadas, por todas as dificuldades que passou no último Carnaval. A apresentação promete ser emocionante, até pelo fato dos desfiles da escola serem sempre muito bons e cada vez mais a aproximam do título. Com todo a aura emocional que a envolverá, é muito provável que virá bastante forte. "Eu tô sentindo que chegou a nossa hora" é o que diz o samba. E é melhor não duvidar dos "guerreiros do bem" de Caxias.

ACADÊMICOS DO GRANDE RIO - 2012




Enredo: Eu acredito em você! E você?
Compositores: Edispuma, Foca, Licinho Jr. e Marcelinho Santos

A luz que vem do céu
Brilhou no meu olhar
Trazendo a esperança
Que os anjos vêm anunciar
Lutar sem desistir
Das cinzas renascer
Eu encontrei na fé
A força pra vencer
A felicidade mandou avisar
É preciso superar

Derrubar o “gigante” eu vou
É lição de coragem e amor
Eu sou “guerreiro do bem”, vou caminhar
A minha história vai te emocionar


A arte de viver
É aprender no dia a dia
Usando a imaginação
Ao som da melodia
Posso enxergar
Sei que meu coração vai me guiar
Eu sigo em frente sem desanimar
Em Parintins, um grande festival
Acreditar que pra sonhar não há limitações
A “roda gira” e traz a solução
Me dê a sua mão por liberdade
Sou brasileiro, mandei a tristeza embora
Eu “tô” sentindo que chegou a nossa hora

Quem me viu chorar, vai me ver sorrir
Eu acredito em você pro desafio
E abro meu coração, cantando a minha emoção
Superação é o carnaval da Grande Rio

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Samba-enredo 2012 - Unidos de Vila Isabel


O canto livre de Angola vai ser embalado pelo samba de André Diniz, Arlindo Cruz, Artur das Ferragens, Evandro Bocão e Leonel. A parceria multicampeã levou mais uma, com um dos melhores sambas do Carnaval 2012. Era a obra apontada como favorita pelo Carnaval de Avenida e teve vitória relativamente fácil, sobrando nas apresentações na quadra.

O samba tem uma letra muito forte e imponente. Começa tirando um pouco o foco do enredo e fazendo menção à "Kizomba", enredo de 1988 da Vila, que deu o primeiro título à escola. Sem dúvidas é uma passagem que mexe com os brios dos componentes. O fim da estrofe tem uma variação muito boa, mais afro, que é quase uma conclamação. Aliás, o samba é todo feito para se bater no peito e cantar: "somos a pura raíz do samba", "somos cultura que embarca", "temos o sangue de Angola correndo na veia", "vibra, oh, minha Vila". Não faltam versos aguerridos, que dão ainda mais imponência ao samba e contagia quem canta.

A estrutura da composição é diferenciada, contendo apenas com um refrão. A estrofe central não se repete, o que dá ainda mais dinamismo e fluência ao canto. Ao final da segunda parte, o momento de maior risco da obra: os contracantos. Os últimos versos possuem trechos entre aspas, com melodia diferente, para serem cantados pelo coro em resposta ao intérprete. Algo que pode tirar o sono dos diretores de harmonia, mas que, se der certo, poderá proporcionar um efeito muito bonito. A primeira versão do samba de Martinho da Vila para o enredo sobre Noel Rosa, em 2010, também possuia contracantos. Eram bem mais complexos que os do samba de 2012 e acabaram sendo excluidos ainda no início das eliminatórias. Desta vez, a escola vai arriscar.

O único refrão é a parte mais suave do samba. Apesar de ser bastante melodioso e até dolente, possui ritmo bem marcado e forte como a letra. O enredo é bem contado e de fácil compreensão, até pelo fato da história dos escravos vindos da África para o Brasil e dando origem ao samba já ser mais do que conhecida pelos sambistas. No último verso, lembrança a Martinho da Vila, grande baluarte da escola, que é Embaixador Cultural de Angola no Brasil.

Dando sequência a sua brilhante safra recente, a Vila Isabel novamente apresenta uma obra de muita qualidade. Muitos torceram o nariz para mais uma vitória de André Diniz, mas é inegável que os sambas de sua parceria são sempre excelentes. Não há como contestar qualquer uma de suas vitórias. Em 2012, a Vila terá uma oportunidade única: ser a última a desfilar em um dia com sete escola se apresentando. Com 13 escolas no Especial devido à ausência de rebaixamento em 2011, o domingo de Carnaval terá sete escolas, como antigamente. Logo, a escola de Noel provavelmente desfilará já com dia claro. Com o enredo e o samba que tem, o público que permanecer na Sapucaí para prestigiar a azul e branca certamente presenciará um dos momentos mais bonitos do Carnaval 2012.

UNIDOS DE VILA ISABEL - 2012




Enredo: Você semba lá... Que eu sambo cá! O canto livre de Angola
Compositores: André Diniz, Arlindo Cruz, Artur das Ferragens, Evandro Bocão e Leonel

Vibra, oh, minha Vila
A sua alma tem negra vocação
Somos a pura raiz do samba
Bate meu peito à sua pulsação
Incorpora outra vez Kizomba e segue na missão
Tambor africano ecoando, solo feiticeiro
Na cor da pele, o negro
Fogo aos olhos que invadem
Pra quem é de lá
Forja o orgulho, chama pra lutar

Reina ginga ê matamba, vem ver a lua de Luanda nos guiar
Reina ginga ê matamba, negra de Zambi, sua terra é seu altar

Somos cultura que embarca
Navio negreiro, correntes da escravidão
Temos o sangue de Angola
Correndo na veia, luta e libertação
A saga de ancestrais
Que por aqui perpetuou
A fé, os rituais, um elo de amor
Pelos terreiros (dança, jongo, capoeira)
Nascia o samba (ao sabor de um chorinho)
Tia Ciata embalou
Com braços de violões e cavaquinhos a tocar
Nesse cortejo (a herança verdadeira)
A nossa Vila (agradece com carinho)
Viva o povo de Angola e o negro Rei Martinho

Semba de lá, que eu sambo de cá
Já clareou o dia de paz
Vai ressoar o canto livre
Nos meus tambores, o sonho vive

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Samba-enredo 2012 - Unidos da Tijuca


Luiz Gonzaga será coroado rei do sertão ao som do samba de Vadinho, Josemar Manfredini, Jorge Calado, Silas Augusto e Cesinha. A parceria encerrou a supremacia de Julio Alves e Totonho na Unidos da Tijuca, conquistando a torcida e fazendo apresentações arrebatadoras na quadra. O Carnaval de Avenida destacou a obra como uma das melhores da disputa na agremiação do Borel.

A letra é mais elaborada e menos subjetiva do as dos últimos sambas da Tijuca. Não depende do desfile para se fazer entender, até pelo enredo ser diferente do que Paulo Barros vinha apresentando. Há certo exagero na utilização dos termos e expressões nordestinas. Apesar de serem pertinentes, podem causar certa confusão e serem cantadas de forma errada. Trechos entre aspas também são recorrentes, fazendo alusão às canções de Luiz Gonzaga. Também estão adequados ao enredo mas simbolizam certa falta de criatividade, já que são versos prontos apenas encaixados na letra.

Apesar de não ser forte poeticamente e não ter momentos expressivos, se destaca por sua melodia. Sempre pra cima e com boas variações, torna a obra contagiante e a destaca entre os demais sambas do ano. O único trecho menos agradável é o refrão principal, que tem um tom elevado demais, sendo cantado quase que aos berros. Mas é algo que pode ser corrigido na versão definitiva, inclusive se adequando mais a voz de Bruno Ribas.

Os trechos com aspas acabam se destacando melodicamente, por lembrarem as músicas de Luiz Gonzaga em ritmo semelhante às mesmas. O "chuva, sol" da primeira parte e o "simbora que a noite já vem, saudades do meu São João" da segunda são os momentos de melhor variação, tendo até um caráter mais dolente que os demais versos. No conjunto, é bastante correta e adequada a um enredo leve e bem animado. Um desafio para a escola e seu carnavalesco, que viverão uma mudança estilística brusca do que vinham fazendo.

Apesar de provavelmente não fazer parte dos grandes sambas tijucanos, a obra de 2012 é uma evolução no engessamento que a escola estava impondo a si mesma. A começar pela derrota dos compositores que sempre venciam, apesar do samba deles ter sido um dos melhores que já fizeram. Bem aceito pela comunidade e imensamente melhor que o de 2011, tem capacidade de crescer e ser um dos destaque do ano. Algumas pequenas alterações na letra foram feitas, já presentes na versão abaixo. O áudio ainda é o dos compositores.

UNIDOS DA TIJUCA - 2012




Enredo: O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão
Compositores: Vadinho, Josemar Manfredini, Jorge Calado, Silas Augusto e Cesinha

Nessa viagem arretada
“Lua” clareia a inspiração
Vejo a realeza encantada
Com as belezas do Sertão
“Chuva, sol”, meu olhar
Brilhou em terra distante
Ai, que visão deslumbrante, se avexe não
Muié rendá é rendeira
E no tempero da feira
O barro, o mestre, a criação

Mandacaru, a flor do cangaço
Tem “xote menina” nesse arrasta pé
Oh! Meu Padim, santo abençoado
É promessa, eu pago, me guia na fé


Em cada estação, a “triste partida”
Eu vi no caminho vida severina
À margem do Chico espantei o mal
Bordando o folclore, raiz cultural
Simbora que a noite já vem, “saudades do meu São João”
“Respeita Véio Januário, seus oito baixo tinhoso que só”
“Numa serenata” feliz vou cantar
No meu Pé de Serra festejo ao luar
Tijuca, a luz do arauto anuncia
Na carruagem da folia, hoje tem coroação

A minha emoção vai te convidar
Canta Tijuca, vem comemorar
“Inté Asa Branca” encontra o pavão
Pra coroar o “Rei do Sertão”