domingo, 31 de julho de 2011

Sinopses 2012 - Alegria da Zona Sul


Em uma fazenda bucólica de uma cidadezinha calma do interior, vivia um jumento, pobre jumento, só vivia para o trabalho. No seu lombo carregava a horta, compras do armazém, água para o poço e tudo mais que tinha e o que seu patrão queria que ele carregasse. Era um jumento de carga, maltratado pelo dono, um fazendeiro inescrupuloso e brigão. Um belo dia, o jumento resolve fugir para realizar o sonho de ser músico, artista reconhecido, famoso sim e por que não?

O jumento pega sua maleta, sua trouxinha de roupas e ganha a estrada. No caminho encontra um cachorro, que também fugia de outra fazenda, dos maus tratos do seu dono. Mais adiante encontram uma gata, que queria ser livre, pois já que havia nascido pobre, não abria mão de ser livre, leve e solta! Andando um pouco mais encontram uma galinha que também havia fugido do galinheiro para não virar almoço de domingo. Dessa forma, os quatro animais formam um grupo de amigos inseparáveis : o paciente e tolerante jumento, o cachorro amigo e leal, a gata malandra e esperta e a galinha teimosa e inquieta.

Eles fugiram dos seus donos fazendeiros pelo mesmo objetivo, o de conquistarem a liberdade, e de não ficarem mais explorados no trabalho diário da fazenda. Eles fugiram em busca do sonho de serem músicos famosos e terem os seus direitos de expressão naturalmente, como devem ser com todos os seres vivos.

"Alô, liberdade levante, lava o rosto, fica em pé. Como é, liberdade ...vou ter que requentar o teu café. Bom dia, alegria. A minha companhia vai cantar, em doce harmonia - Pra te alegrar"

Assim os quatro bichinhos amigos caem na estrada deixando pra trás os seus donos, e os maus tratos, levando com eles, a esperança de dias melhores e a busca da felicidade. Os amigos artistas saem em caminhada pela estrada e vão seguindo o destino incerto e juntos seguem a sua trajetória em busca do sonho e do sucesso.

No caminho, depois de muito andarem chegam a uma casa colorida, espécie de hotel fazenda, que tem o nome de "Pousada do Bom Barão", o lugar ideal para eles pararem e descansarem um pouquinho.

Logo que chegam à frente da tal pousada, observam que há uma placa na porta e, nela está escrito, "proibido a entrada de animais".

Os amigos, muito cansados, resolvem abrir a porta desobedecendo a placa. Nesse momento, eles se surpreendem, pois dentro da casa estavam os seus ex-donos. Os maldosos os avistam e saem correndo para mata, porém o medo e covardia dura pouco, eles se juntam e descobrem que juntos os verdadeiros amigos são fortes e põe os seus donos fazendeiros para correr...

"Uma gata, o que é que tem? - As unhas. E a galinha, o que é que tem? - O bico. Dito assim, parece até ridículo, um bichinho se assanhar...
E o jumento, o que é que tem? - As patas. E o cachorro, o que é que tem? - Os dentes. Ponha tudo junto e de repente vamos ver o que é que dá. Junte um bico com dez unhas, quatro patas, trinta dentes, e o valente dos valentes, ainda vai te respeitar."

Os bichos amigos provam que a união faz a força e se você tem uma qualidade, por mais frágil que ela seja, quando se junta com outra e mais outra e outra mais, se torna forte tão forte que enfrenta tudo de ruim e de dificuldade que possa aparecer.

"Todos juntos somos fortes, somos flecha e somos arco. Todos nós no mesmo barco, Não há nada pra temer - Ao meu lado há um amigo, que é preciso proteger. Todos juntos somos fortes, não há nada pra temer!"

"O animal é tão bacana, mas também não é nenhum banana"

Assim eles expulsam e botam pra correr os seus ex-donos...

Saindo da "Pousada do Bom Barão", os amigos continuam o caminho para o sucesso, passa dia e passa noite, campos de flores, campos de girássois, estradas com setas que indicam : "sigam em frente", "vire a direita", "dobre a esquerda", "não volte para trás"!

Sol e lua, dia e noite, até que enfim finalmente chegam a uma cidade, seria ali a cidade do sucesso? Seria a Hollywood tão sonhada? E os bichos começam a sonhar com uma cidade ideal imaginária:

"Cachorro: A cidade ideal de um cachorro, tem um poste por metro quadrado, não tem carro, não corro, não morro e também nunca fico apertado.

Galinha: A cidade ideal da galinha, tem as ruas cheias de minhocas. A barriga fica tão quentinha, que transforma o milho em pipocas.

Gata: A cidade ideal de uma gata, é um prato de tripa fresquinha.Tem sardinha num bonde de lata, tem alcatra no final da linha.
Jumento: Jumento é velho e velho é sabido e por isso já está prevenido. A cidade é uma estranha senhora, que hoje sorri e amanhã te devora!!"

E o velho e sábio jumento, estava certo... na cidade só haviam prédios, carros, pessoas correndo, camelôs desajustados, engraxates desparafuzados, luzes neon que apagam e ascendem em todo momento. Ruídos, sons, barulhos e fumaças, sinos que tocam de aparelhos que os bichos nuncam pensaram que existissem : celulares, Iphones, Ipodes, matemática, informática, cidade caótica, cidade neurótica, cidade dramática. Violência era mais parecida com a cara dos fazendeiros patrões, ela era feia, sem dente, sem dó e que corria atrás dos bichinhos por ruas e viadutos como um pesadelo sem fim. Coisa igual nunca tinham visto! Eles descobrem que não seria ali, o lugar dos seus sonhos, não seria na cidade grande que os bichos amigos conheceriam o sucesso! Nessa fabulosa Xanadu o brilho é de mentira, como paetês que imitam diamantes nas fantasias de carnaval.

"Ói nós aqui, ói nós aqui. Hollywood fica ali bem perto, só não vê quem tem um olho aberto! Camelôs, malucos e engraxates. Aproveitem enquanto o sonho é grátis! Quem há de negar, que é bom dançar, que a vida é bela neste fabuloso Xanadu...Eu só tenho medo, de amanhã cair da tela, e acordar em Nova Iguaçu!"

Os bichos mais uma vez unidos, saem da cidade e voltam para estrada, caminham por mais uns dias, até que finalmente encontram um paradeiro. É uma lona colorida de circo ou é um circo colorido no meio da estrada? Tá certo, é meio mambembe, é meio pobrinho sim. Mas é lá nesse circo, que abriga vários artistas de rua e outros animais, que os bichos finalmente encontram o seu lugar. É lá que o jumento, o cão, a gata e a galinha são reconhecidos profissionalmente e vivenciam o verdadeiro sucesso!

Assim eles ficam felizes, num lugar humilde, mas colorido, com luzes fraquinhas de pisca-pisca, mas que lembram um céu lindo de estrelas luminosas! É nesse circo, que os bichos vão viver, trabalhar e conhecerem o sucesso, sempre tendo como filosofia de vida a união, a amizade, o cooperativismo, e a tolerância que são a base para se ter uma vida feliz!

Esse enredo foi inspirado no conto dos irmãos Grimm "Os Músicos da cidade de Bremen", que narra a história do encontro de quatro animais (um jumento, um cachorro, uma galinha e uma gata), que devido a maus tratos, fogem de seus patrões. Juntos decidem formar um grupo musical e rumam à cidade para começar a carreira artística. O conto ficou famoso no Brasil com montagem histórica teatral em 1977, no Canecão, com texto de Luiz Enriquez Bacalov e Sérgio Bardotti, as músicas foram escritas por Chico Buarque de Hollanda e direção de Pedro Cardoso. A peça teve como elenco de estréia Marieta Severo (a gata), Miúcha (a galinha), Pedro Paulo Rangel (o cachorro) e Grande Otelo (o burro).

Essa obra originou ainda um disco, lançado em 1977, e com participações de Nara Leão, MPB-4 e Chico Buarque.Em 1981, Os Trapalhões lançaram também sua versão, Os Saltimbancos Trapalhões.Lançado em plena ditadura militar, na vigência do AI-5, ainda é de se estranhar que a censura tenha liberado essa história revolucionária, que ensina que os subjugados podem modificar a situação se conseguirem ficar unidos. Anos mais tarde, na versão para o cinema estrelada por Renato Aragão - 'Os Saltimbancos Trapalhões', Chico Buarque aproveita para abordar a situação do artista circense e do artista de rua.

Assim, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Alegria da Zona Sul traz para avenida dos desfiles no seu carnaval, um enredo lúdico, ingênuo, mas não deixando de ter um cunho sócio político, pois é uma metáfora dos operários, que escapam do sistema assalariado, no caso dos bichos e que se juntam a um circo aonde vão trabalhar unidos e ganhar o próprio dinheiro. Todos trabalham e podem ser mais felizes, sem a repressão dos seus donos ou patronos, pois é no circo que eles encontram o sucesso e a liberdade de expressão.

É um alerta, para que devemos fazer o que gostamos na vida, sem vivermos reprimidos ou escravizados a valores que não acreditamos. Vivendo o dia a dia cada bicho vai se descobrindo e reconhecendo os seus defeitos e fazendo com que os seus talentos modifiquem a sua vida. Dessa forma, juntos eles são fortes e vencem a fúria dos seus donos - "patrões". É um exemplo de vida, de como devemos agir no nosso cotidiano. Podemos usar essa lição no carnaval e por que não? Unidos combateremos a má intenção dos equívocos que acontecem nos bastidores da cena carnavalesca. Sim, nós fortes conseguiremos.

Deixe a sua imaginação te levar e viaje com o nosso enredo para o seu mundo de pureza que ficou lá pra trás, num passado que está mais próximo do seu coração que você possa imaginar.

Solte a bicharada...Vamos nos divertir bicharada. Vamos brincar nesse carnaval!

Solte-se dos seus preconceitos de "donos patrões" e vistam-se com as fantasias dos bichos que sonham com o sucesso e pregam que só com a união e a amizade verdadeira, se vence na vida! Vamos fazer o mesmo com o nosso carnaval!!

Venha diverti-se com o nosso imaginário, sambe, sonhe, cante, mas não deixe de lutar por sua liberdade na vida.

Salve a arte pura e ingênua do artista popular brasileiro!

Autor e pesquisa do enredo Eduardo Gonçalves

Enredo para Maria Augusta Rodrigues, a mestre do lúdico, e para o eterno mestre das cores Oswaldo Jardim.

Dedico esse enredo também aos queridos saltimbancos: Ana Beatriz Genúncio, André Rodrigues, Bia Cavalcanti, Carlos Feijó, Edu Nunes, Fabio Fabato, Felipe Ferreira, Fernando Peixoto, Flavio Mello, Gustavo Melo, Lucas Vagner, Lucinha Nobre, Luis Fernando Reis, Marcos Capeluppi (BTU), Rafael Gonçalves, Roberto Vilaronga, Rogério Rodrigues, Tânia e Renato Índio do Brasil, Tatiana Ribeiro, Paulo Menezes, Paulo Renato, Vitor Saraiva, Wanyr Júnior, William Pedroso e à todos que durante esse inicio de ano de 2011, torceram e torcem pelo meu trabalho na avenida dos desfiles e que ainda acreditam que podemos sim, fazer carnaval com pequenos fragmentos de sonhos...água mole em pedra dura...

Eduardo Gonçalves

COMENTÁRIOS: Enredo maravilhoso, uma excelente ideia do carnavalesco Eduardo Gonçalves. Talvez até devesse ter sido desenvolvido numa oportunidade em que a escola estivesse no Grupo A, mas certamente proporcionará um belo desfile. A sinopse, tal qual a história baseada no conto dos Irmãos Grimm, é bem leve e repleta de significado. Tomara que a escola consiga transmitir a mensagem com perfeição na Sapucaí. A Alegria fez um ótimo desfile em 2011, mesmo tendo sido rebaixada. Se vier com o mesmo gás, será uma forte concorrente ao acesso novamente.

sábado, 30 de julho de 2011

Sinopses 2012 - Arranco do Engenho de Dentro


A DANÇA é arte cênica que encanta os povos desde os primórdios da Civilização. Ao lado do Teatro e da Música, a dança é a arte que mais faz a cabeça de todos nós através dos tempos. O G.R.E.S. Arranco resolveu apostar nessa forma de lazer para apresentar o seu carnaval 2012.

Numa forma bem mais popular, o enredo traz um pouco da história da dança, que é tão grandiosa, e se confunde com a própria história da humanidade, com reflexos no surgimento dos folguedos populares que se espalharam mundo afora.

Nasceu o mundo, nasceu a dança! E o primeiro balanço que o corpo deu, nasceu o ritmo. Homens e mulheres da pré-história já encontravam as fórmulas de conectar o corpo com esse som, com esse balanço.

Já naquela época, esse balanço aliviava as dores fazendo abrir sorrisos. E o que era mais importante: estancava guerras, previa boas colheitas, assim como os dias de chuvas. Até mesmo, por incrível que pudesse parecer, as danças dos primórdios dos tempos, em certas ocasiões, imitavam o bailar das chamas das fogueiras que eram acesas para aquecerem os seres humanos.

O carnaval do Arranco começa por aí. Os fatos e lendas acontecidos ou criados no nascedouro do mundo abrirão o nosso desfile. Conta a lenda, ou o fato, que Shiva (ou Xiva) é Deus (Deva), o destruidor (ou transformador, renovador) na tradição hindu. Sendo que as primeiras representações surgiram no período Neolítico, por volta de 4000 a.C., na forma de Pashupatim, o "Senhor dos Animais".

A YÔGA, cuja criação prática é dessa época, produz transformação física, mental e emocional, portanto, intimamente ligada à dança e a ele. Por isso, Shiva é o (a) Deus (a) supremo (a) da Dança, por onde passa e repousa toda a alegria de dançar.

No Egito milenar de Antão já se dançava em tributo ao poderoso Deus Osíris. Eram comuns as danças clássicas dos povos asiáticos da época. Na Grécia Clássica, a dança era seguidamente atrelada aos jogos, em particular aos Olímpicos.

A Dança se caracterizou, através dos séculos, pelo uso do corpo seguindo de movimentos improvisados, a chamada dança livre.

É comum, em todos os casos, a dança com passos cadenciados e acompanhados ao som e compasso de música (aqui no nosso caso, do samba), envolvendo expressão de
sentimentos potenciada por ela.

A Dança é assim mesmo. Ela tem o poder de inebriar quem a pratica, como também embriagar quem a assiste e ouve. Foi assim com os chefes hindus na Índia tribal, na casta da dinastia chinesa e no Egito dos Faraós.

Foi assim ainda na Roma Antiga, quando, no então território judeu dominado pelos romanos, a bela e lascívia princesa Salomé seduziu o cruel Rei Herodes e, através de uma dança erótica, conseguiu a cabeça do condestável João Batista, que vivia sentando a mamona em todo mundo.

A dança invadiu o Velho Mundo. E ao penetrar nos suntuosos salões dos castelos medievais acabou criando hábitos e tudo mais. Nos salões elegantes só dava a boa valsa e ela rapidamente ganhou o mundo.

Com a valsa, vieram e se expandiram outras formas, como o minueto e o tango. Este último por si só representa um capítulo como forma de dança pelo mundo afora. O balé clássico foi outra forma de dança que ganhou o mundo e hoje chega ao popular.

Além de manifestações regionais das mais populares, como o famoso Baile de Veneza e suas pomposas e elegantes fantasias e máscaras, citamos ainda a grande ópera Bolero de Ravel e os hilariantes Saltimbancos, que tantas e tantas gerações encantaram por todo mundo.

Como seria natural, a Dança ultrapassou os requintados salões chegando ao campo através das improvisações do povo camponês, dando início a forma mais rudimentar e autêntica que o mundo conhece de se dançar.

Quando a Dança da elite ganhou o mundo em forma de operetas e de outras manifestações, surgiram então dançarinos e bailarinos fenomenais, entre qual a grande
Isadora Ducan, cuja vida nos palcos ou salões representa um capítulo a parte na história da dança no mundo artístico.

Aqui no Brasil, apenas em preito de reconhecimento, o Arranco lembra e destaca a grande Ana Botafogo, que coloca DANÇA, em forma de delicadeza, no mais alto pedestal.

Também aplaudimos de pé a presença sempre constante de Débora Colker, que é sempre destaque em qualquer tipo de espetáculo que realiza e participa.

Há de se destacar ainda as colonizações europeias que, muitas vezes a ferro e fogo, trouxeram para o Novo Mundo o mistério e a leveza da dança. O conquistador europeu aqui já encontrou uma forma selvagem e rudimentar de dançar. Os selvagens brasileiros e americanos, bem como os povos da América Central, já dançavam em louvor aos seus primitivos deuses.

No Brasil não foi diferente. Primeiro os portugueses, que quando chegaram implantaram danças típicas da santa terrinha. Só que o índio nem se tocou. Restou aos galegos somente dançarem entre si. Mais tarde, com a chegada do negro vindo acorrentado da África, os lusitanos assistiram boquiabertos aos escravos caírem dentro da sua própria dança. Na verdade, os negros nas senzalas, campos ou canaviais dançavam batucando seus tambores em louvor aos seus próprios Orixás. Orixás estes que nasceram diante do sincretismo da religião do branco colonizador.

Todas as danças nascidas ou desenvolvidas no Brasil chegaram aos dias atuais em formas de folguedos populares de ruas e próprios de cada religião brasileira.

Por isso, a escola de samba Arranco rende tributo para todas estas manifestações, notadamente para ACADEMIAS DE DANÇAS, que vivem a tradição de que dançar é o melhor remédio de corpo e alma para todos nós.

A Dança, nascida com o princípio do mundo, hoje está presente nas escolas de samba através do gingar dos passistas; na evolução das alas no bailado do mestre-sala e porta-bandeira e, finalmente, nas soberbas coreografias musicais das modernas e tão bem ensaiadas COMISSÕES DE FRENTE. São justamente para elas as homenagens do Arranco no Carnaval 2012.

Autor da sinopse: José Carlos Netto

Autores do Enredo: Jaime Arôxa, José Carlos Netto e Marquinhos do Toldo

COMENTÁRIOS: Assim como em 2008, o Arranco apresentará um enredo sobre a dança, porém com abordagem diferente. Desta vez será sobre a história da dança, desde seu surgimento. Interessante, porém a comparação entre desfiles pode ser inevitável. A dança também passou pelo grupo A em 2010, com a Santa Cruz. Mas a sinopse da agremiação do Engenho de Dentro é bastante completa, trazendo até mais informações do que talvez fosse o adequado para o grupo B. O enredo, mesmo não sendo original, acabou mostrando-se muito bonito e o Arranco sempre briga pelas primeiras posições, não devendo ser diferente em 2012.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Eliminatórias 2012 - Estação Primeira de Mangueira


A Mangueira recebeu a inscrição de nada menos que 244 sambas para sua disputa. Desses, apenas 38 foram selecionados para se apresentar na quadra da escola e no Cacique de Ramos. Um número bem pequeno diante da quantidade de inscritos. Será mesmo que havia mais de 200 sambas sem nenhum proveito? Até porque alguns dos classificados eram muito ruins. E apesar de algumas boas obras, a safra da Mangueira está inferior à do ano passado. A sinopse não ajudou muito, falando menos de Cacique e mais do surgimento do samba, deixando o bloco em segundo plano. Além de ser bastante extensa, o que pode ter deixado alguns compositores incertos do que seria relevante para entrar na letra. Dentre os melhores sambas, não há nenhum que se destaque mais, o que deixa a disputa ainda mais competitiva. Mais uma vez os nomes dos compositores não são divulgados, para não haver influência na avaliação das obras, sobretudo por parte do público.

Resumindo: Safra boa porém sem grandes destaques e inferior à do ano passado, prejudicada pela sinopse muito abrangente e com pouco destaque ao Cacique de Ramos.

Seguem abaixo os 3 melhores sambas das eliminatórias mangueirenses, de acordo com o Carnaval de Avenida:

O samba 85-B é um dos mais empolgantes. A melodia é mais acelerada e bem forte, mesmo tendo algumas variações não tão originais. Consegue ser bem compacto, resumindo bem o enredo e ainda citando pontos que não constam na sinopse, como a menção a palavra "caciquear" como verbo surgido devido ao Cacique de Ramos. Destaque melódico para o verso "dindinha, de pé no chão fez a semente" e para o refrão do meio. De negativo, o uso repetido da palavra tamarineira, que não é tão musical. Poderia ter sido usada apenas uma vez. Mas o samba é contagiante e deve ir longe na disputa, podendo até surpreender no final.



Compositores: ???
Intérprete: ???

Olha meu amor...
A Mangueira chegou
Nessa avenida vamos exaltar
O brilho negro que venceu a dor
Na profecia de Iemanjá
Embaixo da tamarineira
Num sonho de liberdade
Eu vi um cacique guerreiro
E o dom da floresta me ensinou
A raiz do meu destino
Plantei nessa terra, meu Rio de amor

Levantou a saia, nêga
Na festa da Penha pro "sinhô" rezar
Nos salões da burguesia
Não vi a magia do teu requebrar


Na pequena África, a devoção
A mãe baiana me abençoou
A minha tribo, a atração
Até a onça amansou
Dindinha, de pé no chão fez a semente
Caciquear a nossa gente
No verbo fiz meu carnaval
A chama não se apagou
Hoje o samba esquentou lá no fundo do quintal
Herdeiro de Oxossi eu sou, amor
Patrimônio cultural!

Sou fruto da tamarineira
Em verde e rosa vou festejar
Sou cacique, sou Mangueira
O “doce refúgio pra quem quer sambar”



O samba 107-E tem tudo pra ser um dos grandes favoritos. É um dos que melhor contempla o enredo de acordo com a sinopse e ainda consegue ser bastante original em letra e melodia. O refrão do meio é o grande destaque, com uma letra muito bonita e melodia diferenciada, apesar de ser meio acelerada, dificultando um pouco o canto. A repetição do trecho "olha meu amor", menção à música "Caciqueando", também ficou bacana. De negativo no samba apenas o refrão principal, que, apesar de ser "grudento" e empolgante, tem uma letra pobre. Mesmo assim a composição é forte candidata à vitória.



Compositores: ???
Intérprete: Igor Sorriso

Sonhei a liberdade
E o destino me levou ao novo lar
Chegando ao Rio de Janeiro, encontrei no meu terreiro
A alegria dessa festa popular
Levando a fé na minha batucada,
Fui pelas ruas arrastando a multidão
Contrariei a elite a bailar nos salões
Desfilei pelos ranchos, cordões
Fiz o meu carnaval
O Bafo da Onça passou a reinar
Até que o Cacique chegou pra ficar
E o samba firmou lá no fundo do nosso quintal

Vai lá, vai lá...
Mais um pouco e já vai clarear
Nosso show tem que continuar
Abre a roda, Cacique de Ramos
A gente não perde o prazer de cantar


Olha, meu amor...
Nessa onda que eu vou, com esses bambas imortais
Olha, meu amor...
De verde e rosa peço axé aos orixás
À sombra da Tamarineira, o doce refúgio da inspiração
Lá o samba é alta bandeira
Mas também mora em Mangueira,
A razão dos meus versos
Hoje vou conquistar o universo
Se até em Marte fiz sucesso,
O nosso grito vou eternizar

Vou caciquear
Não vou parar na quarta-feira
Vou caciquear e festejar na Estação Primeira



Explosivo do início ao fim, o samba 65-A possui melodia bem acelerada e contagiante, com variações interessantes mas nada de excepcional. O destaque está na letra, sobretudo na segunda parte. A repetição da palavra "sim", em menção à música "Doce Refúgio", foi bem realizado. Interessante o verso que fala do Bafo da Onça não como um bloco extinto, o que não é verdade, mas sim como grande rival do Cacique. Alguns pontos importantes do enredo foram deixados de lado, como a vinda dos escravos da África, ou abordados de forma um pouco subjetiva. O "na palma da mão" do refrão principal não combina muito com samba-enredo mas não compromete o conjunto. O refrão do meio é muito acelerado e difícil de cantar, sobretudo em seus dois primeiros versos. Destaque absoluto para o criativo e original "hei hei hei" no final da obra. Tem adversários bem fortes em uma disputa equilibrada e bem aberta, mas por seus diferenciais e por ser bem pra cima como o enredo pede, o Carnaval de Avenida aposta neste samba.



Compositores: ???
Intérprete: Tinga

Salve a tribo dos bambas
Um doce refúgio de inspiração
Salve o Palácio do Samba onde um simples verso se torna canção
Debaixo da tamarineira um índio guerreiro me fez recordar
Um lugar, um berço popular
Seguindo com os pés no chão
Raiz que se tornou religião
Da boêmia dos antigos carnavais
Não esquecerei jamais

Vem no batuque
Que eu quero sambar (Me leva)
Já começou a festa
Esqueça a dor da vida
Caciqueando na Avenida


Sim, vi o bloco passando
O nobre rezando e o povo a cantar
Sim, é o nó na garganta
Ver o Bafo da Onça a desfilar
Chora, chegou a hora eu não vou ligar
Minha cultura é arte popular
Nasceu em 'Fundo de Quintal'
Sou imortal e eu vou viver
Agonizar não é morrer
Mangueira fez o meu sonho acontecer
O povo não perde o prazer de cantar
O povo liberto que a voz ecoou
Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou

Vem festejar
Na palma da mão
Eu sou o samba, a voz do morro
Não dá pra conter tamanha emoção
Cacique e Mangueira num só coração

terça-feira, 26 de julho de 2011

Carnaval 2012 - Ordem dos desfiles dos Grupos C, D e E

Grupo C

INDEPENDENTE DE SÃO JOÃO DE MERITI

ROSA DE OURO

LINS IMPERIAL

UNIDOS DA PONTE

IMPÉRIO DA PRAÇA SECA

UNIDOS DE VILA KENNEDY

ARRASTÃO DE CASCADURA

FAVO DE ACARI

UNIDOS DA VILLA RICA

EM CIMA DA HORA

ACADÊMICOS DA ABOLIÇÃO

ACADÊMICOS DO SOSSEGO

BOI DA ILHA DO GOVERNADOR

UNIDOS DO JACAREZINHO

UNIDOS DO CABUÇU


Grupo D


FLOR DA MINA DO ANDARAI

UNIDOS DE COSMOS

VIZINHA FALADEIRA

ACADÊMICOS DO ENGENHO DA RAINHA

UNIDOS DO ANIL

MOCIDADE UNIDA DE JACAREPAGUÁ

UNIDOS DE LUCAS

LEÃO DE NOVA IGUACU

ACADÊMICOS DE VIGÁRIO GERAL

UNIDOS DE MANGUINHOS

GATO DE BONSUCESSO

CORACÕES UNIDOS DO AMARELINHO

ACADÊMICOS DO DENDÊ


Grupo E


CANÁRIOS DAS LARANJEIRAS

UNIDOS DO CABRAL

BOCA DE SIRÍ

MOCIDADE INDEPENDENTE DE INHAÚMA

PARAÍSO DA ALVORADA

UNIÃO DE VAZ LOBO

MATRIZ DE SÃO JOÃO DE MERITI

CHATUBA DE MESQUITA

MOCIDADE UNIDA DO SANTA MARTA

DELÍRIO DA ZONA OESTE

ARAME DE RICARDO

IMPERIAL DE NOVA IGUAÇU

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Eliminatórias 2012 - Vai começar tudo de novo!!!


"Meu Beija-Flor chegou a hora de botar pra fora a felicidade..."

"Eu sou Tijuca, estou em cartaz, sucesso na tela meu povo é quem faz..."

"Mangueira é nação, é comunidade. Minha festa, teu samba, ninguém vai calar..."

"Modéstia à parte, amigo, sou da Vila..."

"Meu Salgueiro, o Oscar sempre é da Academia..."

"A cura do corpo e da alma no samba está. Sou Imperatriz, sou raiz e não posso negar..."

"Chegou a Mocidade fazendo a alegria do povo, meu coração vai disparar de novo"

"Meu Tigre chegou, aplausos no ar..."

"Sou carioca e São Clemente, irreverente, minha paixão..."

"Caldeirão vai ferver, a Grande Rio chegou, vem trazer pra você uma poção de amor..."

"Lindo como o mar azul, meu grande amor, minha Portela..."

"Hoje eu quero brindar à Ilha, nesta avenida dos sonhos brilhar..."

"A minha sede é tremenda para a vitória chegar, sou Renascer de Jacarepaguá"

"Na Viradouro a esperança é aliança, é união"

"Simbolizando o amor, Estácio é o perfume da flor"

"Com teu verde e branco correndo na veia, Cubango incendeia"

"Quero gritar ao mundo inteiro, é Santa Cruz meu sonho verdadeiro"

"Hoje o Império é seu, desperta..."

"No mundo do samba, celeiro de bambas, chegou o meu Império"

"Vale a pena sonhar, acreditar, coração inocente é semente do amor..."

"Estou vidrado em você Rocinha, minha paixão, minha princesinha..."

"É Caetano Veloso, pode aplaudir, no Paraíso do Tuiuti"

Há cerca de 1 ano atrás estes sambas estavam sendo compostos. Passariam por uma longa disputa com concorrentes fortíssimos até serem escolhidos para representarem suas escolas no desfile de 2011.

O período de eliminatórias é uma das melhores partes do Carnaval. Dezenas de composições se apresentam a cada semana nas quadras num processo emocionante, que mexe com os torcedores. Quem acompanha de perto as escolas durante todo o ano sabe como é ouvir todos os concorrentes e escolher um pra torcer. Sabe como é frustrante ver seu samba perdendo pra outro nitidamente pior ou como é emocionante ver sua obra favorita sendo escolhida e entrando na história do Carnaval. E hoje em dia, com a facilidade de acesso às obras concorrentes, há muitos sambas eliminados que acabam fazendo até mais sucesso que os vencedores.

Assim como no ano passado, o Carnaval de Avenida fará uma análise das eliminatórias de todas as escolas dos grupos Especial e de Acesso A. E serão apresentados aqui aqueles que, na opinião do blog, são os 3 melhores de cada escola. Em 2010 nossos palpites foram muito bons, acertamos os sambas que participaram da final de várias escolas, além de também termos acertado muitos vencedores. Sim, porque além de mostrarmos os destaques de cada agremiação, vamos dizer qual é nossa aposta para o vencedor. Dê seus palpites também!

Nesta semana faremos a análise da primeira escola, a Mangueira, que já está a todo vapor na sua disputa. Convidamos você a passar por aqui sempre e ver quais nossos destaque para cada escola e deixar sua opinião também, sempre com muito respeito. Afinal, os sambas-enredo foram feitos por pessoas. Pessoas apaixonadas por samba e por suas escolas, que fazem um enorme esforço para terem a oportunidade de participar do concurso.

Uma ótima disputa a todos os compositores! Que as escolas tenham excelentes safras e sabedoria para escolher os melhores sambas. Boa sorte a todas!

sábado, 23 de julho de 2011

Sinopses 2012 - Unidos de Vila Isabel

VOCÊ SEMBA LÁ... QUE EU SAMBO CÁ! O CANTO LIVRE DE ANGOLA

O Brasil e Angola são ligados por laços afetivos, linguísticos e de sangue. São quase irmãos pela história que os une.

Desde a Antiguidade, já existiam bestiários que repertoriavam as estranhezas da fauna e das características geográficas. Segundo o jesuíta Sandoval (1625), “ Os calores e os desertos da África misturavam todas as espécies e raças de animais, em redor de poços, criando um ecossistema particular, capaz de engendrar hibridações monstruosas. Tal circunstancia fazia da África, o continente de todas bestialidades, o território de eleição do diabo.”

As bestialidades de que falava tal escritor eram hipopótamos e rinocerontes, chacais e hienas, zebras e girafas, avestruzes e palancas negras, entre outros.

A estranheza também era causada pela cor da pele de seus habitantes.

As regiões abaixo do deserto do Saara, chamadas de Ndongo e Matamba, eram habitadas por dois povos distintos: os ambundos e os jagas. Os primeiros eram excelentes ferreiros, cuja habilidade era muito apreciada. Os jagas, por sua vez, se destacavam como guerreiros invencíveis, pois se exercitavam diariamente em local apropriado a que chamavam de quilombo.

Na época da expansão marítima portuguesa, esses dois povos possuíam um soberano a que chamavam de Ngola.

No século XVII, a região de Angola era governada por uma rainha chamada Njinga, que era ambundo pela linhagem materna e jaga, pela paterna. Expressão do encontro de dois grupos étnicos, que apesar de semelhantes, tinham organizações distintas, Njinga os governou com sabedoria. A persistência do incômodo causado pelo seu sexo, entretanto, levou-a a assumir um comportamento masculino, liderando batalhas pessoalmente e vestindo de mulher seus muito concubinos, que faziam parte de seu harém.

Apesar da fama de Njinga ter sido construída na luta da resistência contra o domínio de Portugal, entre os portugueses o reconhecimento de seu talento político e capacidade de liderança surgiu a partir de seu desempenho como chefe de uma embaixada que o então Ngola do Ndongo, enviou ao governador português, em 1622. Recebida com uma pompa que deve tê-la impressionado, Njinga também teria causado impacto entre os portugueses ao agir e falar no mesmo idioma que o deles, como chefe política lúcida e articulada.

O interesse português era um só – mão de obra para outra colônia de além–mar, o Brasil. Embora fossem ricos em minerais, em diamantes, nada disso os interessou. Pois na época, o reino de Angola era o grande manancial abastecedor dos engenhos do Brasil. Sem o açúcar, não havia o Brasil. Sem negros não haveria o açúcar. Sem Angola, não havia negros. E, sem Angola não havia o Brasil.

Apesar da resistência de Njinga, o comércio era feito de modo avassalador. Os negros cativos ficavam em barracões, que podiam acolher cerca de 5.000 almas, que eram embarcadas rumo ao novo continente, em viagem longa, cuja duração podia ultrapassar dois meses, dependendo das condições climáticas. O porto e partida era Luanda, o maior centro de comércio escravagista africano. A cidade alcançara essa posição a partir do momento em que os escravos passaram a ser embarcados diretamente para as colônias americanas. Aproximadamente doze mil viagens foram feitas dos portos africanos para o Brasil, para vender, ao longo de três séculos, quatro milhões de escravos, aqui chegados vivos.

A despedida era simples. A cerimônia de batizado era na hora do embarque: - Seu nome é Pedro; o seu é João; o seu, Francisco, e assim por diante. Cada viajante recebia um pedaço de papel com um nome escrito. Então, um intérprete ironicamente dizia: “Sois filho de Deus, a caminho de terras portuguesas, esquecei tudo que se relaciona com o lugar de onde viestes, agora podeis ir e sede felizes”.

A morte social despe o escravo de seus ancestrais, de sua família, e de sua descendência. Retira-o de sua comunidade e de sua cultura. Ele é reduzido a um exílio perpétuo.

E lá se vão, num navio abarrotado, sem alimentos adequados, sem sequer espaço para se acomodarem. Levam na memória, os cantos, as danças, os ritmos, as tradições. Levam Njinga e seu espírito combativo, a levam na memória, apesar das ordens para esquecerem tudo....

Os navios negreiros aportavam no Cais do Valongo, longe do rebuliço da cidade. Alí os escravos viviam em depósitos, a espera para serem comprados. Pois foi em 1779, por ordem do Vice-Rei, marquês de Lavradio, que nesta região se localizaram o cais, o mercado e as precárias instalações para abrigar os recém chegados.

Por ironia do destino, foi neste mesmo cais, que anos mais tarde, receberia em 3 de setembro de 1843, a princesa Tereza Cristina, futura Imperatriz do Brasil, e também mãe da princesa Isabel, aquela que terminaria de vez com o regime de escravidão. O cais foi remodelado e uma cenografia decorativa escondia aos olhos reais as imagens da pobreza extrema e a humilhação a que eram submetidos os recém chegados.

Presente em vários lugares em que houve a escravidão, a coroação de um rei e uma rainha negra era uma forma de diminuir o sentimento de inferioridade social, assim como as irmandades permitiam a reunião para reverenciar algum santo, mas sobretudo como relacionamento social entre os escravos.

“Nesta santa irmandade se farão todos os anos hum Rey e huma rainha os quais serão de Angolla, e serão de bom procedimento, e terá o rey tão bem seu voto em meza todas as vezes que se fizer visto da sua esmolla avantajada.” O titulo a que se dava era Rei do Congo e a Rainha Njinga. A fama de Njinga atravessou os séculos e os mares, sendo evocada em festas populares no Brasil. Mas antes de se alojar no imaginário popular, as lições de Njinga foram muito provavelmente postas em prática na luta dos quilombolas de Palmares.

Com o intuito de se divertirem, as irmandades aproveitavam-se das comemorações dos dias dedicados a este ou aquele santo, para organizarem seus festejos. E era quase que o ano inteiro, pois S. Pedro, S. João, Santo Antonio, o Espírito Santo e outros tantos mais, se espalhavam no calendário. Tudo era oportunidade para comemorações festivas.

Na Festa do Divino, segundo Manuel Antonio de Almeida, embora os músicos fossem muito apreciados pelo publico, ele considerava que eram desafinados e desacertados: “Meia dúzia de aprendizes de barbeiro, negros, armados este, com um pistom desafinado, aquele com trompa diabolicamente rouca formavam uma orquestra desconcertada, porém estrondosa, que fazia as delicias dos que não cabiam ou não queriam estar dentro da igreja. Mas era musica buliçosa, um convite aos jovens à dança”. Os instrumentos que usavam eram basicamente trombetas, trompas, cornetas, clarinetas e flautas e os de corda – as rabecas, violões, tambores, bumbos e triângulos também eram encontrados.

A festa reunia uma enorme economia e produção. Os fogos, no Campo de Santana, era a maior atração. Depois as barracas, com comidas e bebidas, show de ginástica e muita cantoria. A que fazia mais sucesso, entretanto, era a barraca conhecida como Três Cidras do Amor, frequentada pela família e pelo escravo, pela plebe e a burguesia. Era um salão um tanto acanhado. Num dos cantos havia um teatrinho de bonecos com cenas jocosas e honestas. O conjunto de atrações das Três Cidras do Amor era longo e variado. Peças como Judas em Sábado de Aleluia eram encenadas. Depois do inicio do baile com valsas, as apresentações cada vez mais se afastavam de uma pretensa seriedade, e a dança tradicional e eletrizante do povo brasileiro assumiam o espaço, com os dançarinos bamboleando, cantando, requebrando-se, ondulando as nádegas a externuar-se, e dando umbigadas. Os homens e as mulheres que realizavam os indefinidos e inimitáveis requebros, umbigadas e movimentos lascivos não nasceram nos ricos salões de baile, estavam nas ruas, reuniam-se nas festas de largo, onde seus ritmos prediletos eram apresentados como atração e divertimento.

A junção dos violões, cavaquinhos e flautas já era praticada pelos músicos barbeiros,ou como insistem alguns especialistas, havia sido realizada nos casebres populares do Rio, mais precisamente na Cidade Nova.

Lá, destaca-se Tia Ciata, dando continuidade aos festejos que já aconteciam no Campo de Santana, abandonado pelos festeiros após a Reforma do local. Tia Ciata nasceu em Salvador em 1854, e aos 22 anos, trouxe da Bahia o samba para o Rio de Janeiro. Foi a mais famosa das tias baianas, trazendo também o candomblé, do qual era uma ialorixá. Na Casa da Tia Ciata ecoavam livremente os batuques do samba e do candomblé.

Segundo Mary Karash, das danças escravas, como o lundu, capoeira e jardineira, a que ficou conhecida no século XIX por “batuque” é a mais próxima do samba carioca moderno.

O termo SAMBA, possuía uma clara origem angolana. O verbo kusamba, que significava saltear e pular, provavelmente expressasse uma grande sensação de felicidade.

Hoje,"O Samba é considerado como um produto da história social brasileira". De acordo com o presidente do Iphan, "O gênero musical e coreográfico pode ser considerado tanto como sendo próprio de comunidades culturais identificáveis (executantes e brincantes inseridos em agrupamentos sociais de pequena escala) e também no contexto da vida urbana, e da indústria cultural mediatizada. O vigor do Samba enquanto gênero cultural encontra-se em sua plasticidade e capacidade de gerar inúmeras variantes, como o samba-de-roda, o samba carioca, o samba rural paulista, a bossa nova, o samba-reggae e outros mais, em suas diversas interpretações."

Aqui na Vila Isabel, que é de Noel, e de Martinho, devemos a ele esta história. Ele que, nos anos 70, fez sua primeira viagem ao continente negro e durante muitos anos foi a ponte entre o Brasil e Angola, sendo considerado um Embaixador Cultural. Levou a música brasileira como um presente ao povo amigo e irmão, através das vozes tão brasileiras de Caymmi, João Nogueira, Clara Nunes e ainda Chico Buarque, Miúcha, Djavan, D. Ivone Lara, entre outros. Três anos mais tarde, Martinho elaborou um projeto trazendo a música angolana para os brasileiros, a que chamou de O Canto livre de Angola.

Nosso samba.... seu semba ...por isso enquanto eu sambo cá.... você semba lá...

Rosa Magalhães (Carnavalesca) & Alex Varela (historiador)


COMENTÁRIOS: Rosa Magalhães é outra carnavalesca que terá de superar desafios em 2012. Realizará seu primeiro desfile afro e terá que se preparar para desfilar à luz do dia, já que a Vila será a sétima escola de domingo. Sem invencionices, a sinopse cumpre de forma excelente seu papel, expondo tudo o que é o enredo. De caráter histórico e cultural, com a cara de Rosa, o texto está muito bem amarrado e descreve toda a história que a escola pretende contar. É pontuado pela relação entre o semba e o samba e a ligação existente entre a própria agremiação e Angola, através de Martinho da Vila, considerado Embaixador Cultural do país africano no Brasil. Ótimo trabalho da escola de Noel, que tem tudo para encerrar o primeiro dia de desfiles com muita força e emoção.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sinopses 2012 - Unidos da Tijuca

O DIA EM QUE TODA A REALEZA DESEMBARCOU NA AVENIDA PARA COROAR O REI LUIZ DO SERTÃO

 “Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão;
que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes,
os valentes, os covardes, o amor.”
Luiz Gonzaga

Toca a sanfona porque a festa vai começar!
Abre e fecha esse fole que a comitiva vai chegar
A Avenida é a estrada que leva sertão adentro
E ninguém que aqui está esquecerá esse momento.

De lembrar que, em noite de estrela, nasceu um rei no sertão
Que virou majestade de tanto ensinar o baião
Andando e cantando a história de seu povo
Cem anos depois, ele vai ser coroado de novo.

Convidamos reis e rainhas pra mostrar que desde menino
Luiz Gonzaga, o Lua, já tinha de astro o destino
Mostrava o sorriso e a alegria, cantava e dava lição
Mas lá no fundo guardava saudade no coração.

Senhoras e senhores, o roteiro dessa viagem
Leva a terras distantes, onde um povo de coragem
Desafia a seca e a poeira, do barro ganha a vida
Esculpe a terra, tece a renda, de sol a sol nessa lida

No mercado, montam a banca e é bonito de se ver
E de tudo que há no mundo, nele tem para vender
Cores, cheiros, sabores da cultura nordestina
Lá se compra toda a sorte dessa vida Severina.

Segue o comboio real, vai cruzando o caminho
No lombo do burro, chega às terras de Vitalino
O mestre da escultura, que todo mundo copia
Bonecos que contam a vida, as coisas do dia a dia.

Mas pra conhecer o sertão, é preciso ter coragem
Atravessar a caatinga, seguir em frente a viagem
Pedir benção, rezar com fé, ser beato, ser romeiro
E reunir com toda a tropa, lá na Missa do Vaqueiro.

Senhores, rainhas e reis, o Rei do Baião anuncia
Que, depois de tanta reza, vai crescer a valentia
É pegar a beira do rio, é ser Lampião e Corisco
Pra conhecer a beleza do Vale do São Francisco.

Andar pela margem pra ver a vida que brota dos rios
O Velho Chico crescendo, com água que vem dos baixios
A cana, os frutos, o gado, o canto do passarinho
Cantar a saudade do rei, desse tempo de menino,

Toca a boiada, vaqueiro! Segue em guarda o cangaço
Que cada afluente que corre do Velho Chico é um braço
Desce pro sul até ver carrancas que trazem a sorte
A cara feia que espanta não deixa ter medo da morte.

“Simbora” que vem a noite, é hora de ver balão
Que as festas já começaram, tem “arraiá”, tem quentão
São José foi no plantio, na colheita é São João
A quadrilha já tá pronta, vai ter forró e baião.

E a sanfona anima o povo, todos vão se apresentar
Pra comitiva real, ao som do fole brincar
Bumba meu boi, maracatu, frevo, pagode e reisado
E tudo que precisar pra gente ficar animado.

Foi cantando pelo sertão que Gonzaga virou rei
De tanto cantarem junto, sua canção hoje é lei
Da poesia na praça, da valentia e coragem
Sua lição ganha as rádios, difunde sua mensagem.

Nas estações onde passa, vai contando sua vida
Espalha alegria e raça, hoje ganha a Avenida
E a Tijuca agora brinca e pra todo o mundo diz
Que a estrela de Gonzaga no céu descansa feliz.

Paulo Barros (carnavalesco)
Isabel Azevedo
Simone Martins
Ana Paula Trindade

COMENTÁRIOS: O enredo de 2012 da Unidos da Tijuca será o maior desafio de Paulo Barros no Grupo Especial. O carnavalesco deverá desenvolver um tema cultural com grande apelo popular, completamente diferente do que vinha fazendo. Ou vai ou racha. O enredo é muito bom e a sinopse é mais uma produzida em forma de poesia. Bem curta, contém tudo o que será mostrado na Sapucaí, segundo disse o próprio carnavalesco. A abordagem não é tanto sobre a vida de Luiz Gonzaga mas sim sobre sua relação com seu povo e sua terra, que ele tanto cantou em suas músicas. Será o primeiro enredo cultural da Tijuca desde 2003. Por enquanto, Paulo Barros vai se saindo bem. Se tudo der certo, não será só o Rei do Baião que sairá coroado da avenida.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sinopses 2012 - Portela

...E O POVO NA RUA CANTANDO É FEITO UMA REZA, UM RITUAL...

Pequena Prece ao Senhor do Bonfim

Salve, meu Pai Oxalá, Meu Senhor do Bonfim!
Senhor do branco, pai da luz.
Força divina do amor...
Epa Babá!

Meu pai, “... sou filha de Angola, de Ketu e Nagô
Não sou de brincadeira
Canto pelos sete cantos
Não temo quebrantos
Porque eu sou guerreira
Dentro do samba eu nasci,
Me criei, me converti
E ninguém vai tombar a minha bandeira.”

E venho a ti pedir sua benção e proteção, e pedir, também, licença aos meus padroeiros, para conduzir a minha águia altaneira, o meu altar do samba, até a sua presença.

Sabe, meu senhor, sempre fomos muito festeiros, muito devotos, e gostaria muito que o meu povo conhecesse o seu povo e a sua maneira de festejar, de reverenciar a sua crença, a sua fé.

Por muitas vezes cantei a Bahia, agora chegou a hora de mostrá-la.

“... essa Bahia gostosa
Cheia de encanto e feitiço
Que deixa a gente dengosa
E a gente nem dá por isso”

Bahia que tem o dom de encantar.
Terra em que o branco e o negro, o sagrado e o profano, o afro e o barroco se misturam e se tornam uma coisa só. No mar da Bahia, tudo e todos se misturam.
Bahia de vários corações... sagrados corações.
Terra de cores, cheiros e temperos.
Terra de festas e de fé, de santos e orixás.
Terra de samba.
Terra de amor e devoção.
A Bahia é festa o ano todo e o povo vai pra rua manifestar a sua fé.

“... E esse canto bonito que vem da alvorada.”

Alvoradas, missas, procissões, afinal “quem tem fé vai a pé”.
Novenas, flores, fitas, águas e perfumes.
Cortejos, fiéis e cânticos.
Velas, orações e adoração.
Gente que dança!
Tambores e atabaques, samba de roda, batucadas.
Comidas, pois festa sem comida não é na Bahia.
Gente que canta!
Canta pro santo, canta pro orixá. Canta para os dois ao mesmo tempo. É o sincretismo se fazendo presente.
Louva a alegria, a liberdade, a esperança.
Gente que pula!
Pula como pipoca, como cordeiro, em blocos e trios. Transforma as ruas em um mar branco, de paz.
Mar branco, mar vermelho, mar azul. Bahia é feita de mar, é feita de água.
Gente que louva!
Beatos, filhos-de-santo, padres, mães-de-santo, fiéis e iaôs, todos juntos num mesmo ideal. Deuses e mortais, passado e presente.
Altares e terreiros, tudo é mistério. As divindades tão próximas e tão íntimas. O milagre da cumplicidade com o sagrado.
A luz dos orixás refletida nos olhares.

“... Tem um mistério que bate no coração
Força de uma canção que tem o dom de encantar.”

É dia de festa na Bahia. Não importa como começou. Não importa se um dia tudo vai terminar, pois o riso e o gesto já estão gravados na eternidade, no céu e no mar.
Bem aventurados todos aqueles que puderem ver a Bahia em festa.

E neste momento, meu Senhor, vejo que tudo aquilo que move o baiano: a fé, a alegria, a esperança, a crença e a devoção, move também o meu povo, o portelense.

Um povo que nunca desiste, vive a sorrir e a festejar.

E que essa Bahia que é de Todos os Santos, seja a partir de então dos santos da Portela também, que eles passem a fazer parte do seu panteão, estendendo sobre eles o seu divino manto e nos conduza a um desfile triunfal sobre o altar do carnaval.

Bem aventurados aqueles que puderem ver a Portela em festa.
Afinal,
Sou Clara,
Sou Portela,
Sou Guerreiros,
Sou Amor!

Salve o manto azul e branco.
Amém!

Paulo Menezes
Enredo: Paulo Menezes e Marquinhos de Oswaldo Cruz

COMENTÁRIOS: Acho que nunca tivemos um Carnaval com tantas sinopses em forma de poesia. A da Portela é mais uma, porém com um texto menos linear, sem versos e estrofes definidos. É muito bonita, mas não sei como a escola vai preencher sete setores com as informações apresentadas. O enredo não ficou muito claro, parece uma ode à Bahia que não se aprofunda em nenhum tema específico. Foi divulgado que seria sobre as festas de rua baianas - e há uma menção ao Carnaval de Salvador - porém, mesmo que subjetivamente, não identifiquei muitas outras festas propriamente ditas. Também já foi dito que Clara Nunes seria o fio condutor, mas ela é citada apenas no fim e não parece ter relação com o resto. É um belo texto, mas não esclarece o que a escola quer mostrar. Interessante a citação aos "Guerreiros", no final, que imagino que se refira aos Guerreiros da Águia, torcida organizada da Portela. Até certo tempo atrás especulava-se Serra Gaúcha ou Biblioteca Nacional para enredo da escola. A escolha da Bahia foi repentina e soou como aleatória. Será preciso que a azul e branca amadureça o enredo e capriche em sua execução. A posição de desfile não é boa e a constante crise interna da escola parece não ter fim. Boa sorte à Portela.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sinopses 2012 - São Clemente

UMA AVENTURA MUSICAL NA SAPUCAÍ

A São Clemente tem uma espécie de dever: dever de sonhar, e sonhar sempre!
E assim nossa escola se constrói em ouros e sedas,
Inventa palcos, cenários, para viver o seu sonho:
Lutar quando é fácil ceder, vencer o inimigo invencível, negar quando a regra é
vender; voar num limite improvável, tocar o inacessível chão!
( Do musical Homem de La Mancha, e da poesia de Fernando Pessoa)

GRES SÃO CLEMENTE – CARNAVAL 2012
ENREDO: UMA AVENTURA MUSICAL NA SAPUCAÍ

Na escuridão do terceiro-sinal, foco de luz no mestre-maestro, delirantemente aplaudido pela gente que vai assistir a aventura musical. Silêncio.

Prólogo: Seguindo o apito e a batuta, a orquestra no recuo do fosso ataca, e há música encantadora no ar; é quando a cortina amarelo-negra abre-se lentamente! “Gatos” (Cats) esgueiram-se na arquibancada/plateia, e vão evocando as “memórias”, refazendo a história: “ Senhoras e senhores, bem-vindos ao desfile do “ Teatro Musical Brasileiro”! E por quê apaixona-se a São Clemente pelo início doteatro musicado no Brasil? Porque, como Ela, as operetas curtas daquele tempo eram satíricas, críticas e irreverentes. E aproximavam o povão da mais fina arte! Influência francesa que gerou nos trópicos, um “u-lá-lá” prá lá da malandragem. Mais ou menos 1850. Bom humor era tudo, rapidez rimava com qualidade, e, pra quem entende, um pingo é letra: a parisiense nasceu na Lapa, e ia da quadrilha à canção, do xote à valsa, da mazurca ao tango. Só no truque da ingênua maliciosa, e o diabo que a carregue lá pra casa.

Luz em resistência. Um astro vai descendo a alegórica escadaria de luzinhas piscantes, acompanhado daquilo que secretamente nos bastidores chamamos da sua “Comissão de Frente”: Lindíssimas vedetes, em maiôs cavados com franjas de diamantes falsos e transparência sobre os seios, escoltadas por bailarinos, luxuosamente vestidos em fraques. A vida é um “Cabaret”. Ouve-se a voz do Mestre de Cerimônia: “ Ora, se os desfiles das Escolas de Samba são os maiores dos musicais de que se tem notícia, nada melhor que esta grande aventura musical clementiana falar em ritmo de samba, de como viveu e vive este grande e longevo negócio que reúne na ribalta empresários, artistas, técnicos: a tal gente do show business – nós! Avante legítimas representantes carnavalizadas desta verve, as Comissões de Frente, espetáculo à parte na Avenida, quando sobem pernas, arrancam roupas, despertam o aplauso e o inesperado acontece: é a Broadway tupiniquim! A abertura é mágica!”.

O palco/passarela abre-se, e sobe o espetacular elevador com a montanha verdejante onde “A Noviça Rebelde” rodopia, cantando para suas crianças que a “Música, é Divina Música”: “Precisa de dinheiro prá botar o bloco na rua, levantar cenários, contratar estrelas, fazer figurinos, vender bilhetes e acender a rica luz: aí o prazer do público é total, quando a bela Estrela seminua com cara de safadinha, faz biquinho e começa solfejando os acordes”.

Desce da escuridão do urdimento a magistral teia com a “Mulher Aranha”, arrebatadora Rainha e Madrinha da Companhia. Das laterais, no chão surgem as mulutas com o estonteante figurino “Sopro de Purpurina”. O primeiro setor de assentos, em suspense, puxa o fôlego, sem acreditar na tamanha opulência flutuante sobre si. Confetes prateados caem salpicados. A aracnídea está em êxtase, pendurada quase solta no espaço, e declama coquete: “Leques de plumas abanam em glória a primeira das grandes: Chiquinha Gonzaga! E o Brasil era cantado em prosa, verso e música em 1885, com um pé no caipira e outro na cidade grande. Festa de São João, conversa de botequim, prosa de malandro, vida de bairro, amor feliz. Artur Azevedo aparece logo depois, saindo através de uma cortina de gotas de vidro: adorava meter o pau (ui!) no político-social, sem jamais esquecer “pernas à mostra e seios nus...”. Igualzinho ao carnaval! Olhar bem humorado, uma forma de ver a vida: temas alegres, língua apimentada e um bububú no bobobó. Duplo sentido, para um povo cujo sexto sentido avisava que de perto ninguém é normal.

Uma parede de elásticos brilhosos é atravessada por ritmistas, quando ouve-se a sirene: - Teatro?, pergunta a “Bela”. – Musical?, devolve a “Fera”. – Sapucaí!, Exclamam os dois juntos. Entre românticos balanços de flores, o casal avança na
narrativa: “ A cena, a dança, a cantoria. Sopravam ventos de influência da Liberdade, América, numa revolução cenográfica e coreográfica. Tiraram a orquestra, botaram a banda, e o público exigia que arrancassem as meias daquelas pernas que eles queriam ver em pele. E veio a fantasia musicada na Praça Tiradentes: era hora das estrelas de primeira grandeza dando ataque e atraindo multidões, divas da pá-virada em decotes abissais e rabo de pernas raras. Fila na porta, empurra-empurra e o ingresso a tapa: todos pagavam pra ver a belíssima e talentosa Loura falsa”.

Do balcão da Casa Rosada, envolta na fumaça de gelo-seco e construído de papelão e compensado, “Evita” Perón abre os braços. E, em vez de cantar “Não Chores por Mim Argentina”, inesperadamente faz seu tributo de amor ao musical brasileiro, porque o espetáculo não pode parar ( a não ser na frente do júri), e continua dobrando a esquina: “Foi aí que o jogo avançou: girou a roleta do Cassino, porque o Brasil Pandeiro esquentava seus tamborins e fazia os dados rolarem. Todo o país queria Rosetá e em 1945 Walter Pinto mandava: “Canta Brasil”. E não é que o país resolveu investir? A maquinaria espetaculosa em efeitos de cena se tornou tão importante quanto as Estrelas. Abre e fecha, sobre e desce, acende e apaga, ou dá ou desce! Deus é brasileiro, é do limão estrangeiro fez-se uma limonada à tropicália, e o Brasil conhecia o Brasil. Deu tão certo que o mito grego Orfeu, quem diria, foi parar na favela brasileira; e a querida senhora Pigmalião armou sua barraca de feira por aqui. Com Carlos Machado o musical brasileiro alcança sucesso internacional”.

Uma gaiola espelhada é trazida pelo ciclone do “Mágico de Oz” e dentro está a menina Dorothy. Guardas com cassetetes de strass batem no pobre Homem de Lata. “Os Miseráveis” surgem pelas laterais, tentando socorrer. Parte triste da História, tentam calar os Musicais Brasileiros: “ A língua do Zé-Povinho estava afiada e fazia anedotas com a vida dos poderosos. Tudo devidamente amordaçado pela censura, que fez a cortina fechar pelos idos dos 60. Proibido proibir deu nó em pingo d’água e fez a tigresa (Sonia Braga) estrelar e deixar todo mundo de cabelo (Hair) em pé, tal a força deste libelo, que duas vezes o Brasil aclamou seduzido por tanta qualidade ideológica e musical. Acordes para os hippies. Faça humor, não faça a guerra,
nós temos um sonho: deixe o sol entrar! Foi uma Roda-Viva para os brasileiros, cuja profissão sempre foi a esperança. Como Calabar resistiram, a Gota d’água no oceano da incompreensão”.

Deitada numa lua de paetês surge “Vitor ou Vitória”. A indecifrável fala sobre gays, machões e lembranças musicadas: “Nisso jogaram gliter. Anunciada a era e Aquarius, houve o rompimento, a mudança, a fuga dos padrões e a busca do novo. Deboche de músculos másculos, pernas cabeludas, cílios postiços e saltos altos. Foi com os Dzi croquetes que devolvemos à Europa o que dela tínhamos recebido um século antes: o vigor do teatro musicado, desta feita, andrógino. Mas isso era só um lado da moeda. Faltava um pedaço, aquela marca de pegador do brasileiro, do machão que não é Mané. E a sacada da Ópera do Malandro foi fazer do Brasil um bordel, quando o homem brasileiro assumiu de vez sua vocação para o cantar, dançar e interpretar. No rodopio dos 80 e 90, do conteúdo político partimos para revisitar os mitos de nossa música popular. Ganhou o samba, que viu de novo Assis Valente, as Irmãs Batista e Elizeth Cardoso, revividas e exaltadas em grandes montagens; a música popular brasileira virou fio condutor de uma torrente de paixões”.

Todo o elenco internacional de imorredouros personagens, para sempre em nossos corações, estão em cena. Entraram Arlequins, Pierrots e Colombinas para receberem calorosos a carroça brasileira dos Saltimbancos, que fez cantar gerações seguidas de crianças, e “Sassaricando, e o Rio inventou a Marchinha...”. O flash, a emoção do sassarico, porque sem sassaricar, esta vida é o “ó”! Maria escandalosa junto com a Galinha e o Jumento, brasileiríssimos, cantam “Yes, Nós temos Bananas”. Pós modernos, falam da virada do terceiro milêni.: O Brasil e o mundo, a aldeia global fazendo prosperar abaixo da linha do Equador o que antes era reserva de Nova York, Lãs Vegas, Paris e Londres: o trânsito de diretores, produtores, autores, a festa das plateias brasileiras. O mistério extraordinário do musical: Raia equilibrava-se na pequena Loja dos Horrores; esfregávamos os olhos para saber se era verdade que a mesma Bibi que cantava o pequeno pardal Piaf, também se rasgava nas estranhas ao cantar os fados de Amália; Marília podia ser Dalva de Oliveira ou Elis, ou todas Elas por Ela; e agora José Mayer é o definitivo Violinista no Telhado.

Grande dança final, com toda a companhia executando impecavelmente a marcação coreográfica e o canto afinado do Samba-Enredo. Ciclorama da vida, mágica do Teatro, entretenimento profissional apaixonado. A fagulha que restará eterna. Milhares de microlãmpadas formam palmeiras artificiais, orgulhosas de serem simulacros. Micos leão dourados de acetato caem penduradas. “Deus lhe pague”: “Dizer que conseguimos copiar de maneira impecável as montagens estrangeiras é pouco: damos um passo à frente, vamos além da virtuose técnica, adicionamos à perfeição deles o chica-chica-boom da gente bronzeada que faz pulsar o já montado, de maneira diferenciada. Há um quê de povo renovador em nós”.

Epílogo: surge o Fantasma da Ópera voando a bordo de seu colossal lustre de cristal. Por trás da mascar misteriosa, há uma lágrima verde-amarela, de amor a esta gente incansável que monta Musicais. São os sonhadores: “Musicais são janelas para o imaginário de um povo, cuja qualidade é viver no País das Maravilhas. Que a Ópera de Paris seja a Marquês de Sapucaí e que o fantasma vague em nossas memórias, reafirmando o direito ao sonho. Mascaradas, faces de papel em desfile, é chegada a hora. Avante brincantes do mundo do carnaval musical, pois não há, no mundo dos humanos, gente parecida contigo. Vai ter fim a infinita aflição, e o mundo vai ver uma flor brotar, do impossível chão!”.

Feliz é a São Clemente, que da grandeza deste gênero faz o seu carnaval. Feliz meu samba, que sai pela vida em alegria incontida, nessa maravilha aventura musical. Revoada de graças translúcidas parte em direção ao por do sol, no infinito. O
perfil de Carmem Miranda vai beijando Renato Russo, até desaparecer no Black-out. Cai o Pano.

Fábio Ricardo
São Clemente 2012

Pesquisa: Tânia Brandão e Marcos Roza

COMENTÁRIOS: Muito interessante e uma grata surpresa a sinopse da São Clemente. O enredo sobre os musicais já é muito bom e proporciona muito material a ser abordado. O texto, apesar de ser um pouco "colcha de retalhos", vai entrelaçando histórias e personagens de uma forma encantadora e envolvente, contendo ainda uma pitada da tradicional irreverência da escola. O melhor enredo da agremiação nos últimos anos. E como nem só de boas ideias vive o Carnaval hoje em dia, a São Clemente também já estabeleceu parcerias que devem melhorar o lado financeiro da escola. O caso é que quem considera a amarela e preta "café com leite" pode se surpreender. Desfilando duas vezes seguidas no grupo Especial pela primeira vez em muitos anos, a São Clemente vem disposta e permanecer. E tomara que consiga.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Carnaval 2012 - Ordem dos desfiles dos Grupo A e B

GRUPO DE ACESSO A - Sábado

1- Paraíso do Tuiuti
2- Acadêmicos da Rocinha
3- Estácio de Sá
4- Inocentes de Belford Roxo
5- Império da Tijuca
6- Unidos do Viradouro
7- Acadêmicos de Santa Cruz
8- Império Serrano
9- Acadêmicos do Cubango

GRUPO DE ACESSO B - Terça-feira

1- Unidos da Vila Santa Tereza
2- União de Jacarepaguá
3- Sereno de Campo Grande
4- Alegria da Zona Sul
5- Arranco do Engenho de Dentro
6- União do Parque Curicica
7- Mocidade de Vicente de Carvalho
8- Tradição
9- Caprichosos de Pilares
10- Unidos de Padre Miguel
11- Difícil é o Nome

Sinopses 2012 - Unidos do Viradouro


Justificativa

Adentrar o universo de Nelson Rodrigues parece tarefa das mais improváveis, porém através de nosso desfile, faremos esta tentativa. Falar de sua vida, de sua obra é lançar um olhar sobre nós mesmos, despidos de todo o senso de pudor.

O certo é ver que apesar de tantos julgamentos a respeito de seu legado, Nelson Rodrigues acompanhou com reflexões profundas a vida do país que ele via a sua frente, como testemunha e ator de eventos cruciais de nossa história recente.

Através de suas frases memoráveis, somamos as suas experiências da vida e seu pensamento a respeito dela. A vida como ela é, reflete este caleidoscópio, multiface de suas opiniões que variam entre o cáustico e o irônico, passando pelo cinismo velado, sobre os tipos cariocas, seu cotidiano e as relações familiares, além da política e claro, a sua paixão, o futebol.

A Viradouro ao apresentar Nelson Rodrigues como tema, ousa retratar de certa forma o pensamento desse grande gênio de nossa literatura e dramaturgia, usando como álibi uma de suas frases: Toda unanimidade é burra!

Nelson,

Sou eu o samba, que te pede passagem, sou a Viradouro a fazer a viagem em seu universo irreverente, aos subúrbios da sua inspiração. Pela lente de seu olhar, serei a realidade inventada, infielmente retratada da vida como ela é, a sua, cruel e crua a girar no carrossel da emoção.

Eis-me aqui qual anjo pornográfico, a desfilar na rua, num delírio de carnaval, a te invadir a alma, te espiar a mente, perverso, eloquente, assim, como quem trai ou mente, não ver a mulher nua, pelo buraco da fechadura. Serei a flor de obsessão que desabrocha, fruta madura regada de drama e humor.

Vou me tornar todas as mulheres, rasgadas das páginas de Suzana Flag, escravas do amor, destinadas a pecar e a amar demais algum homem proibido. Caberá em mim o que é descabido, assassinos passionais, suicidas enlouquecidos.

Viverei aquelas gordas fofoqueiras, viúvas tristes ou solteiras ressentidas, e nelas encarnarei aqui, o flerte, o adultério, o romance fugaz e o eterno amor. Serei a feia, a interessante, a esposa, a amante, engraçadinha, a bonitinha, a dama do lotação ou então quem sabe, Nelson, aquela que morde, a que arranha e aquela que apanha, pura, casta e sem pudor.

Lembrarei de momentos mágicos, do Mário Filho abarrotado, dos domingos ensolarados, de futebol e picolé, serei o Sobrenatural de Almeida, o inexplicável, o oculto que habita a sombra das chuteiras imortais, me tornarei seu craque predileto, sem caráter. Posso ser também Didi, Garrincha e Pelé.

Estarei na torcida que agita, a xingar o juiz ladrão que errado apita, e na bola que se ajeita pro gol daqueles Fla-Flus ancestrais. Entrarei na discussão dos bares com a cabeça cheia, falando dos lances, dos romances da vida alheia e da sua grande paixão, e se preciso for, virarei a casaca, me farei de pó-de-arroz de corpo e alma, e pra te fazer graça, tricolor de coração.

Abrirei as cortinas do seu teatro, sem o embargo da censura, e exporei a arte, a vida, a realidade pura, a lâmina afiada a rasgar a carne da plateia num desafio, e arrancar-lhes o aplauso, ou o asco, ou o arrepio, e até mesmo o silencio da incompreensão. Serei o seu grito na boca de cena, a fala cotidiana da verdade plena, aberta para a consagração.

E morrerei todas as noites, eventualmente duas, aos sábados e domingos em todas as vesperais, na pele de seus personagens, vestirei pra sempre as suas fantasias que bem poderiam ser reais. De vestido de noiva ou em toda a nudez, serei castigado como a serpente, no juízo crítico, inclemente, com ou sem pecado, perdoado e sem perdão, sob as luzes da ribalta, no palco da sua mais incrível imaginação, senhor Rodrigues.

Por fim, iluminarei a grande tela e vou estrelar sua obra, projetando o filme que passou na sua mente, e revelar na Viradouro que seu espírito paira no viver real de nossa gente. Hoje, você é o anjo que nos cuida, anjo escritor, teatrólogo e jornalista, anjo desconhecido, indecifrável; anjo de todos os sentidos, dos escancarados e dos escondidos, de nossa burra, porém verdadeira unanimidade. Obcecado anjo chamado Nelson Rodrigues, que em frases nos define a vida como ela é, bonitinha mas ordinária.

Nelson por Nelson

“Nasci a 23 de agosto de 1912, no Recife, Pernambuco. Vejam vocês: eu nascia na rua Dr. João Ramos (Capunga) e, ao mesmo tempo, Mata-Hari ateava paixões e suicídios nas esquinas e botecos de Paris. Era a espiã de um seio só e não sabia que ia ser fuzilada. Que fazia ela, e que fazia o marechal Joffre, então apenas general, enquanto eu nascia? A belle époque já trazia no ventre a primeira batalha do Marne. Mas por que “espiã de um seio só?” Não ponho minha mão no fogo por uma mutilação que talvez seja uma doce, uma compassiva fantasia. Seja como for, o seio solitário é, a um só tempo, absurdamente triste e altamente promocional.

Mas a belle époque não é a defunta que, de momento, me interessa. Tenho mortos e vivos mais urgentes. Por outro lado, minhas lembranças não terão nenhuma ordem cronológica. Hoje posso falar do kaiser, amanhã do Otto Lara Resende, depois de amanhã do czar, domingo do Roberto Campos. E por que não do Schmidt? Como não falar de Augusto Frederico Schmidt? Seu nome ainda tem a atualidade, a tensão, a magia da presença física. Todavia, deixemos o Schmidt para depois. O que eu quero dizer é que estas são memórias do passado, do presente, do futuro e de várias alucinações”. (p.11)

“Toda a minha primeira infância tem gosto de caju e de pitanga. Caju de praia e pitanga brava. Hoje, tenho 54 anos bem sofridos e bem suados (confesso minha idade com um cordial descaro, porque, ao contrário do Tristão de Athayde, não odeio a velhice). Mas como ia dizendo: - ainda hoje, quando provo uma pitanga ou um caju contemporâneo, sou raptado por um desses movimentos proustianos, por um desses processos regressivos e fatais”. (p.15)

“1913. O que a memória consciente preservou de Olinda foi um mínimo de vida e de gente. Eu me lembro de pouquíssimas pessoas. Por exemplo: - vejo uma imagem feminina. Mas é mais um chapéu do que uma mulher. Em 1913, mesmo meu pai e minha mãe pareciam não ter nada a ver com a vida real. Vagavam, diáfanos, por entre as mesas e cadeiras. Depois, eu os vejo parados, com uma pose meio espectral de retrato antigo. Mas nem meu pai, nem minha mãe falavam. Eu não os ouvia. O que me espanta é que essa primeira infância não tem palavras. Não me lembro de uma única voz. Não guardei um bom-dia, um gemido, um grito. Não há um canto de galo no meu primeiro e segundo ano de vida. O próprio mar era silêncio”. p.15-6)

“Já falei da louca, filha da lavadeira. Foi a primeira mulher nua que vi na minha infância. E, ainda agora, ao bater estas notas, tenho a cena diante de mim. Eu me vejo, pequenino e cabeçudo como um anão de Velásquez. Empurro a porta e olho. O espantoso é que sinto uma relação direta e atual entre mim e o fato, como se a memória não fosse a intermediária. A demente tem a tensão e o cheiro da presença viva. Mas como ia dizendo: - no fundo, encostada à parede, está a nudez acuada”. (p.39)

“No primeiro momento, a glória é casta. Desde garotinho, a minha vida fora a desesperada busca da mulher primeira, única e última. No período da fome, o amor passara a um plano secundário ou nulo. Mas a glória é ainda mais obsessiva, mais devoradora do que a fome. Eis o que eu queria dizer: _ com o artigo de Manuel Bandeira, só eu existia para mim mesmo. Tudo o mais era paisagem.” (...)

“Sim, ainda me lembro do primeiro dia do artigo de Manuel Bandeira. Depois do trabalho, fui para casa. Tranquei-me no quarto como se fosse praticar um ato solitário e obsceno. Comecei a reler o poeta. Primeiro, repassei todo o artigo, da primeira à última linha. Depois, reli certos trechos. O final dizia assim: - “Vestido de noiva, em outro país, consagraria um autor. No Brasil, consagrará o público”. Antes de mais nada, o poeta influiu na minha auto-estima”. (p.162)

“Uma meia dúzia aceitou Álbum de família. A maioria gritou. Uns acharam “incesto demais”, como se pudesse haver “incesto de menos”. De mais a mais, era uma tragédia “sem linguagem nobre”. Em suma: - a quase unanimidade achou a peça de uma obsessiva, monótona obscenidade. Augusto Frederico Schmidt falou na minha “insistência na torpeza”. O dr. Alceu deu toda razão à polícia, que interditaria a peça; meu texto parecia-lhe da “pior subliteratura.

Assim comecei a destruir os meus admiradores. Foi uma carnificina literária. Mas não me degradei, eis a verdade, não me degradei”. (p.215)

“O número de ex-admiradores aumentava. E, pouco a pouco, ia fundando a minha solidão. Fora proibida a representação de Álbum de família. Em seguida, houve a interdição de Anjo negro. De peça para peça, me tornava, e cada vez mais, um caso de polícia. Escândalo nos jornais. E, um dia, encontro-me com Carlos Lacerda. Pediu o meu novo texto: - “Você me dá, que eu escrevo contra a censura”. Ótimo. No dia seguinte, fui levar-lhe uma cópia.” (...)

“Desde aquela época, cada um, na vida literária, tinha que ser um engajado. Ninguém ia à rua sem a sua pose ideológica. Lembro-me de Isaac Paschoal me perguntando, depois de um discurso de Prestes: - “E você? Qual é a sua contribuição?”. Baixei a vista, rubro de vergonha. E, como ainda não contribuíra, senti-me um fracassado nato e hereditário. Daí porque não posso ver, hoje em dia, o Guimarães Rosa, sem uma sensação de deslumbramento. Durante anos, pratiquei a solidão com certo pânico e certa vergonha. E eis que vem o autor de Sagarana e ergue a sua torre de marfim, assim como um cigano põe a sua barraca. Nada existe: - só a sua obra. Estão brigando no Vietnã? Pois o nosso Rosa escreve. Há a guerra nuclear, o fim do mundo? Guimarães Rosa funda outro idioma. A torre de marfim fez dele o maior artista brasileiro do século”. (p.218)

(Excertos de A menina sem estrela - Memórias, de Nelson Rodrigues; São Paulo: Companhia das Letras, 1999, Coleção das Obras de Nelson Rodrigues, sob a coordenação de Ruy Castro).

Bibliografia de Nelson Rodrigues

Romances

Com o pseudônimo de Suzana Flagg: Meu destino é pecar (O Jornal 1944 e Edições O Cruzeiro 1944). Escravas do Amor ( O Jornal 1944 e Edições O Cruzeiro 1946). Minha vida ( O Jornal 1946 e Edições O Cruzeiro 1946). Núpcias de fogo (O Jornal 1948). A mulher que amou demais (Diário da Noite, 1949, inédito em livro), como Myrna. O homem proibido (Última Hora, 1951, e Editora Nova Fronteira, Rio, 1981) e A mentira (Flan, 1953, inédito em livro), ambos novamente como Suzana Flag. Como Nelson Rodrigues: Asfalto Selvagem (Última Hora, 1959-60, J.Ozon Editor, Rio, 1960, e Companhia das Letras -Coleção das Obras de Nelson Rodrigues, coordenada por Ruy Castro, v. 7,1994); O casamento (Ed. Guanabara, Rio, 1966, e Companhia das Letras, v. 1, 1992).
Contos

Cem contos escolhidos - A vida como ela é... (J. Ozon Editor, Rio, 1961, 2v.) Elas gostam de apanhar (Bloch Editores, Rio, 1974); A vida como ela é - O homem fiel e outros contos (Companhia das Letras, S. Paulo, Coleção das Obras de Nelson Rodrigues, Coordenação de Ruy Castro, v.2, 1992); A dama do lotação e outros contos e crônicas (Ediouro, 1996); A coroa de orquídeas e outros contos de A vida como ela é (Companhia das Letras, Coleção das Obras de Nelson Rodrigues, v.5)
Crônicas

Memórias de Nelson Rodrigues (Correio da Manhã, Ed. Correio da Manhã, Rio, 1967); O óbvio ululante: primeiras confissões (O Globo, Editora Eldorado, 1968, Ed. Record e Companhia das Letras, Coleção das Obras de Nelson Rodrigues, v.3); O Reacionário: memórias e confissões (Editora Record, 1977, e Companhia das Letras, Coleção das Obras de Nelson Rodrigues, v.10); À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol (Companhia das Letras, Coleção das Obras de N. Rodrigues, v.4); A menina sem estrela: memórias (Companhia das Letras, 1993, Coleção das Obras de N. Rodrigues, v.6); A pátria em chuteiras: novas crônicas de futebol (Companhia das Letras, Coleção..., v.8); A cabra vadia: novas confissões (O Globo, Editora Eldorado, 1970, e Companhia das Letras, Coleção..., v.9); O remador de Ben-Hur: confissões culturais (Companhia das Letras, Coleção..., v.11).
Teatro

A mulher sem pecado, 1941; Vestido de noiva, 1943; Álbum de família, 1946; Senhora dos Afogados, 1947; Anjo Negro, 1947; Dorotéia,1949; Valsa nº 6, 1951; A falecida, 1953; Perdoa-me por me traíres, 1957; Viúva, porém honesta, 1957; Os sete gatinhos, 1958; Boca de Ouro, 1959; O beijo no asfalto, 1960; Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária, 1962; Toda nudez será castigada, 1965; Anti-Nelson Rodrigues, 1974; A serpente, 1978.

(Todas as peças se encontram reunidas nas publicações Nelson Rodrigues - Teatro Completo, organizado e prefaciado por Sábato Magaldi, constando de Fortuna Crítica da Editora Nova Fronteira, Rio, 1981-89, em 4 vols., e da Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994,volume único).
Novelas

A morta sem espelho,1963 (TV Rio); Sonho de Amor, 1964 (TV Rio); O desconhecido, 1964 (TV Rio).
Outras

Flor de obsessão: as 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues, selecionadas por Ruy Castro (Companhia das Letras, Coleção das Obras de Nelson Rodrigues, v.12).

Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/nelson-rodrigues/nelson-rodrigues.php

COMENTÁRIOS: O texto é excelente, abordando de forma clara e poética todo o enredo, de bom tamanho para o Grupo A. O uso de frases de Nelson Rodrigues é um recurso bem interessante, pois o aproxima do leitor. Só torço para que a escola tenha esclarecido aos compositores se o samba deverá ser em primeira ou terceira pessoa. Um grande enredo nas mãos de uma grande escola tem tudo para dar certo. E o homenageado tem um grande apelo popular, o que fará com que o público fique com vontade de ver o desfile da Viradouro. Tudo indo bem pelas bandas de Niterói. Destaque para o logotipo do enredo, em forma de jornal com layout antigo, muito criativo e que não traz o título do enredo, que é "A vida como ela é, bonitinha mas ordinária... Assim falou Nelson Rodrigues".

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sinopses 2012 - Acadêmicos do Cubango


Apresentação do Enredo

Novos tempos parecem descortinar para o Brasil nessa segunda década do século XXI. O país começa a reformular políticas que, finalmente, parecem caminhar para uma sociedade mais equilibrada, com menos miséria e mais trabalho e desenvolvimento. O caminho é longo e o que pode parecer muito aos olhos de alguns, na realidade é ainda um pequeno passo nessa direção, mas enfim, parece que esse gigante com seu povo pode começar a sonhar em melhores dias, mesmo ainda, convivendo com desmandos e os equívocos da política nacional.

Nesta ocasião, onde tudo indica, que o país caminha na retomada do desenvolvimento e do equilíbrio social, é um momento dos mais propícios para a reflexão. Revirando a nossa história, descobrimos que tudo poderia ser muito diferente e que hoje, poderíamos estar já na categoria de uma Nação do primeiro mundo e não na condição de país em desenvolvimento, onde parte de nossa população ainda sofre com a miséria e a fome.

No século XIX, o Brasil Imperial do Segundo Reinado tinha sua base econômica apoiado na escravidão e na agricultura. Entretanto, um homem sonhou com a modernidade, a valorização do trabalho livre e a industrialização como sendo a única solução de desenvolvimento real do país, e assim, se livrar da submissão e das interferências de potências estrangeiras: Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.

Se o Segundo Reinado tem um rosto, ele é uma combinação dos traços de D. Pedro II e de Mauá. É possível até que prevaleçam os de Mauá, um cidadão do mundo. Sua vida e sua época confundem-se. O apogeu do Segundo Reinado, na década de 60, foi o apogeu de Mauá. A agonia da monarquia, a partir da segunda metade dos anos 70, foi sua agonia. A morte de Mauá, um mês antes que se proclamasse a República não poderia ser mais simbólica como o final de uma era.

O Carnaval do Rio de Janeiro é o modelo de festa e organização admirado pelo mundo, e nada melhor que utilizá-lo para esse resgate da memória nacional. Momento propício para redescobrir esse homem que ousou sonhar, e por esta ousadia pagou um altíssimo preço. Sua vida é marcada por grandes vitórias e grandes derrotas, aplausos e impropérios que se misturavam como jamais se vira antes no Brasil.

Um Brasil moderno foi o sonho deste notável brasileiro e que também é o nosso, aqui representado pela Escola de Samba Acadêmicos de Cubango, que, no carnaval de 2012, sonha com modernidade, justiça, reconhecimento e valorização de todo aquele que contribuir para um Brasil melhor!

"As dificuldades fizeram-se para serem vencidas."

Barão de Mauá

Jaime Cezário (Carnavalesco)

No Brasil do início do século XIX, nasceu Irineu Evangelista de Souza. Gaúcho, perdeu ainda menino seu pai, e isto, o fez vir morar com apenas nove anos no Rio de Janeiro para trabalhar no comércio como caixero, uma espécie de office-boy. Ainda muito jovem se viu obrigado a deixar de ser criança e assumir as responsabilidades de adulto.

O Rio de Janeiro desta época era uma cidade que havia se modernizado, tinha se tornado a capital do Império Português e os modismos europeus começavam a se instalar na cidade.

O Brasil era um país agrário, com extensas culturas de cana de açúcar e café movido pela força do trabalho escravo e a elite econômica pregava a vocação agrícola de nosso país, alegando que por estas paragens não havia lugar para industrialização, pois tudo o de que necessitávamos poderia ser fornecido pelos ingleses, que há muito tempo se encontravam em plena fase da revolução industrial.

Neste cenário o pequeno Irineu irá dar seu primeiro grande salto de sua vida, surgindo o homem de comércio.

O jovem caixeiro rapidamente conquistou a simpatia do inglês dono da loja em que trabalhava, e que, além de acreditar em sua capacidade, quando o julgou estar maduro, o introduziu na maçonaria. Na maçonaria, Irineu encontrará seus futuros amigos, discutirá os problemas da nação, saberá dos segredos da política nacional e conhecerá seus futuros sócios.

Ao seu patrão inglês, depois compadre, Irineu deve o pedaço mais vistoso de sua formação - a de comerciante. Aprendeu a enxergar na escravidão um obstáculo poderoso ao desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Mais que tudo, viu no caminho seguido pela Inglaterra, onde fábricas povoadas de máquinas substituíam acanhadas oficinas, a chave para o progresso nacional. Quando, aos 27 anos, já dono de uma grande fortuna, cruzou o Atlântico para conhecer a Inglaterra, percebeu o quanto o Império Brasileiro estava atrasado. Era imperioso transpor o abismo entre o passado obscuro e um futuro revolucionário e de luz.

Ao retomar ao Brasil, era outro. Encerrou as atividades comerciais e, com a riqueza que acumulara, lançou-se à segunda etapa de sua vida - a de industrial.

Assim, seu primeiro empreendimento foi o estaleiro e fundição chamado Ponta da Areia, instalado em Niterói, onde se produziam tubos de ferro para canalização de rios, engenhos completos movido a vapor, canhões de bronze para navios de guerra, lampiões e pontes de aço. A lista de produtos incluía, também, navios a vapor, que posteriormente integrariam a frota de guerra da marinha do Brasil. Anos mais tarde, com a queda das tarifas alfandegárias aos produtos importados, provocará o fechamento do empreendimento, era o fim do Ponta da Areia.

O espírito empreendedor de Irineu não ficou apenas ai, se lançou em muitos outros negócios, onde ninguém enxergava nada ele via tudo. Em 1849, recebeu do imperador D. Pedro II, o Hábito da Ordem de Cristo, a mais alta condecoração que um plebeu poderia almejar. A pedido do governo brasileiro financiou o governo uruguaio para combater as pretensões argentinas de ocupação.

Atendendo outro pedido do governo, organizou em tempo recorde a empresa de Navegação do Amazonas para impedir as pretensões expansionistas do governo norte-americano nas riquezas do território amazônico. Com a companhia de navegação, o governo brasileiro ocupa de vez a região e acaba com as pretensões norte-americanas de ocupação.

Com 38 anos de idade em 1852, Irineu Evangelista tornou-se o homem de negócios do momento e então, não faltaram sócios dispostos a apostar dinheiro nos negócios que ele indicava. Com o final do tráfico de escravos para o Brasil, Irineu resolveu abrir seu primeiro banco, que anos mais tarde será estatizado se tornando o atual Banco do Brasil.

A função deste banco seria de aproveitar o crédito disponível no mercado que não mais seria empregado no tráfico de escravos e que precisaria de bons investimentos. Com o capital do seu banco pretendia fazer uma revolução, desde o financiamento da pro dução agrícola à construção de estradas de ferro. Com dinheiro em caixa se lança no projeto de construção da primeira estrada de ferro do Brasil, fundando a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis. No dia da inauguração, em reconhecimento por seu extraordinário empreendimento, recebe o título de Barão de Mauá.

Seus sonhos não paravam, e simultaneamente a estrada de ferro, aceitou o desafio de iluminar as ruas do centro do Rio de Janeiro. A idéia de iluminar as ruas da cidade com gás era antiga - mas, como no caso da ferrovia, todos os que haviam tentado a empreitada naufragaram em dificuldades. Por falta de terrenos disponíveis, resolveu instalar a usina de gás no mangue que há séculos marcava o limite do centro da cidade.

As obras do aterro mal começaram e logo os operários começaram a morrer devido a febre amarela. Apesar dos graves problemas, Irineu iniciou a construção do Canal do Mangue, que foi a maior obra de saneamento do Rio de Janeiro. Mauá queria usar o momento para ser o revolucionário da economia, mas s aiu dele como Barão do Império.

Mauá andava depressa demais na visão de muitos políticos brasileiros, seus discursos sobre a valorização do trabalho soavam ofensivos numa sociedade com base na agricultura e escravidão. Para frear os ventos progressistas criados pelo primeiro banco de Mauá, o império brasileiro resolveu intervir no mercado e criar um banco oficial para administrar o capital.

A saída encontrada foi da estatização do banco do Barão, o transformando então, no Banco do Brasil. Um duro golpe nos sonhos do Barão de Mauá! Mas sua inteligência extraordinária não demorou muito para encontrar uma saída desse momento, imaginou criar uma nova instituição financeira, bem diferente da primeira que criara: um banco internacional.

Toda sua obra, em seu devido tempo e lugar, se revestiu de grande importância, mas uma delas haveria de mudar o destino de nosso país: A ferrovia SPR - The São Paulo Railway Company, unindo o porto de Santos à cidade de Jundiaí. Em toda sua existência, a ferrovia mudou, até os dias de hoje, o eixo econômico brasileiro para as terras paulistas. Por seus trilhos desceu nossa riqueza maior - o café, e subiram os imigrantes, que deram novo impulso ao desenvolvimento do país.

Desse modo, Mauá controlou oito das dez maiores empresas do país, se tornando o homem mais rico do Império do Brasil.

Mauá, ainda ficou encarregado de cuidar de algo de grande interesse para nação: a instalação de um cabo submarino entre Brasil e a Europa, capaz de trazer instantaneamente notícias, que demoravam um mês para chegar nos navios. Executou esta tarefa sem ônus para o Império e como reconhecimento deste grande serviço prestado recebeu o título de Visconde de Mauá.

Em 1875, diante de enormes problemas enfrentados e do boicote sofrido, o visconde teve que pedir moratória para seu banco. Mauá desfez-se de tudo para pagar as suas dívidas. Despojamento total para atingir um único objetivo, pagar a todos que devia e recuperar o que para ele valia mais que os bens de fortuna: seu nome honrado.

Exemplos como o de Visconde de Mauá devem ser cultuados sempre pela memória nacional, seu sonho de um Brasil moderno consegue ainda ser atual e seu legado maior foi, sem sombra de dúvidas, além de sua grande visão de futuro, uma profunda lição que se faz tão necessária aos dias de hoje: a de um homem íntegro, justo, honesto, leal, sincero, corajoso, capaz, e, sobretudo, de profunda honra pessoal. Fica-nos a lição de que se o empreendedorismo industrial conduz o país a um promissor futuro econômico, a solidez moral constrói uma grande nação, deixando aos filhos o caminho aberto para a construção de um mundo melhor, com uma sociedade mais justa e equilibrada.

Sinopse Poética

Vem do Sul
A minha inspiração.
De lá nasceu um menino,
Que parece ter sido
Acalentado pelo dom da criação.
Irineu Evangelista de Souza.
A perda do pai guarda na lembrança,
Em busca de um sonho,
Tornou-se cedo adulto.
Mudou-se para o Rio de Janeiro,
Cidade Imperial de modas e modismos europeus
Trazendo na mala a esperança.
Tão menino, já era caixeiro.
Na arte do comércio descobre o valor do trabalho.
Num país agrário movido pela força da escravidão,
As riquezas eram a cana-de-açúcar e o café.
E a elite econômica não quer modernidade.
Apenas usufruir dos privilégios dos produtos industrializados,
Que vinham da revolução industrial, todos os artigos necessários.
Irineu cresce na arte de comerciar.
Sonhando com novas fronteiras se torna maçom,
Fortalece seu conhecimento e aumenta sua fé no trabalho.
Novos projetos ele realiza. É hora de mudar.
O caminho é industrialização.
A Inglaterra o inspira.
Em Niterói floresce a primeira indústria de Mauá
Onde constrói navios, pontes e canhões.
Surge a fundição e estaleiro: Ponta de Areia.
Seu destino é pioneiro e empreendedor.
Lança-se em muitos outros negócios,
Por determinação e fé no Brasil.

Recebe do Imperador a mais alta condecoração:
O "Hábito da Ordem de Cristo".
Leva a luz da modernidade de norte a sul,
Cruza fronteiras para colaborar com o Império.
Ajuda o Uruguai contra as pretensões argentinas de ocupação,
Sonha em unir os países platinos em parcerias comerciais.
E do sul parte para o norte verdejante,
Uma nobre missão.
Proteger o Amazonas do ambicioso Tio Sam,
Cria a "Companhia de Navegação do Amazonas".
Põe um fim nas pretensões norte-americanas.

Mauá não pensa em parar
Ele quer fazer mais pelo Brasil.
Sonha com modernidade e realizações,
Funda o banco Mauá.
Com dinheiro cria a primeira ferrovia e a companhia de iluminação a gás,
Quer ser um revolucionário da economia nacional.
Com o reconhecimento imperial,
Ganha o título de nobreza: Barão de Mauá.
E cada vez mais, mostra o quanto é capaz.
Projeta, avança, constrói... Certo do que lhe conduz,
A cada pensamento uma luz.

Homem de valor, que se difere na hora de propor.
Cria um banco internacional,
Com filiais no exterior.
Segue os caminhos da evolução.
Nem a oposição o faz parar...
É alma de um país inteiro,
Pulsando do seu patriotismo brasileiro,
Que parece não acabar.
Em seu tempo e lugar,
Associa-se aos ingleses.
Cria uma nova ferrovia...
O progresso floresce,
Da noite, pro dia...
De Santos à Jundiaí,
Pelos trilhos, movia-se o café.

Imigrantes são bem vindos.
Muda-se o destino da economia.
O valor ao trabalho,
A sua inspiração!
Até a instalação
De um cabo submarino,
Entre o Brasil e a Europa,
Fora confiado ao Barão.
Que não fez desfeita:
- Se é do interesse da Nação
o Império, aceito a missão!
Um presente do tempo,
À sua arte de comerciar.
Deste trabalho,
Pode se orgulhar
Recebendo o título
De Visconde de Mauá.
Personificado
Em sua vida e glória,
Uma certeza:

Mauá preferiu a honra,
Em troca de sua riqueza.
A Cubango valendo-se
Dessa dádiva empreendedora,
Estende seu manto verde e branco.
Traz o seu legado Real,
Fantástico,
Eterno.
Testemunho da História,
Para construção de um Brasil moderno.

Texto Sinopse Poética: Jaime Cezário e Marcos Roza, pesquisador de enredos.

Justificativa do enredo


O carnaval do Rio de Janeiro é a grande vitrine da cultura popular do Brasil, onde, através das escolas de samba, muitos assuntos importantes da nossa história são resgatados para o conhecimento do povo brasileiro. Nós, da Acadêmicos do Cubango, escola de samba da cidade de Niterói, sentimos muito honrados em apresentar para o carnaval 2012, o enredo sobre este notável brasileiro: Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.

Buscamos ao longo de nossa existência, como instituição cultural que representa uma comunidade apaixonada pelo samba e pelo alviverde do nosso pavilhão, valorizar momentos, personagens e fatos que tragam informação, cultura e reflexão.

O Barão de Mauá, um homem extraordinário, escolheu a cidade de Niterói para construir sua primeira indústria: o Estaleiro e Fundição Ponta de Areia.

A mensagem maior deste enredo serve de grande inspiração para todos os brasileiros, e especialmente para nós, Acadêmicos do Cubango, que há anos lutamos com todas as forças para atingir pela 1ª vez o sonhado Grupo Especial. A determinação e força transmitidas pela história do Barão de Mauá de nunca se abater com as dificuldades e sempre encontrar uma saída para atingir seus objetivos é pura inspiração. Sua busca na valorização do trabalho sério, a honradez moral e a justiça nos aproxima ainda mais do homenageado, pois faz parte da nossa bandeira de luta como instituição cultural que valoriza e respeita esse patrimônio nacional que é o samba brasileiro.

O Barão foi um homem que viveu no século XIX, mas suas opções e estratégias empresariais poderiam ser melhor explicadas com conceitos atuais como globalização, tecnologia de ponta, multilateralismo, mas nem sempre conseguia se fazer entender por uma sociedade de senhores e escravos, favores e conchavos. Sua vida protagonizou uma aventura empresarial sem paralelo em qualquer outro momento da história do Brasil

Mostrar na Marquês de Sapucaí o enredo sobre o Barão de Mauá e sua trajetória de lutas e conquistas é uma grande honra e sua história nos revigora, afinal é um exemplo de determinação e fé em dias melhores para essa Nação.

Jaime Cezário (Carnavalesco)

COMENTÁRIOS: Um verdadeiro show de sinopse da Cubango. A mais completa até agora, sem deixar a menor dúvida do que é o enredo da escola. Justifica e apresenta com perfeição de detalhes o que a escola pretende mostrar e inclui ainda uma sinopse em forma de poesia, recurso utilizado tantas vezes esse ano mas que acaba não sendo muito claro sem uma complementação. O enredo em si é bastante interessante. O Barão de Mauá já apareceu em diversos desfiles mas sempre como coadjuvante. Pela primeira vez será o tema principal e tem muita história a ser abordada. A Cubango conseguiu elaborar um enredo com relevância histórica e cultural e inédito como um todo, algo bem raro hoje em dia no Carnaval. E como bem disse o carnavalesco Jaime Cezário, serviria perfeitamente no Grupo Especial. Tomara que a escola consiga setorizar bem seu desfile e passar sua mensagem com perfeição. No mais, parabéns à Academia de Niterói pela melhor sinopse de 2012 até agora.