domingo, 3 de junho de 2012

Sinopses 2013 - União da Ilha do Governador






Argumento

A proposta do enredo é revelar a importância que Vinicius de Moraes, em seus múltiplos talentos, tem na cultura brasileira. Em um país sem memória como o nosso, é relevante manter vivo o culto às verdadeiras celebridades nacionais, principalmente numa época midiática de tão raso conteúdo como esta.
A União da Ilha do Governador dedica ao público em geral e principalmente às novas gerações um pouco de quem foi esse ser plural:
Escritor, jornalista, diplomata, dramaturgo, crítico e roteirista de cinema, compositor e antes de tudo um Poeta.
O desfile começa pela Ilha do Governador dos anos 20 do século passado, de onde ele guardava ótimas lembranças de sua infância.
A Poesia sempre presente em sua vida é o fio condutor da história.
Sua formação religiosa e suas indagações; os primeiros livros; e a descoberta de um Brasil desconhecido, que a partir de então, muda suas posições ideológicas, encerram o primeiro setor.
Na sequência, como autor de teatro, tem em seu maior sucesso, a fusão do mito grego com a realidade da favela, resultando em seu famoso Orfeu da Conceição.
Orfeu vira filme: Orfeu negro, uma adaptação da peça, ganha premiações internacionais. Área pela qual sempre foi apaixonado ‒ o cinema.
Suas primeiras parcerias com Tom Jobim e Carlos Lyra. O início do movimento da Bossa Nova, na batida do violão de João Gilberto.
Os Afrossambas com Baden Powell.
Os festivais da Canção.
A temporada baiana e a parceria com Toquinho.
Como bom carioca, soube cantar o jeitinho das meninas que passam a caminho do mar. E tem na música símbolo da beleza da mulher brasileira, um sucesso sem igual, dentro e fora do Brasil.
O poeta que dedica aos filhos poemas que se tornam canções infantis.
O amante das mulheres e da noite. Amigo de seus amigos, que foram tantos: da turma da literatura, dos parceiros musicais e os de toda uma vida.
Que alcança postumamente o maior cargo da diplomacia, mas que para nós que o admiramos ele sempre foi o embaixador da paixão.
Que reflete sobre a vida e a morte; e se despede como showman que foi, em uma grande celebração.
Pedimos benção e saravá!!!

Cronologia da Vida e da Obra

1913
Nasce, em meio a forte temporal, na madrugada de 19 de outubro, no antigo nº 114 (casa já demolida) da rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico, ao lado da chácara de seu avô materno, Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz. São seus pais d. Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, este, sobrinho do poeta, cronista e folclorista Mello Moraes Filho e neto do historiador Alexandre José de Mello Moraes. Recebe o nome de Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes (Vinitius, em latim). A poesia foi herdada por parte do pai Clodoaldo, poeta bissexto. E o gosto pela música através de sua mãe, Lydia, pianista amadora.
1916
A família muda-se para a rua Voluntários da Pátria, nº 192, em Botafogo, passando a residir com os avós paternos, d. Maria da Conceição de Mello Moraes e Anthero Pereira da Silva Moraes.
1917
Nova mudança para a rua da Passagem, nº 100, ainda em Botafogo, onde nasce seu irmão Helius. Vinicius e sua irmã Lygia entram para a escola primária Afrânio Peixoto, à rua da Matriz.
1919
Transfere-se para a rua 19 de fevereiro, nº 127.
1920
Mudança para a rua Real Grandeza, nº 130. Primeiras namoradas na escola Afrânio Peixoto. É batizado na maçonaria, por disposição de seu avô materno, cerimônia que lhe causaria grande impressão.
1922
Aos nove anos de idade vai com a irmã Lygia ao cartório na rua São José, centro do Rio, e altera seu nome para Vinicius de Moraes. Última residência em Botafogo, na rua Voluntários da Pátria, nº 195. Impressão de deslumbramento com a exposição do Centenário da Independência do Brasil e de curiosidade com o levante do Forte de Copacabana, devido a uma bomba que explodiu perto de sua casa. Sua família transfere-se para a Ilha do Governador, na praia de Cocotá, nº 109-A, onde o poeta passa os fins de semana e férias.
1923
Faz sua primeira comunhão na Matriz da rua Voluntários da Pátria.
1924
Inicia o Curso Secundário no Colégio Santo Inácio, na rua São Clemente.
Começa a cantar no coro do colégio, durante a missa de domingo. Liga-se de grande amizade a seus colegas Moacyr Veloso Cardoso de Oliveira e Renato Pompéia da Fonseca Guimarães, este, sobrinho de Raul Pompéia, com os quais escreve o "épico" escolar, em dez cantos, de inspiração camoniana: “Os acadêmicos”.
A partir daí participa sempre das festividades escolares de encerramento do ano letivo, seja cantando, seja atuando nas peças infantis.
1927
Conhece e torna-se amigo dos irmãos Paulo e Haroldo Tapajós, com os quais começa a compor. Com eles, e alguns colegas do Colégio Santo Inácio, forma um pequeno conjunto musical que atua em festinhas, em casa de famílias conhecidas.
1928
Compõe, com os irmãos Tapajós, "Loura ou morena" e "Canção da noite", que têm grande sucesso popular.
Por essa época, namora invariavelmente todas as amigas de sua irmã Laetitia.
1929
Bacharela-se em Letras, no Santo Inácio. Sua família muda-se da Ilha do Governador para a casa contígua àquela onde nasceu, na rua Lopes Quintas, também já demolida.
1930
Entra para a faculdade de Direito da rua do Catete, sem vocação especial. Defende tese sobre a vinda de d. João VI para o Brasil para ingressar no "Centro Acadêmico de Estudos Jurídicos e Sociais" (CAJU), onde se liga de amizade a Otávio de Faria, San Thiago Dantas, Thiers Martins Moreira, Antônio Galloti, Gilson Amado, Hélio Viana, Américo Jacobina Lacombe, Chermont de Miranda, Almir de Andrade e Plínio Doyle.
1931
Entra para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR).
1933
Forma-se em Direito e termina o Curso de Oficial de Reserva.
Estimulado por Otávio de Faria, publica seu primeiro livro, O caminho para a distância, na Schmidt Editora.
1935
Publica Forma e exegese, com o qual ganha o prêmio Felipe d'Oliveira.
1936
Publica, em separata, o poema "Ariana, a mulher".
Substitui Prudente de Morais Neto, como representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica.
Conhece Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos quais se torna amigo.
1938
Publica Novos poemas e é agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford (Magdalen College), para onde parte em agosto do mesmo ano.
Funciona como assistente do programa brasileiro da BBC.
Conhece, em casa de Augusto Frederico Schmidt, o poeta e músico Jayme Ovalle, de quem se torna um dos maiores amigos.
1939
Casa-se por procuração com Beatriz Azevedo de Mello.
Regressa da Inglaterra em fins do mesmo ano, devido à eclosão da II Grande Guerra. Em Lisboa encontra seu amigo Oswald de Andrade com quem viaja para o Brasil.
1940
Nasce sua primeira filha, Susana.
Passa longa temporada em São Paulo, onde se liga de amizade com Mário de Andrade.
1941
Começa a fazer jornalismo em A Manhã, como crítico cinematográfico e a colaborar no Suplemento Literário ao lado de Ribeiro Couto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Afonso Arinos de Melo Franco, sob a orientação de Múcio Leão e Cassiano Ricardo.
1942
Inicia seu debate sobre cinema silencioso e cinema sonoro, a favor do primeiro, com Ribeiro Couto, e em seguida com a maioria dos escritores brasileiros mais em voga, do qual participam Orson Welles e madame Falconetti.
Nasce seu filho Pedro.
A convite do então prefeito Juscelino Kubitschek, chefia uma caravana de escritores brasileiros a Belo Horizonte, onde se liga de amizade com Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos.
Inicia, com seus amigos Rubem Braga e Moacyr Werneck de Castro, a roda literária do Café Vermelhinho, à qual se misturam a maioria dos jovens arquitetos e artistas plásticos da época, como Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Afonso Reidy, Jorge Moreira, José Reis, Alfredo Ceschiatti, Santa Rosa, Pancetti, Augusto Rodrigues, Djanira, Bruno Giorgi.
Frequenta, nessa época, as domingueiras em casa de Aníbal Machado.
Conhece e se torna amigo da escritora argentina Maria Rosa Oliver, através da qual conhece Gabriela Mistral.
Faz uma extensa viagem ao Nordeste do Brasil, acompanhando o escritor americano Waldo Frank, a qual muda radicalmente sua visão política, tornando-se um antifacista antifascista  convicto. Na estada em Recife, conhece o poeta João Cabral de Melo Neto, de quem se tornaria, depois, grande amigo.
1943
Publica suas Cinco elegias, em edição mandada fazer por Manuel Bandeira, Aníbal Machado e Otávio de Faria.
Ingressa, por concurso, na carreira diplomática.
1944
Dirige o Suplemento Literário de O Jornal, onde lança, entre outros, Oscar Niemeyer, Pedro Nava, Marcelo Garcia, Francisco de Sá Pires, Carlos Leão e Lúcio Rangel, em colunas assinadas, e publica desenhos de artistas plásticos até então pouco conhecidos, como Carlos Scliar, Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti, Eros (Martim) Gonçalves, Arpad Czenes e Maria Helena Vieira da Silva.
1945
Colabora em vários jornais e revistas, como articulista e crítico de cinema.
Faz amizade com o poeta Pablo Neruda.
Sofre um grave desastre de avião na viagem inaugural do hidro Leonel de Marnier, perto da cidade de Rocha, no Uruguai. Em sua companhia estão Aníbal Machado e Moacir Werneck de Castro.
Faz crônicas diárias para o jornal Diretrizes.
1946
Parte para Los Angeles, como vice-cônsul, em seu primeiro posto diplomático. Ali permanece por cinco anos sem voltar ao Brasil.
Publica em edição de luxo, ilustrada por Carlos Leão, seu livro Poemas sonetos e baladas.
1947
Em Los Angeles, estuda cinema com Orson Welles e Gregg Toland. Lança, com Alex Viany, a revista Film.
1949
João Cabral de Melo Neto tira, em sua prensa manual, em Barcelona, uma edição de cinquenta exemplares de seu poema "Pátria minha".
1950
Viagem ao México para visitar o amigo Pablo Neruda, gravemente enfermo. Ali conhece o pintor David Siqueiros e reencontra seu grande amigo, o pintor Di Cavalcanti.
Morre seu pai.
Retorno ao Brasil.
1951
Casa-se pela segunda vez com Lila Maria Esquerdo e Bôscoli.
Começa a colaborar no jornal Última Hora, a convite de Samuel Wainer, como cronista diário e posteriormente crítico de cinema.
1952
Visita, fotografa e filma, com seus primos, Humberto e José Francheschi, as cidades mineiras que compõem o roteiro do Aleijadinho, com vistas à realização de um filme sobre a vida do escultor, que lhe fora encomendado pelo diretor Alberto Cavalcanti.
É nomeado delegado junto ao festival de Punta Del Leste, fazendo paralelamente a cobertura para o Última Hora. Parte logo depois para a Europa, encarregado de estudar a organização dos festivais de cinema de Cannes, Berlim, Locarno e Veneza, no sentido da realização do Festival de Cinema de São Paulo, dentro das comemorações do IV Centenário da cidade.
Em Paris, conhece seu tradutor francês, Jean Georges Rueff, com quem trabalha, em Estrasburgo, na tradução de suas Cinco elegias.
1953
Nasce sua filha Georgiana.
Colabora no tabloide semanário Flan, de Última Hora, sob direção de Joel Silveira.
Aparece a edição francesa das Cinq élégies, em edição de Pierre Seghers.
Liga-se de amizade com o poeta cubano Nicolás Guillén.
Compõe seu primeiro samba, música e letra, "Quando tu passas por mim".
Faz crônicas diárias para o jornal A Vanguarda, a convite de Joel Silveira.
Parte para Paris como segundo secretário de Embaixada.
1954
Sai a primeira edição de sua Antologia poética. A revista Anhembi publica a peça Orfeu da Conceição, premiada no concurso de teatro do IV Centenário do Estado de São Paulo.
1955
Compões em Paris uma série de canções de câmara com o maestro Cláudio Santoro. Começa a trabalhar para o produtor Sasha Gordine, no roteiro do filme Orfeu negro. No fim do ano vem com ele ao Brasil, por uma curta estada, para conseguir financiamento para a produção da película, o que não consegue, regressando em fins de dezembro a Paris.
1956
Volta ao Brasil em gozo de licença-prêmio.
Nasce sua terceira filha, Luciana.
Colabora no quinzenário Para Todos a convite de seu amigo Jorge Amado, em cujo primeiro número publica o poema "O operário em construção".
Paralelamente aos trabalhos da produção do filme Orfeu negro, tem o ensejo de encenar sua peça Orfeu da Conceição, no Teatro Municipal, que aparece também em edição comemorativa de luxo, ilustrada por Carlos Scliar. Elenco predominantemente de negros. Seria na estreia um acontecimento: a primeira vez que um negro pisava no palco do Teatro Municipal. Orfeu era interpretado por Haroldo Costa; Eurídice era Dirce Paiva; Léa Garcia fazia Mira e Cyro Monteiro era Apolo.
Convida Antonio Carlos Jobim para fazer a música do espetáculo, iniciando com ele a parceria que, logo depois, com a inclusão do cantor e violonista João Gilberto, daria início ao movimento de renovação da música popular brasileira que se convencionou chamar de bossa nova.
Retorna ao posto, em Paris, no fim do ano.
1957
É transferido da Embaixada em Paris para a Delegação do Brasil junto à UNESCO. No fim do ano é removido para Montevidéu, regressando, em trânsito, ao Brasil.
Publica a primeira edição de seu Livro de sonetos, em edição de Livros de Portugal.
1958
Sofre um grave acidente de automóvel. Casa-se com Maria Lúcia Proença. Parte para Montevidéu. Sai o LP Canção do amor demais, de músicas suas com Antonio Carlos Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. No disco ouve-se, pela primeira vez, a batida da bossa nova, no violão de João Gilberto, que acompanha a cantora em algumas faixas, entre as quais o samba "Chega de Saudade", considerado o marco inicial do movimento.
1959
Sai o Lp Por toda minha vida, de canções suas com Jobim, pela cantora Lenita Bruno.
O filme Orfeu negro ganha a Palme d'Or do Festival de Cannes e o Oscar, de Hollywood, como melhor filme estrangeiro do ano.
Aparece o seu livro Novos poemas II.
Casa-se sua filha Susana.
1960
Retorna à Secretaria do Estado das Relações Exteriores.
Em novembro, nasce seu neto Paulo.
Sai a segunda edição de sua Antologia poética, pela Editora do Autor; a edição popular da peça Orfeu da Conceição, pela livraria São José; e Recette de femme et autres poèmes, tradução de Jean-Georges Rueff, em edição Seghers, na coleção Autour du Monde.
1961
Começa a compor com Carlos Lyra e Pixinguinha.
Aparece Orfeu negro), em tradução italiana de P.A. Jannini, pela Nuova Academia Editrice, de Milão.
1962
Começa a compor com Baden Powell, dando inicio à série de afrossambas, entre os quais, "Berimbau" e "Canto de Ossanha".
Compõe, com música de Carlos Lyra, as canções de sua comédia-musicada Pobre menina rica.
Em agosto, faz seu primeiro show, de larga repercussão, com Antonio Carlos Jobim e João Gilberto, na boate Au Bon Gourmet, que daria início aos chamados pocket-shows, e onde foram lançados grandes sucessos internacionais como "Garota de Ipanema" e o "Samba da bênção".
Show com Carlos Lyra, na mesma boate, para apresentar Pobre menina rica e onde é lançada a cantora Nara Leão.
Compõe com Ary Barroso as últimas canções do grande compositor popular, entre as quais "Rancho das namoradas".
Aparece a primeira edição de Para viver um grande amor, pela Editora do Autor, livro de crônicas e poemas.
Grava, como cantor, seu disco com a atriz e cantora Odete Lara.
1963
Começa a compor com Edu Lobo.
Casa-se com Nelita Abreu Rocha e parte para um posto em Paris, na delegação do Brasil junto a UNESCO.
1964
Regressa de Paris e colabora com crônicas semanais para a revista Fatos e Fotos, assinando paralelamente crônicas sobre música popular para o Diário Carioca.
Começa a compor com Francis Hime.
Faz show de grande sucesso com o compositor e cantor Dorival Caymmi, na boate Zum-Zum, onde lança o Quarteto em Cy. Do show é feito um LP.
1965
Sai Cordélia e o peregrino, em edição do Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura.
Ganha o primeiro e o segundo lugares do I Festival de Música Popular de São Paulo, da TV Record, com canções de parceria com Edu Lobo e Baden Powell.
Parte para Paris e St. Maxime para escrever o roteiro do filme Arrastão, indispondo-se, subsequentemente, com seu diretor, e retirando suas músicas do filme. De Paris voa para Los Angeles a fim de encontrar-se com o parceiro Antonio Carlos Jobim.
Muda-se de Copacabana para o Jardim Botânico, à rua Diamantina, nº 20.
Começa a trabalhar com o diretor Leon Hirszman, do Cinema Novo, no roteiro do filme Garota de Ipanema.
Volta ao show com Caymmi, na boate Zum-Zum.
1966
São feitos documentários sobre o poeta pelas televisões americana, alemã, italiana e francesa, sendo que os dois últimos realizados pelos diretores Gianni Amico e Pierre Kast.
Aparece seu livro de crônicas Para uma menina com uma flor, pela Editora do Autor.
Seu "Samba da bênção", de parceria com Baden Powell, é incluída, em versão do compositor e ator Pierre Barouh, no filme Un homme... une femme, vencedor do Festival de Cannes do mesmo ano.
Participa do júri do mesmo festival.
1967
Aparecem, pela Editora Sabiá, a 6ª edição de sua Antologia poética e a 2ª do Livro de sonetos (aumentada).
É posto à disposição do governo de Minas Gerais no sentido de estudar a realização anual de um Festival de Arte em Ouro Preto, cidade à qual faz frequentes viagens.
Faz parte do júri do Festival de Música Jovem, na Bahia.
Estreia do filme Garota de Ipanema.
1968
Falece sua mãe no dia 25 de fevereiro.
Aparece a primeira edição de sua Obra poética, pela Companhia José Aguilar Editora.
Poemas traduzidos para o italiano por Ungaretti.
1969
É exonerado do Itamaraty.
Casa-se com Cristina Gurjão.
1970
Casa-se com a atriz baiana Gesse Gessy.
Nasce Maria, sua quarta filha.
Início da parceria com Toquinho.
1971
Muda-se para a Bahia.
Viagem para Itália.
1972
Retorna à Itália com Toquinho, onde gravam o LP Per vivere un grande amore.
1973
Publica "A Pablo Neruda".
1974
Trabalha no roteiro, não concretizado, do filme Polichinelo.
1975
Excursiona pela Europa. Grava, com Toquinho, dois discos na Itália.
1976
Escreve as letras de Deus lhe pague, em parceria com Edu Lobo.
Casa-se com Marta Rodrigues Santamaria.
1977
Grava um LP em Paris, com Toquinho.
Show com Tom, Toquinho e Miúcha, no Canecão.
1978
Excursiona pela Europa com Toquinho.
Casa-se com Gilda de Queirós Mattoso, que conhecera em Paris.
1979
Leitura de poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, a convite do líder sindical Luís Inácio da Silva.
Voltando de viagem à Europa, sofre um derrame cerebral no avião. Perdem-se, na ocasião, os originais de Roteiro lírico e sentimental da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
1980
É operado a 17 de abril, para a instalação de um dreno cerebral.
Morre, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa, na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher.
Extraviam-se os originais de seu livro O dever e o haver.


RECADO AOS COMPOSITORES

- LEIAM ATENTAMENTE  TODOS OS TEXTOS
- PRESTEM BASTANTE ATENÇÃO NAS “RESPOSTAS” DO POETA, ELAS CONTÊM TRECHOS DE MÚSICAS, POEMAS E DEPOIMENTOS IMPORTANTES.
- A SEQUENCIA DO ENREDO SERÁ ESSA:
- ILHA
- POESIA
- PÁTRIA MINHA
- ORFEU DA CONCEIÇÃO
- CINEMA
- BOSSA NOVA
- AFROSSAMBAS
- ARRASTÃO
- TARDE EM ITAPUÃ
- ELA É CARIOCA
- GAROTA DE IPANEMA
- A ARCA DE NOÉ
- PARA VIVER UM GRANDE AMOR
- A NOITE
- O PALCO

CONSULTEM OS LIVROS E ENTREM NA PÁGINA OFICIAL NA INTERNET:
www.viniciusdemoraes.com.br

LEIAM SEUS POEMAS, CONTOS, CRÔNICAS E COMPARTILHEM COM SEUS FAMILIARES. DIVULGAR CULTURA É O PRINCIPAL OBJETIVO DESSE CARNAVAL.
RECOMENDO:

PROSA
Menino de ilha
O aprendiz de poesia
Meu Deus, não seja já
Do amor à pátria

POESIAS
Ilha do Governador
O operário em construção
Pátria minha
Receita de mulher


OUÇAM SUAS CANÇÕES, USEM E ABUSEM PARA SE INSPIRAREM.
EU SUGIRO ESPECIALMENTE:

Gente Humilde
O Morro não tem vez
Lamento no Morro
Se todos fossem iguais a você
A Felicidade
Chega de Saudade
Canto de Ossanha
A Tonga da Mironga do Kabuletê
Meu pai Oxalá
Berimbau
Arrastão
Tarde em Itapuã
Garota de Ipanema
Carta ao Tom
A Casa
Aquarela
O Pato
A Arca de Noé
Eu sei que vou te amar
Para viver um grande amor
Soneto de Fidelidade
Marcha da Quarta-Feira de Cinzas
Onde anda você
Samba da benção
Sei lá...a vida tem sempre razão


Sinopse

Vinicius de Moraes cuja pluralidade é reconhecida em suas obras, pensamentos e paixões receberá por ocasião do seu centenário nossa homenagem. Para compreender melhor o homem e o poeta, resolvemos criar um diálogo imaginário, tomando como respostas seus poemas, contos e entrevistas.                                      
por Alex de Souza

A INFÂNCIA 

ILHA – Poeta,  fale um pouco da sua infância, suas memórias da nossa Ilha do Governador.

POETA - Era um menino valente e caprino. Um pequeno infante, sadio e grimpante. Esse ei-ou que ficou nos meus ouvidos são os pescadores esquecidos... as barcas da Cantareira...o mar com o seu marulhar ilhéu. Éramos gente querida na ilha, e a afeição daquela comunidade manifestava-se constantemente. Quero rever Governador, a Ilha! Que minha amiga Rachel de Queiroz pensa que é dela, mas não se engane, é nossa. Quero repalmilhar a praia de Cocotá, onde dez anos fui feliz. Era indizivelmente bom.

A POESIA

ILHA - Quando nasceu a poesia na sua vida?

POETA - A poesia paterna, que encontrara numa gaveta velha em casa, foi a minha grande e decisiva influência. Desejei imenso fazer versos assim, versos de amor. Eu havia sempre laborado na arte da poesia, desde os mais verdes anos. Às vezes, em meio aos brinquedos com os irmãos, na Ilha do Governador, fugia e ia me ocultar no quarto, a folha de papel diante de mim. Era tão estranho aquilo! Eu de nada sabia ainda, senão que tinha nove anos e Cocotá era o meu mundo, com sua praia de lodo, seu cajueiro e seus guaiamuns. Mas sabia vibrar em presença da folha branca que me pedia versos, viva como uma epiderme que pede carinho. O menino dentro de seu quarto dentro da Ilha, dentro da baía, dentro da cidade, dentro do país, dentro do mar, dentro do mundo. Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia.            Linha por linha, como psicografado, o poema - o meu primeiro poema - começou a brotar de mim. Amava era amar. Amava a mulher. A mais não poder. Por isso fazia seu grão de poesia E achava bonita a palavra escrita. Por isso sofria. Da melancolia de sonhar o poeta que quem sabe um dia poderia ser. Eu mostrava meus sonetos aos meus amigos - eles mostravam os grandes olhos abertos. A poesia é tão vital para mim que ela chega a ser o retrato de minha vida. Portanto julgar minha poesia seria julgar minha vida. E eu me considero um ser tão imperfeito... Pensei que nunca poderia ser poeta.

ILHA - E os Poetas ?

POETA - Me liguei muito a Bandeira, Drummond, Pedro Nava e outros...

COLÉGIO SANTO INÁCIO

ILHA - Religião?

POETA - Família católica, colégio de padres, aquele negócio de confessar aos domingos, de comungar. Mas acho que a vocação para o pecado era maior.

ILHA - Reza?

POETA - Sempre. Um homem como eu, que está sempre apaixonado, vive em prece.

LIVROS

ILHA - Com 19 anos publica o primeiro livro, Caminho para a distância; o segundo, Forma e exegese, que até ganhou um prêmio numa disputa acirrada com Jorge Amado, tinham um cunho espiritual...

POETA - Era o “Inquilino do Sublime”, como disse o Otto Lara Resende.

O BRASIL

ILHA - Poeta, escritor, jornalista, como diplomata conheceu o mundo, mas conheceu também um Brasil real. Mesmo assim, quando estava fora, lhe batia certa nostalgia?

POETA - Sim, não há dúvida: são saudades da pátria, e, sobretudo do que na pátria é pobre e diferente. São doces os caminhos que levam de volta à pátria. Não à pátria amada de verdes mares bravios, a mirar em berço esplêndido o esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a uma outra mais íntima, pacífica e habitual.
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias. De minha pátria, de minha pátria sem sapatos e sem meias, pátria minha. Tão pobrinha! Amada, idolatrada, salve, salve! Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta lábaro não; a minha pátria é desolação. De caminhos, a minha pátria é terra sedenta. E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular. Que bebe nuvem, come terra e urina mar.
Atento à fome em tuas entranhas e ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Pátria minha, saudades de quem te ama…

ILHA - Em 42, você viajou com o escritor americano Waldo Frank pelo Nordeste e Norte do Brasil. Esta viagem mudou sua visão política ao descobrir o Brasil?

POETA - Descobrir o Brasil, exatamente. Pela mão de um americano... Mas essa viagem representou para mim, em um mês, uma virada de 360 graus. Saí um homem de direita e voltei um homem de esquerda. Foi o fato de ter visto a realidade brasileira, principalmente o Nordeste e o Norte, aquela miséria espantosa, os mocambos do Recife, as casas de habitação coletiva na Bahia, o sertão pernambucano, Manaus. A barra me pesou mesmo. Eu tenho um envolvimento político bastante grande, mas nunca o expressei em minha poesia, exceto quando surgiu como uma coisa válida, como em “Operário em construção”, “Os barões da terra”,  “Mensagem à poesia”.

ILHA - Como você vê o Brasil?

POETA - Eu digo sempre uma coisa: tenho uma grande fé no Brasil. Uma fé meio estúpida, meio instintiva, por causa do povo. Realmente, a minha fé no Brasil não vem das instituições, nada disso. Agora, eu acredito neste povo. E cada vez que eu voltava ao Brasil, de alguma viagem ao exterior, essa crença aumentava, compreende? E como essa crença é um bem gratuito, eu prefiro tê-la a não tê-la.                                                                  

ORFEU

ILHA - Contam que a visita que fez com o escritor americano Waldo Frank, o mesmo que viajou com você pelo Norte e Nordeste, e à favela da praia do Pinto, que havia no Leblon, deixou-o enfeitiçado com o ritmo e a sensualidade dos negros sambistas. Frank teria dito que eles pareciam gregos antes da própria cultura grega. E naquele carnaval de 1942, a ideia enfim brotou de uma batucada no Morro do Cavalão, em Niterói, foi isso?

POETA - Pus-me a ler, por desfastio, num velho tratado francês de mitologia grega, a lenda de Orfeu - o maravilhoso músico e poeta da Trácia. Curiosamente, nesse mesmo instante, em qualquer lugar do morro, moradores negros começaram uma infernal batucada, e o ritmo áspero de seus instrumentos - a cuíca, os tamborins, o surdo - chegava-me nostalgicamente de envolta com ecos mais longínquos ainda do pranto de Orfeu chorando. O interesse que tinha pelo mito do Orfeu – o poeta- músico, que eu considerava, num plano ideal, o grande criador.

ILHA - Orfeu da Conceição (título sugerido por João Cabral de Mello Neto), Uma tragédia carioca, acabou resultando no seu encontro com Tom Jobim. Lúcio Rangel indicou e você pergunta a Paulinho Soledade, que também lhe falara a respeito.

POETA - Paulinho, estou precisando de um maestro que me ajude numas músicas que vou fazer. Você tem algum?

ILHA - Paulinho responde: Tom Jobim, mas tem um problema: ele é moderno...

ILHA - Trechos de Orfeu da Conceição.

 O morro, a cavaleiro da cidade, cujas luzes brilham ao longe.
São demais os perigos desta vida

Para quem tem paixão, principalmente.
Toda a música é minha, eu sou Orfeu!
 Eurídice...                                                                                                                            
Se todos fossem iguais a você Que maravilha viver!                                                            
Eurídice morreu.          
No interior do clube Os Maiorais do Inferno, num fim de baile de
terça-feira gorda.                                                                                    
E viva a orgia! É o reinado da folia! É hoje o último dia! E viva!                              
Amanhã é Cinzas! Hoje é o último dia! E viva Momo! E viva a folia!  
Sem Eurídice não há Orfeu, não há música, não há nada. O morro parou, tudo se esqueceu. O que resta de vida é a esperança de Orfeu ver Eurídice, de ver Eurídice nem que seja pela última vez! Desceu às trevas, e das grandes trevas ressurgiu à luz, e subiu ao morro onde está vagando como alma penada procurando Eurídice… Tudo morre que nasce e que viveu
Só não morre no mundo a voz de Orfeu.

CINEMA

ILHA - Sua paixão por cinema vem de criança. Defensor do filme mudo, você foi de censor a crítico. Roteirista de diversos filmes. Nessa sua paixão por cinema, como foi levar Orfeu para as telas, ainda que decepcionado com o resultado?

POETA - Sou apaixonado por cinema. Só Deus sabe como gosto de uma boa fita, o prazer que me traz “ver cinema”, discutir, ponderar, escrever, até fazer cinema na imaginação. Nesta adaptação construo o filme como eu o faria. Ao contrário de minha peça, em que a "descida aos infernos" de Orfeu situa-se numa gafieira, no 2º ato, estou transpondo o carnaval carioca para o final do filme, como o ambiente dentro do qual a Morte perseguirá Eurídice.

ILHA - Um dos grandes sucessos do filme foi “A Felicidade”, que dizia:

Tristeza não tem fim                                                                                              
Felicidade sim                                                                                                                          
(...)A felicidade é como a gota                                                                                                  
(...)E cai como uma lágrima de amor                                                                                    
A felicidade do pobre parece                                                                                          
A grande ilusão do carnaval                                                                                        
(...)Pra tudo se acabar na quarta-feira

BOSSA NOVA

ILHA - Fale-me de sua música.

POETA - Não falo de mim como músico, mas como poeta. Não separo a poesia que está nos livros da que está nas canções. Era uma insatisfação minha verificar que a poesia de livro atingia um número tão reduzido de pessoas. Dizem, na minha família, que eu cantei antes de falar. E havia uma cançãozinha que eu repetia e que tinha um leve tema de sons. Fui criado no mundo da música, minha mãe e minha avó tocavam piano, eu me lembro de como me machucavam aquelas valsas antigas. Meu pai também tocava violão, cresci ouvindo música. Depois a poesia fez o resto. A música começou mesmo na década de 50, quando voltei de meu primeiro posto diplomático no exterior, em Los Angeles. Agora, eu sempre fazia minhas  músicas, antes, mesmo sozinho, mas sem nenhum intuito de editar ou ver cantar. Aos 15 anos tive uma experiência interessante: eu me liguei a uma dupla vocal, que havia aqui, chamada Irmãos Tapajós, e comecei a compor com eles.    

ILHA - Durante os cerca de quatro anos em solo americano, você se apaixonou pelo jazz, que futuramente seria uma das raízes fundamentais para a Bossa Nova. Tom Jobim teve uma formação semelhante e João Gilberto, no interior da Bahia, também se interessava pelo mesmo estilo musical e, coincidentemente, teve as mesmas influências dos músicos cariocas. E o marco foi “Chega de saudade”, com Elizeth Cardoso e depois gravado por João Gilberto.  Você acha que a influência do jazz foi boa para a bossa nova?

POETA - Acho que foi uma influência muito boa. Com a influência do jazz, abriu tudo isso, você podia introduzir qualquer instrumento num conjunto de samba, os instrumentistas improvisavam, as harmonias melhoraram muito e se enriqueceram, os instrumentistas tornaram-se excelentes e conheciam profundamente seus instrumentos, como é o caso de Baden e Tom. A influência foi benéfica porque houve uma descaracterização de nossa música. O samba estava sempre presente na bossa nova. Além disso, a bossa nova trouxe mais alegria e bom humor à nossa música, que andava muito voltada para a tristeza, a dor de corno, a fossa, naquela época do Antonio Maria. Eram músicas muito bonitas, o chamado samba de boate. Com a bossa nova a coisa ficou mais sadia, mais otimista, os sentimentos eram mais de comunicação, mais legais. Bossa nova é mais um olhar que um beijo; mais uma ternura que uma paixão; mais um recado que uma mensagem.

Vai, minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai

Tanto assim que eu sou um dos pouquíssimos compositores brasileiros que atravessou essas gerações todas. Eu fiz música com o Pixinguinha, o Ary Barroso, com o pessoal da geração do Antonio Maria, o Paulinho Soledade; depois peguei o Tom, o Baden, o Carlos Lyra, o Edu, o Francis e, em 69, o Toquinho. E mesmo com caras mais jovens que o Toquinho eu já fiz música, como o Eduardo Souto Neto, o João Bosco.

AFROSSAMBAS E BAIANICES

ILHA - Em meados de 62, quando começa a compor com Baden Powell, surge uma grande virada com os ritmos baianos ...

POETA - O Baden tem uma produção muito boa, e foi ele quem me introduziu o elemento africano, o que não havia antes na bossa nova - eram todos brancos, arianos.

ILHA - Naquela altura da vida você retomou um caminho de fé?

POETA - Num plano assim de vida, não. Restou talvez uma certa religiosidade, própria de meu temperamento. Por exemplo, eu me interesso por candomblé, certas superstições. Isso é sinal de que tem algum fogo na cinza.

ILHA - Época dos afrossambas e você acabou virando... O branco mais preto do Brasil. Na linha direta de Xangô.

POETA - Quando digo que eu sou o branco mais preto do Brasil, digo a verdade. A minha comunicação com a raça negra é imensa. Sinto atração por ela, a todo momento descubro a sua vitalidade. A contribuição do negro à cultura brasileira é importantíssima. Só a contribuição rítmica que eles trouxeram; a magia do mundo negro, já me liga a eles definitivamente.

ILHA - Maysa e Elis Regina fizeram sucesso com “Canto de Ossanha”, num LP que exaltava com outros “Cantos”, outros orixás.

POETA - Amigo sinhô sarava, Xangô me mandou lhe dizer: - Se é canto de Ossanha, não vá! Que muito vai se arrepender. Pergunte pro seu orixá.  Amor só é bom se doer.

ILHA - E essa africanidade toda rendeu até palavrão. Uma nova forma de xingar os militares da ditadura?

POETA - Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem milico que saiba falar Nagô:

Eu saio da fossa xingando em nagô. Vou lhe rogar uma praga, eu vou é mandar você: Pra tonga da mironga do kabuletê.

ILHA – Em seu período baiano, você fez amizade com uma das mais famosas Ialorixás...

POETA - Ela é a Mãe Menininha do Gantois
Que Oxum abençoou, Tatamirô!

ILHA - Por encomenda, você e Toquinho fizeram a trilha da novela O bem amado, uma das faixas de maior sucesso foi “Meu pai Oxalá”.

Atotô Abaluayê  Atotô babá

Atotô Abaluayê  Atotô babá

Meu pai Oxalá é o rei Venha me valer

O velho Omulu

Atotô Abaluayê

ILHA - Voltando à Elis Regina, ela venceu o festival da canção de 1965, música sua e de Edu Lobo,  onde, além do primeiro lugar, você ainda faturou o segundo de quebra com Elizeth Cardoso. Vamos recordar uns trechinhos de “Arrastão”?

Ê! Tem jangada no mar Hoje tem arrastão! Todo mundo pescar Olha o arrastão entrando no mar sem fim. Traz Iemanjá pra mim Ê! É a rainha do mar Valha-me meu Nosso Senhor do Bonfim Nunca, jamais se viu tanto peixe assim.

ILHA - Essa onda afro, que começa com Baden em 1962, onde se destaca também “Berimbau”...

Capoeira me mandou Dizer que já chegou para lutar Berimbau me confirmou Vai ter briga de amor Tristeza, camará

ILHA -...se estende quase dez anos depois na sua temporada baiana, com uma nova parceria, para os íntimos o Toco.

POETA - Encontrei novamente um parceiro pra valer, e ele é um jovem paulista de 24 anos, com uma pinta de menestrel medieval conhecido pelo apelido de Toquinho, e simplesmente “janta” o violão.

ILHA - "Tarde em Itapuã", seria dado para o Caymmi musicar. Mas você lhe deu um voto de confiança e rendeu um dos maiores sucessos dessa parceria.

O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

CARIOCA

ILHA - Belas mulheres sempre inspiram, não é?

POETA - As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.

ILHA - A menina que passa acabou gerando a mais cantada música brasileira no mundo que é a “Garota de Ipanema”. Enquanto a menina passava você acabou tirando parte da letra definitiva num comentário com o Tom. Qual foi o comentário?

POETA - Você notou que quando ela passa o ar fica mais volátil? Eu acho que nem os egípcios, nem o próprio Einstein saberiam explicar por quê.

Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
(...)
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor

ILHA – “Carta ao Tom 74” mostra o saudosismo daquela época.

POETA - Rua Nascimento e Silva, 107 Você ensinando pra Elizete As canções de Canção do amor demais (...) Ah, que saudade Ipanema era só felicidade (...)Nossa famosa garota nem sabia A que ponto a cidade turvaria Esse Rio de amor que se perdeu

VINICIUS PARA CRIANÇAS

ILHA - Você lançou um livro de poemas infantis dedicado aos seus filhos. Desde a década de 70 tinha o desejo de musicar esses versos e transformá-los em um álbum. Foram dois álbuns com canções inspiradas em alguns dos poemas e interpretadas por grandes nomes de MPB, delas se destacam:

“A casa”
Era uma casa muito engraçada. Mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos, número zero.
                                                                                                           
“Aquarela”                                                                                                                                                
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo. Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que um dia enfim, descolorirá.

“O pato”                                                                                                                                      
Lá vem o Pato Pata aqui, pata acolá Lá vem o Pato Para ver o que é que há.

“A arca de Noé”                                                                                                                          
E abre-se a porta da Arca desconjuntada. Colorida maravilha, brilha o arco da aliança. Aos pulos da bicharada toda querendo sair. De par em par: surgem francas, conduzidos por Noé. Do prudente patriarca Ei-los em terra benquista

PAIXÕES

ILHA - O Drummond disse que você havia nascido sob o signo da paixão. Vamos ao ponto: Amor ou Paixão?

POETA - Eu ainda acho que o amor que constrói para a eternidade é o amor paixão, o mais precário, o mais perigoso, certamente o mais doloroso. Esse amor é o único que tem a dimensão do infinito.
 Eu sou um namorador inveterado.
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
Labareda
O teu nome é mulher
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
O encontro desse olhar
Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia
Para viver um grande amor
E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

ILHA – Boemia...

Onde anda a canção
Que se ouvia na noite
Dos bares de então
E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares
Onde anda você

ILHA - Sua alma boêmia tinha em seus versos sempre a companhia da lua ...

O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!
Lua linda!
Uma volúpia infinda!
Linda lua!
 lua amada
lua ardente
tão presente
Como se fosses minha namorada!

ILHA - Quero lhe apresentar aos nossos poetas da Ilha.

POETA -A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil

ILHA - Qual a receita de um bom samba?

POETA - Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

ILHA - E as tantas amizades que você fez?

POETA - A gente não faz amigos, reconhece-os.

ILHA - Seus parceiros?

POETA - Meus principais parceiros, Antonio Carlos Jobim, Carlinhos Lyra e Baden Powell, são pra mim o Pai, o Filho e o Espírito Santo...

ILHA - E o Toquinho?

POETA - Amém.

E há Pixinguinha. Pixinguinha, eu acho que é o próprio Deus em pessoa.

Isso sem falar em Ary Barroso.

Edu lobo e Francis Hime.

ILHA - Você poderia definir qual seu estilo?

POETA - Infelizmente, eu não tenho estilo. Um amigo meu costuma dizer que eu sou muitos. Se fosse um só, não me chamaria Vinicius de Moraes, no plural.

ILHA – E agora o Vinicius showman. Para comemorar seu centenário e a eternidade de suas obras, vamos fazer surgir um grande palco com alguns de seus grandes shows: Boite Au Bon Gourmet, com Tom e João Gilberto; no mesmo local, com Carlos Lyra e Nara Leão, na comédia musical Pobre menina rica; Boite Zum Zum, com Caymmi e quarteto em Cy; Toquinho e Clara Nunes, no teatro Castro Alves,  em Salvador; Maria Medalha e Maria Creusa, em Milão; Bethânia e Toquinho, no La Fusa, em Mar Del Plata; com Joyce, em Punta Del Leste; Tom, Toquinho e Miúcha, no Canecão e inúmeros outros...

ILHA – Já que celebrar é alegria de viver, o que é a vida pra você?

POETA - A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

ILHA - Você, um poeta dentro da vida... Ela tem sempre razão?

POETA - Sei lá, sei lá
Só sei que é preciso paixão

ILHA - E a morte?

POETA - Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Amigos meus, está chegando a hora Em que a tristeza aproveita pra entrar E todos nós vamos ter que ir embora Pra vida lá fora continuar Prontinha pro show voltar E em novo dia A gente ver novamente A sala se encher de gente Pra gente comemorar
E no entanto é preciso cantar Mais que nunca é preciso cantar É preciso cantar e alegrar a cidade Quem me dera viver pra ver E brincar outros carnavais
A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus

ILHA - Calma poeta, tenho uma última pergunta:
Um repórter lhe perguntou se você tinha medo da morte. O que respondeu?

POETA – Não, meu filho. Eu não estou com medo da morte. Eu estou é com saudade da vida.

ILHA - Até mais Poeta...te vejo na Ilha.

POETA - Saravá!

sábado, 2 de junho de 2012

Desfiles 2012 - Mocidade Independente de Padre Miguel


Mais uma vez a Mocidade não conseguiu a sonhada volta ao desfile das campeãs. Apesar do bom desfile e de estar plasticamente muito bonita, novamente ficou na parte de baixo da classificação, em um ano onde apostou em muitas mudanças e contratações de peso. Alguns problemas técnicos prejudicaram a apresentação da verde e branca, como o defeito do abre-alas e o samba, que acabou não rendendo e prejudicou outros quesitos. Em um ano de desfiles nivelados por baixo, os detalhes fizeram com que a estrela da Mocidade ainda não brilhasse.

COMISSÃO DE FRENTE: A ideia da assinatura de Portinari foi original e interessante, sendo o único ponto impactante da apresentação. Com coreografia simples, não chamou atenção. O grande tripé que acompanhava os dançarinos não se justificou. As fantasias e a concepção eram muito parecidas com a comissão da Ilha do ano passado.

MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: Faltou energia e empolgação na apresentação. Passaram a ideia de muita cautela para não cometerem erros. Bailado suave demais.

SAMBA-ENREDO: Um excelente samba que não rendeu. A cadência lenta demais fez com que se arrastasse, tornando sua execução sonolenta. Não contagiou, não explodiu. Apesar disso, uma letra linda e muito poética e boas variações melódicas.

ALEGORIAS E ADEREÇOS: A escola veio muito bonita, com alegorias bem feitas. O abre-alas tinha a mesma concepção do da Renascer, todo branco e com luzes que mudavam de cor. O sexto carro, de Dom Quixote, foi todo pintado com giz de cera, produzindo um efeito muito interessante. O último carro, dos murais "Guerra" e "Paz", também estava muito bonito, apesar da ordem das esculturas ficar melhor se fossem trocadas. O carro traz a temática da paz na frente e da guerra atrás, o que fez com que a última imagem do desfile fossem caveiras e foices. Ao contrário seria de mais bom gosto. 

FANTASIAS: Muito bonitas e luxuosas na maior parte do desfile. Seguindo a boa plástica dos carros, a Mocidade também veio bem vestida. Algumas geraram um pouco de poluição visual por serem coloridas demais.

CONJUNTO: Como dito no quesito "Fantasias", a escola veio com muitas cores em alguns setores, o que causou uma certa poluição visual. Em outros o conjunto foi harmonioso, como no quinto setor, mais pesado e escuro, que produziu um contraste interessante. Os problemas com os carros na dispersão fez com que a escola corresse no fim, prejudicando o andamento do desfile. O samba arrastado fez com que a apresentação da Mocidade perdesse um pouco a empolgação.

HARMONIA: A maioria das alas cantou, apesar de um ou outro componente passar calado. A cadência do samba não auxiliou o canto.

EVOLUÇÃO: Prejudicada pela correria no fim e, mais uma vez, pelo arrastamento do samba. 

ENREDO: A história de Portinari e suas principais obras foram bem contadas e representadas. A ideia do pincel e das cores foi explorada demais, sobretudo no início. 

BATERIA: Muito boa, com diversas paradinhas muito bem executadas. Fantasia bonita, apesar de mais uma vez mostrar o conceito das cores, e de fácil movimentação para os ritmistas. Os canhões de papel picado, apesar de não influenciarem na avaliação, serviram para levantar o público.

sábado, 26 de maio de 2012

Sinopses 2013 - Portela

"MADUREIRA... ONDE MEU CORAÇÃO SE DEIXOU LEVAR"


Rio de Janeiro, 1970.

Avenida Presidente Vargas.

“Nesta Avenida colorida a Portela faz seu carnaval...”

Com o rosto molhado de suor e lágrimas, vejo a minha Escola conquistar a plateia com mais um desfile. Agora com um sabor especial, se aquecendo... “senti meu coração apressado, todo o meu corpo tomado, minha alegria voltar...”

E então pensei:

“Meu coração tem mania de amor...” E que amor é esse que me conquista a cada dia? Que amor é esse que move toda essa gente? De onde vem isso tudo e como essa história começou?

E é isso que vou descobrir.

E assim, com a alma aquecida de emoções, lá fui eu para Madureira, de trem, cantando samba, assim como Paulo Benjamin fazia décadas atrás.

“Eu canto samba
Porque só assim eu me sinto contente
Eu vou ao samba
Porque longe dele eu não posso viver...”

Quero trilhar os caminhos desse povo, como um “peregrino”, descobrir sua gente, sua cultura, sua fé, o seu canto e o seu samba.

Descobrir sua história.

Pisar onde outrora pisaram tropeiros, escravos, boiadeiros, mercadores e imperadores, caminhos de trabalho e suor, onde antes só se viam fazendas, engenhos e fé, afinal toda essa história começa pela fé.

E o povo dança, o povo canta; dança o branco, dança o negro.

“Pisei na pedra
A pedra balanceou
Levanta meu povo
Cativeiro se acabou”

Negros fugidos, negros forros. Festa, jejum e esmola. Samba, dança, música e religião. Enfrentar a dor através da arte.

Casas de umbanda e casas de candomblé, liderança e mistério, atraindo a atenção para a “roça”.

Caminhos de terra, caminhos de ferro.

E o povo vai chegando, de tudo quanto é direção. Imigrantes de dentro e de fora. Os caminhos viram estradas.

Estradas de terra, estradas de ferro.

Chega o progresso e com ele os ambulantes, que depois viram mercadinhos, os mercadinhos viram mercados e os mercados viram mercadões.

E eu... vou seguindo meu caminho.

Vou ouvindo batuques, ritmos e sons. Sons sincronizados, parecendo sapateado. Mas são apenas sons de pés, que dançam, chutam e pulam. Pés que vão construindo outros caminhos. Não importa se num tablado, no asfalto ou na grama, o importante é a ginga, que por vezes me lembra a de um malandro. Como tantos que esta história construiu. Ou como tantos que aqui chegaram para construir outras histórias. Malandros loiros, brancos, mulatos, sararás, crioulos. Assim como as músicas, loiras, brancas, mulatas, sararás e crioulas, ou como se diz agora: black.

“No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança”

E o batuque continua.

Marchinhas, mascarados, coretos, baianas, blocos de sujo, carnaval...

São os caminhos da folia! Caminhos da fantasia, onde cada um é o que deseja ser, onde mulher pode virar homem e homem, virar mulher. E é através da fantasia, do sonho, que nascem duas das maiores Escolas de Samba da história.

E que orgulho hoje ver Portela e Império, juntas, a cantar que esse nosso lugar “que é eterno no meu coração. E aos poetas traz inspiração pra cantar e escrever”.

Madureira é assim. Amor, atividade intensa, vivida com orgulho suburbano, lugar de morada da altiva nobreza popular, pois aqui reside a Majestade do Samba.

“Não posso definir
Aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar...”

Tantos são os caminhos, e por eles vou atrás de suas histórias, me sentindo cada vez mais parte integrante dela, deste lugar e destes caminhos, que hoje se encontram mais uma vez, afinal...

Sou Paulo, sou Paulinho, da Viola e da Portela.

E tenho muito orgulho em contar esta história para vocês, afinal... “o meu coração se deixou levar.”

E, agora, o mesmo trem que me trouxe, me leva de volta, e continuo batucando, não mais como Paulo Benjamin fazia, mas como todos os Portelenses continuam fazendo ainda hoje, preservando a sua memória e o seu lugar, que eternamente será conhecido como a “Capital do Samba”.

“Madureiraaa, lá lá laiá.”

Paulinho da Viola,
pelas mãos de Paulo Menezes (e mais uma vez os caminhos se cruzam).

Este enredo é dedicado aos noventa anos da Portela e a todos os portelenses que, infelizmente, não estão mais entre nós, mas que continuam abençoando a Portela lá de cima, do Olimpo dos sambistas.