Por mais um ano, os gresilenses podem ficar tranquilos com relação ao seu samba-enredo. Os compositores da Imperatriz novamente mostraram sua força e a escola tem uma das melhores safras para 2012. Há, pelo menos, 8 sambas que podem servir bem ao desfile a ainda brigar pelo tri no Estandarte de Ouro. O enredo também ajudou muito, a sinopse ficou muito boa. E ao falar sobre Jorge Amado, a agremiação não poderia fazer feio de forma alguma. O interessante da disputa é que, entre os tantos bons sambas disponíveis, há uma enorme variação estilística. Há sambas bem pra cima, agitados e empolgantes, e outros mais sutis e melodiosos, com letras mais poéticas. Opções pra todos os gostos e com muita qualidade. O pecado de algumas composições foi focar mais na Bahia do que no próprio Jorge Amado, o que pode ser prejudicial numa competição tão acirrada. Mas a parte musical do desfile da Imperatriz está mais do que garantida.
Resumindo: Excelente safra. Há muitas opções de boas obras, dos mais variados tipos. A Imperatriz, mais uma vez, terá um dos melhores sambas do ano.
Foi difícil escolher apenas 3 sambas na safra da Imperatriz. Abaixo estão aqueles que tem algum diferencial que os destacou perante os demais. Mas, como já foi dito, há diversas boas obras nas eliminatórias gresilenses.
Com um característico estilo diferenciado dos moldes atuais, o samba de Espanhol, Sylvio Paulo e Vitor Kacz não tem uma gravação com muitos recursos, e pode passar despercebido à primeira vista. Mas ao ouvi-lo com atenção, nota-se que é o que melhor resume o enredo, passando pela trajetória de vida de Jorge Amado e suas obras. A letra, feita em primeira pessoa, é de uma poesia ímpar, sem lugares comuns ou clichês. A melodia é incomum aos sambas atuais, o que, infelizmente, pode prejudicar a parceria na disputa. Uma grata surpresa na safra de 2012, para ouvir e apreciar.
Compositores: Espanhol, Sylvio Paulo e Vitor Kacz
Intérprete: ???
Cheguei
Na proteção dos Orixás
Ouvindo o canto às Yabás
Entre os tambores da Bahia...
Andei
Entre fazendas e Gongás,
Becos, ladeiras e ganzás
Levei pro mundo essa magia...
No meu peito amanhecia
O ideal, na Capital...
Do Direito à boemia,
Fiz de um país, Carnaval
Saudade vem, volto com ela
Colhi Cacau e dei a tempero a Gabriela...
Dei duplo amor pra Dona Flor,
Mas outra Flor vai me seguir por onde for
Em noite de lua cheia,
Para os pequenos Capitães eu dei Areia...
Na mutrêta com Tieta
Dei Agreste em vez de terra;
Pra Teresa eu dei a Guerra...
Farda e Florão conquistei,
Já joguei flores no mar,
Mãe Menininha avistei,
Vou pra sombra descansar...
Que povo é esse, batucando tão feliz?
Toda a Bahia numa obra que eu não fiz?!
Aqui plantado, entre a relva e a raiz,
Sou tão Amado, que hoje eu sou a Imperatriz...
O samba de Frank, Henrique César, Maninho do Ponto, Marquinho Dentinho e Saintclair possui melodia espetacular. Um show de originalidade e sutileza melódica, com variações sensacionais em toda a extensão do samba. O refrão do meio é o grande destaque. A letra acompanha a qualidade melódica, com muita poesia e versos com riqueza de informações. Um dos melhores sambas-enredo de todas as eliminatórias de todas as escolas até aqui. Talvez não seja ideal a um desfile nos moldes atuais, onde certamente seria mais acelerado. Se a escola quiser arriscar, estaria dando um presente aos amantes do Carnaval.
Compositores: Frank, Henrique César, Maninho do Ponto, Marquinho Dentinho e Saintclair
Intérprete: Wander Pires
Á luz de Oxalá,
Chegou Imperatriz.
Não há nenhum motivo pra não ser feliz!
Amado Jorge amante dos milagres,
Navegante desses mares,
O sopro da brisa anuncia.
À lua prateada que ao sabor da madrugada,
Que um mar de fantasia, deságua na bahia.
De todos os santos, de São Salvador.
Lavando as escadas de nosso senhor,
Levando oferendas pra mãe Iemanjá, (Odoyá)
Tieta teu olhar exala sedução,
Perfume pelo ar inspiração
Cada esquina traz ao escritor,
Um Quincas Berro d’Agua ou uma Dona Flor.
Um brasileiro imortal,
Que tingiu de vermelho a igualdade.
Ama sem meias palavras,
Paixão companheira fez morada.
Ilê Aye som de atabaque e alabê.
É o pelourinho a lhe agradecer,
Com rufos de tambor.
Cem anos do mestre toca o olodum,
E cada requebrado me alucina.
Tem cheiro de cravo, cor de canela,
Vem com o swing da Leopoldina!
O país do carnaval é aqui, vem ver!
No mercado tem pimenta, cacau, dendê.
É a magia dos Filhos de Gandhi é a fé,
Axé Jorge Amado Axé!
O samba de Drummond, Flavinho, Gil Branco, Me Leva e Tião Pinheiro é o que melhor se encaixa na voz do intérprete Dominguinho do Estácio. A parceria campeã de 2011 vem forte em busca do bicampeonato, com um samba de tom mais dolente porém com um refrão principal muito forte - uma característica dos sambas da Imperatriz nos últimos anos - e uma bonita letra, que não ousa tanto quanto os demais mas também é bastante poética. O final da segunda parte, a partir de "desce a ladeira", é um dos melhores momentos. Excelente composição, que se adequa ao estilo do intérprete da escola e alia qualidade e funcionalidade. O Carnaval de Avenida aposta neste samba e parabeniza a Rainha de Ramos pela magistral ala de compositores.
Compositores: Drummond, Flavinho, Gil Branco, Me Leva e Tião Pinheiro
Intérprete: Nêgo
Oxalá!
Tua coroa ilumina o meu caminhar!
Vem do mar a esperança,
Navegando na lembrança,
Seguindo pelas águas de Iemanjá!
Traz da Bahia seu filho amado,
Canta as estórias que ele contou...
No vento, a liberdade!
No peito, um ideal!
Perfume, malandragem, boemia...
O país do Carnaval!
Põe tempero, Gabriela... Pro povo sambar!
Do jardim a Flor mais bela, também quero amar!
Tereza Batista cansada de guerra...
Tieta seduziu o meu olhar!
Palavras à beira do cais
No porto do meu coração!
Traduziu com sentimento a alma desse chão,
Valorizou toda grandeza
Da nossa miscigenação!
Obá de Xangô!
Okê Arô, eu peço proteção!
Os tambores anunciam:
É canto e dança em louvação!
Desce a ladeira, de verde e branco, vem cantar!
Ecoam meus versos do Rio à Bahia,
Ao som do berimbau na bateria!
A bênção, meu pai Amado!
É dia de festa, o povo vem te abraçar!
A Imperatriz vai convidar,
Quem é de paz, pode entrar!
Grande samba da parceria Frank, Henrique César, Maninho do Ponto, Marquinho Dentinho e Saintclair
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