Os melhores sambas da década - São Paulo 2008

Uma das melhores safras paulistanas da década foi produzida em 2008. Isso se reflete no número de sambas destacados abaixo: cinco. O maior número para um mesmo ano até agora. Alguns sambas, incluindo os que não aparecem aqui, podem até não ter uma letra perfeita, mas salvam-se em melodia. A melodia sempre foi o grande forte dos sambas de São Paulo e em 2008 isto ficou bem visível. A começar pelo primeiro samba destacado, da Camisa Verde e Branco. Com um enredo sobre cabelos, igual ao da Vila Isabel em 2011, a escola conseguiu uma obra de melodia muito leve e agradável, com variações muito boas. Apesar do rebaixamento, deixou uma bela contribuição musical para o carnaval. A Mancha Verde também apresentou um samba muito interessante. Ariano Suassuna comprovou que dá samba já que com o mesmo enredo o Império Serrano também teve seu samba destacado como um dos melhores da década, em 2002. A mudança melódica do refrão do meio para a segunda parte é muito boa. Mais uma excelente composição da escola alvi-verde. A campeã Vai-Vai fez o melhor samba do ano textualmente. Um verdadeiro protesto que incentiva o país a "acordar". Um dos destaques da escola do Bixiga. Falando sobre o centenário da imigração japonesa, a Vila Maria desfilou com o melhor samba de sua história. Apesar de extenso, não é cansativo e possui uma letra muito inspirada e emocionante, assim como a Vai-Vai. E completando a lista de destaques, o Império de Casa Verde apresentou um samba diferente dos moldes atuais, sem o refrão do meio. A letra alterna momentos excelente com outros nem tanto mas a melodia é sensacional, extremamente dolente, o que é a especialidade da escola.
Se compararamos a safra de 2008 com a de 2001, por exemplo, fica nítido o extremo aprimoramento dos sambas de São Paulo, em letra e, sobretudo, em melodia. Bom para o carnaval.

CAMISA VERDE E BRANCO - 2008



Enredo: Da pré-história ao DNA: A história do cabelo eu vou contar!
Compositores: Leonardo Trindade, Rodney Cheto e Marcinho Keleque

Viajei na memória pra contar (lalaia)
Do presente à pré-história
Fio a fio desvendar
Quem guarda o corpo faz a cabeça
Foi primitivo numa louca sedução
Tornou mais belos os reis e rainhas
Temido na mitologia
Na Grécia e Roma definia classes sociais
Se fez tão nobre, ganhando força e paixão
Quem não se lembra dos cabelos de Sansão

É crença, é religião... É fé
Salve a rainha do mar... Axé
E no meu ritual a Barra Funda é
Raiz profunda de quem tem samba no pé

Jogue suas tranças, vem ser criança
Num mundo de fantasias
Reviver um tempo de um movimento
Tropicalizado em melodias
"O teu cabelo não nega"
De onde veio você
Crespo, grisalho, bem liso, loiro ou colorido
Neste carnaval
Camisa Verde dá o tom do visual
Camisa Verde dá o tom do visual!

O meu canto no ar... Se espalha
Pioneiro é raiz... Da alma
A família Verde e Branco é emoção
Delírio dessa multidão


MANCHA VERDE - 2008



Enredo: És imortal...Ariano Suassuna, sua vida, sua obra, patrimônio cultural
Compositores: Rafa do Cavaco, Thiago de Xangô, Juninho Berin, Imperial, Chumbinho e Tião

Avante... Mancha Verde na avenida
No esplendor do "Auto da Compadecida"
Iluminando a vida em obras
De um menino que nasce pra história
Revolução "batiza" o filho do sertão
No cariri a emoção
Entra em cena a sedução
Alma de palhaço no picadeiro da ilusão

É na luz do sol que arde a paixão
Faz sorrir o coração
Zélia, um mundo de eterna magia em poesia

Cavaleiro dos sertões
A mostrar em tradições
A luta do bem e do mal, herança medieval
Ecoa a voz do Nordeste
Povo guerreiro, cabra da peste
Patrimônio cultural
E fez-se então o armorial
Segue o romanceiro tão feliz
Desbravando esse país
Ao preconceito disse não
Se é de igual pra igual, vou sacudir geral
Suassuna, és imortal

A Mancha é paixão
A razão do meu viver
Em verde e branco rompi barreiras
Ensinando a vencer


VAI-VAI - 2008



Enredo: Acorda Brasil! A saída é ter esperança
Compositores: Zé Carlinhos, Nayo Denai, Vagner Almeida e Danilo Alves

Desperta gigante, é novo amanhecer
A levada do meu samba vai te enlouquecer (meu Brasil)
Esbanja talentos musicais, herança de gênios imortais
Do céu ecoam melodias, em sinfonias que embalam meu cantar
E “carinhosamente” a Bela Vista a desfilar, vem mostrar
Que um lindo sonho, nesta vida se torna real
Pra quem lutar, acreditar, buscar um ideal
Um lindo sonho, nesta vida se torna real
Pra quem lutar, acreditar num ideal

Alô Brasil, o nosso povo quer mais
Educação pra ser feliz!
Com união, vencer a corrupção
Passar a limpo este país!

Brilhou na arte a esperança
Iluminou as nossas vidas com o doce afã
De tocar, encantar, transformar as mentes do amanhã
Com o dom da musicalidade, “acordes com dignidade”
Vem ver, na grande ópera do carnaval
O bem vencendo o mal, é a força da cidadania a trilhar
Vamos gritar aos quatro cantos desta pátria mãe gentil
Pra sempre vou te amar, “Acorda Brasil”

Eu sou guerreiro de fé
Meu samba é no pé, sou Vai-Vai
Se quero axé meu manto traz
No branco a paz, no preto amor
Sou brasileiro e tenho meu valor


VILA MARIA - 2008



Enredo: Irashai-Mase, milênios de cultura e sabedoria no centenário da imigração japonesa
Compositores: Dão, Veia, Martins, Nando e Moleque Pára

Abrem-se os portais
Das tradições, de uma cultura milenar...
Preservam seu jardim oriental e a arte de cultivar
Na religião, celebração, a cerimônia do chá
No Ocidente se tornou realidade
A conquista do tratado da amizade
E com a honra de um samurai guerreiro
Cruzou os mares rumo ao solo brasileiro

Pra massa toda aplaudir
A bateria ta aí... Vem ver
E vamos comemorar
O centenário brindar... Saquê

Em sua criação, a gentileza tem rosto de mulher
Símbolos da sorte que anunciam devoção e muita fé
O shodo não se apagou!
A arte deu movimento à vida!
No plantio do algodão, ô terra boa, o que se planta dá
Na culinária, requinte em nossa mesa
Pratos com toque de beleza
A evolução da tecnologia
Dá asas a imaginação, presente em nosso dia-a-dia
Com a imigração, somos filhos de uma só nação
Arigatô a essa parceria
Brasil, Japão, que alegria

Estrelas vão brilhar
Vila Maria vai passar
Irashai-Mase a esse povo do Oriente
Da terra do sol nascente


IMPÉRIO DE CASA VERDE - 2008



Enredo: Sambando, cantando e seguindo a canção. Vem, vamos embora para a festa da MPB
Compositores: Júnior Marques e Raphael do Império

Oh, abre alas que o chefe da folia
Pelo telefone mandou avisar
Que tem carnaval... Tem alegria no ar
Taí, eu fiz de tudo pra você gostar de mim
Bate feliz meu coração tão carinhoso
Venha comigo amor nessa aquarela...
Ao som de um samba-canção
Cantando eu vou...
Minha saudosa maloca querida
Que o poeta imortalizou
Tem jangada no mar... Hoje tem arrastão
Bossa-nova pra tocar teu coração...
Da Jovem Guarda à tropicália eu vou cantar...
É domingo no parque, amor
Deixa o menino brincar
Pra não dizer que não falei das flores
Solto a voz nas estradas
Sou maluco beleza
Sou a mosca que pousa no prato de sopa
Dos Novos Baianos
Brega ou chique eu sou assim
Falo de rock ao som de um tamborim
Pagode, fricote eu sou... Coração sertanejo
Rap, funk ou raiz, mistura que te faz feliz
E vai rolar a festa, só falta você
Então vem mergulhar nesse mar de prazer
Com meu tigre guerreiro na nova era da MPB

Vem comigo ver o sol nascer...
Vem, vamos embora
Sambando e cantando, seguindo a canção
O meu Império é quem faz a hora