quinta-feira, 31 de março de 2011

Os melhores sambas da década - Rio de Janeiro 2008


A safra de 2008 foi uma das melhores da década, se não a melhor. É nivelada por cima e não há sambas ruins. Apesar de também ter poucas obras que possam ser consideradas históricas, a qualidade textual e melódica dos sambas apresentados é bem alta. Há o samba da Portela, que, na minha opinião, foi um dos mais funcionais da década. Funcional no sentido de impulsionar o desfile mas, diferentemente da maioria dos sambas de mesmo estilo, este tinha mais qualidade melódica. O samba da Mangueira sobre o criticado enredo sobre o frevo, já que a escola tinha a obrigação de homenagear Cartola em seu centenário, também é muito bom. Pena que o desfile da escola foi terrível. Beija-Flor, Grande Rio e Salgueiro também se destacam mas, como foi dito, toda a safra vale a pena.
O primeiro grande samba do ano é da mais uma vez injustiçada Porto da Pedra. Depois do sambaço de 2007 a escola desfilou com outra belo obra, de muita beleza poética e melodia expressiva. Mas fez um desfile mediano e o samba até hoje não tem o reconhecimento que merece. A Imperatriz ganhou o Estandarte de Ouro com um samba muito empolgante e que, apesar da simplicidade, consegue se impôr. O refrão principal é sensacional. Rivaliza com o de 2005 pelo posto de melhor da escola na década. E a Mocidade produziu o samba que, em minha opinião, é o segundo melhor da década, perdendo apenas para o da Porto da Pedra de 2007. Com uma melodia pra cima e de variações excelentes, valorizadas pela interpretação de Bruno Ribas, o samba da escola de Padre Miguel foi de longe o melhor que a escola produziu desde 1999. A letra também possui momentos muito inspirados. Grande composição de 2008 e segunda melhor dos anos 00.

PORTO DA PEDRA - 2008



Enredo: 100 anos da Imigração Japonesa no Brasil - tem Pagode no Maru
Compositores: David de Souza, Fábio Costa e Carlos Júnior

Brasil! Abra o leque ao Japão, são 100 anos de imigração
O show vai começar
De São Gonçalo, o meu tigre se transforma em torá
Imperador da cultura milenar
No templo dourado, a mãe natureza
Sopra o vento da paz, encontro marcado com a sutileza
Há luz, bambus, bonsais
Gira baiana, oh, mãe do samba
Emana cerejeira em flor
Na grande viagem, a fé na bagagem
A esperança navegou

O maru cruzou o mar
Lançado à sorte, o braço forte na lavoura trabalhou
A liberdade, cultura viva
Terra querida, é luz e cor


O sopro do gênio o fez samurai
Quem foi Manabu? Das artes o pai
Quem dobra o papel com as mãos do céu
Faz do origami pedaço de paz
Vai um sushi saborear
Vi um gato no mangá, o gato é sorte
Vem coração oriental
Vem na era digital me dar suporte
Japão, o sol nascente brilha em cada um de nós
Em azakusa agora explode a minha voz
E a lágrima que cai é de emoção

A verdade que embala o meu coração
É a Porto da Pedra a minha paixão
Aplausos que o show vai terminar, ôô
Me perdoe se eu chorar



IMPERATRIZ - 2008



Enredo: João e Marias
Compositores: Josimar, Di Andrade, Carlos Kind, Valtenci e Jorge Arthur

Maria, uma princesa
Também sonhava
Um dia um príncipe encontrar
E ouviu do rei de França
Em meio ao luxo e a bonança
Maria Antonieta tu serás
Em Portugal, outra rainha, Dona Maria
A louca não podia governar
Delirava temendo a revolução
E entrega o reino a João
Regente assim se fez e o imperador francês
Ordena a invasão

Ou ficam todos
Ou todos se vão
Embarcar nessa aventura
E "Au revoir Napoleão"


Cruzaram mares
Chegaram ao Brasil
São novos ares, progresso e a transformação
Vieram as Marias, toda a fidalguia, dom João
O tempo passou, irão se casar
Duas Marias da mesma raiz
Luisa com Napoleão
E Leopoldina será nossa Imperatriz
Será também nome de trem
Que passa em Ramos, a nossa estação
Onde imperam Marias e Joãos

Vem brincar nesse trem, amor
Que vai parar na estação do coração
Faz brilhar no céu, Imperatriz
As onze estrelas do teu pavilhão



MOCIDADE INDEPENDENTE - 2008



Enredo: O Quinto Império - de Portugal ao Brasil, uma utopia na história
Compositores: Marquinho Marino, Gustavo Henrique e Igor Leal

Portugal
Bendito seja, abençoado pelo Criador
Uma utopia, um destino, um sonho
Mistico, de grandes realezas
Sonhar com glórias, um rei desejar
E o Sol volta a brilhar
Com a esperança no olhar
Mas desapareceu como um grão de areia no deserto
E encantado renasceu
Em cada ser, em cada coração
Para afastar a cobiça, na busca do ideal
O Quinto Império Universal

Deixa o meu samba te levar
E a minha estrela te guiar
À praia dos Lençóis, nas crenças do Maranhão
Tem um castelo, que é do Rei Sebastião


No Rio de Janeiro aportaram caravelas
Trazendo a Família Real
Progresso em cores combinadas
Debret retratava a transformação
Nas terras tropicais do meu Brasil
A herança, a dor... O mito ressurgiu
Eis o guerreiro sebastiano
O mais ufano dos lusitanos, em verde e branco
Que traz no peito uma estrela a brilhar
De Norte a Sul desta nação
Faz a manifestação popular

Minha Mocidade... Guerreira
Traz a igualdade, justiça e paz
Hoje o Quinto Império é brasileiro, amor
Canta Mocidade, canta

2 comentários:

  1. O da Beija deveria estar cá, numa quarta vaga.

    Esse refrão é uma coisa tão linda! "O meu valor me faz brilhar/Iluminar o meu estado de amor/Comunidade impõe respeito/Bate no peito eu sou Beija-Flor".

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  2. Concordo que o da Porto da Pedra é subestimado - a escola tem ótimas canções: 07, 08, 10 e 11, todas relegadas -, o da Mocidade e o da Portela renderam lindamente e o da Imperatriz foi sensacional (a minha campeã aquele ano, apesar de não contestar o título da Beija-Flor, também com um sambaço).

    Porém, nenhum desses é obra-prima (apenas me empolgo para valer com o da GRESIL e com o da Mocidade). A Tijuca, que fez grande desfile, tinha um samba apenas apresentável. Vila, Salgueiro, São Clemente, Grande Rio, Mangueira e Viradouro fizeram desfiles insossos e com sambas fracos pro meu gosto.

    Agora, quero ver o que você vai salvar do pavoroso 2009. De longe, o pior ano do Grupo Especial, a meu ver, não fosse pelo resultado da campeã, inconteste e que me deixou muito feliz por ter se superado e merecido.

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