quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Eliminatórias 2012 - Mocidade Independente de Padre Miguel

No último Carnaval a Mocidade só não voltou no desfile das campeãs por causa do quesito desempate, samba-enredo. Perdeu a vaga para a Imperatriz, que tinha o Estandarte de Ouro no quesito, enquanto a escola de Padre Miguel possuia apenas um oba-oba que começava com "Tá todo mundo aí? Levanta a mão...". Ao que parece, esse fato fez muito bem pra escola, pois a safra para 2012 é uma das melhores dos últimos tempos. A Mocidade tem ótimos sambas para escolher, mais de uma opção para ter um dos destaques do ano. O enredo também ajudou muito. Após alguns temas de difícil assimilação e musicalização, a escola apresentará Portinari. Um enredo muito rico e que proporcionou aos compositores bastante material para composições inspiradas, ajudados pela boa sinopse de Alexandre Louzada. Há muito tempo a Mocidade vem tentando se reencontrar e, pelo menos no que diz respeito a samba-enredo, parece que já está conseguindo (apesar da precoce escolha do enredo para 2013 ser um pouco desanimadora. Mas foco em 2012).

RESUMINDO: Excelente enredo, excelente safra. A Mocidade dificilmente não terá um dos melhores sambas do ano.

A seguir, os três melhores sambas da Mocidade para 2012, na opinião do Carnaval de Avenida.

O samba de Arlindo Neto, Gustavo Henrique, Jorginho Medeiros e Marquinho Índio tem uma melodia dolente e boas variações. A letra é mais compacta mas não deixa de ser bonita e ter boas sacadas. Os refrões são ótimos, explosivos sem deixarem de ser melodiosos. Samba muito bem produzido.



Compositores: Arlindo Neto, Gustavo Henrique, Jorginho Medeiros e Marquinho Índio
Intérprete: Wander Pires

Meu samba vai despertar
O "artista", e encantar toda cidade
Viaja num sonho de cores
Batendo os tambores
Pintou mocidade
Vem deixa o meu povo te levar
Hoje a nossa estrela vai brilhar
Em cada traço a inspiração
Emoção...

Sou menino sonhador... Amor
Sou herói desbravador... E vou buscar
A vitória que a arte emoldurou
E deu o tom do meu cantar


Nessa missão agradeço a deus
Pela fé que me faz sonhar
O dom me lança em seu caminho
Não dá pra ser feliz sozinho
Samba, "cândido", samba
Desenho o poema a luz do luar
É hoje que eu ''morro'' de felicidade
Eu sou favela, eu tô na tela
Nessa aquarela
Com a minha Mocidade

Guerra eu não quero mais
Eu peço paz, pro mundo mais feliz
Padre Miguel escola querida
Por ti darei a vida



A obra de Anderson Viana, Beto Martins, Bira Fernandes e Ricardo Mendonça se destaca por ter uma melodia mais clássica e pra baixo, similar aos sambas um pouco mais antigos. Assim como a letra, não é previsível e não contém clichês. É, de certa forma, ousado, por ter características diferentes do que se tornou convenção no quesito e do que a escola vem escolhendo. Mas essa ousadia é louvável e o samba é excelente. Uma boa opção para a Mocidade mostrar que está renovada.



Compositores: Anderson Viana, Beto Martins, Bira Fernandes e Ricardo Mendonça
Intérprete: Gilsinho

Brilhou a luz do gênio no universo
Meu samba vai em prosa e verso, despertar!
Anjos anunciam a chegada nesta festa emoldurada, vem sonhar!
Pinta por nós a estrela na cor da bandeira do meu pavilhão.

Lembra na sua mocidade,
As brincadeiras refletiam no papel.
Na lavoura do café, onde as pipas e os balões colorem o céu.

Caravelas descobrindo o seu Brasil
Fauna e flora, nossa mãe gentil.
Por ti, portinari, rompemos a tela
Quantas belezas nessa aquarela.


Seus traços retratam a realidade, o simples não pode faltar
O morro também a favela a música popular.
O samba desce a ladeira e encanta
O povão a esperar a nossa escola na avenida.

Santas cenas bíblicas, de fé e amor
Lá no sertão, os retirantes, sofrimento e dor.

Um dia a alegria vai chegando ao fim!
O adeus ao seu pincel, bravamente superou
Pintando em lápis de cor!
Dom Quixote de la mancha, empunhando sua lança
Histórias que drummond poetizou.

O sentimento expressado no painel
Diz muito mais do que agente pode ver
O mal do mundo, o bem-estar, o desigual
Guerra e paz no carnaval!

A Mocidade é o quadro da felicidade
Na parede da igualdade
Da galeria de Padre Miguel!



Não há muito o que falar do samba de Diego Nicolau, Gabriel Teixeira e Gustavo Soares. Uma poesia singular que não se vê todos os dias em um samba-enredo. Simplesmente emocionante. Há quem reclame da repetição da palavra "mocidade" no refrão principal, que, aliás, tem uma melodia linda. Possivelmente foi proposital, uma vez se referindo à escola e na outra à juventude. Essa brincadeira com a palavra está, inclusive, presente na sinopse. Sendo o escolhido, é canditato a melhor do ano. Sambaço. O Carnaval de Avenida aposta neste samba.



Compositores: Diego Nicolau, Gabriel Teixeira e Gustavo Soares
Intérprete: Diego Nicolau

Eu guardei em mim
A mais linda inspiração
Pra exaltar em tua arte
A brasilidade de sua expressão
Desperta gênio pintor
Mostra teu talento, revela o dom
Deixa a estrela guiar
Faz do firmamento, seu eterno lar
Solto no céu feito pipa a voar
Quero te ver qual menino feliz
Planta a semente do sonho em verde matiz

Emoção, me leva...
Livre pincel a deslizar
Vou navegar, desbravador
Um errante sonhador


Voar pelas asas de um anjo
Num céu de azulejos pedir proteção
Vida de um retirante
No sol escaldante que queima o sertão
Moinhos vencer... Histórias de amor
Riscar poesias em lápis de cor
Você, que do morro fez vida real
Pintou nossos lares num lindo mural
Você, retratando a alma, se fez ideal
Meu samba canta mensagens de "guerra e paz"
Seu nome será imortal em nosso carnaval

É por ti que a mocidade canta
Portinari, minha aquarela
Rompendo a tela, a realidade
Na voz da minha Mocidade

3 comentários:

  1. Farei os meus comentários sobre os sambas mencionados, mas de forma técnica (sobre a sinopse):

    1 - Arlindo: Uma linda melodia,com uma gravação espetacular, porém, deixou e muito a desejar no enredo, não acredito que vença.

    2 - Ricardo: Na minha opinião o melhor samba do ano, restou claro o estudo dos compositores sobre o tema, a começar no segundo parágrafo "... lembra na sua mocidade as brincadeiras refletiam no papel..." para quem não tem conhecimento os quadro pipas, balções, piões, café etc. são frutos da lembranças da infância de Candido, e hoje são telas importantes, fantástica essa sacada. Logo em seguida vem: "caravelas descobrindo o SEU Brasil..." trata-se de um resumo de todas as obras que Portinari pinto com relação ao descobrimento do Brasil, o enforcamento de Tiradentes a primeira ceia... tudo isso representado pelo SEU BRASIL. Muito bom.

    Uma das partes mais importantes do samba (na minha opinião a mais bonita por sinal) é "...um dia, a alegria vai chegando ao fim, o adeus ao seu pincel, bravamente superou, pintando em lápis de cor..." O samba sai na frente dos demais nesse ponto, pois retrata o momento em que Portinari pegou uma intoxicação devido as tintas, sendo proibido continuar pintando, nesse período Candido supera essa fase e começa a pintar em lápis de cor., foi uma das fases mais marcantes do pintor, que somente essa parceria trouxe para o samba.

    Algumas pessoas reclamam da extensão do samba, o que não vejo problema, uma vez que a melodia muda a todo tempo, em cada passagem uma nova emoção.

    Acompanho o trabalho do Louzada há tempos, e acho difícil não ser esse o samba a ser escolhido. Faço uma aposta?

    3 - Diego: A melhor melodia de todas, porém, uma melodia reta, que com o tempo não dará muito certo, isso será visto na quadra quando tiver mais passagens. Algumas pessoas reclamam da repetição da palavra Mocidade no refrão., sinceramente não teria problema algum se fossem só essas as repetições, o que não acontece, pois os compositores repetem diversas palavras no samba,tais como você, voar, ceu, cantar etc...
    O samba realmente emociona, mas há erros graves.

    Acho que há pessoas que estão julgando os nomes dos compositores e não as obras, não tenho dúvidas que se os sambas não tivessem com os nomes dos compositores, só os numeros do samba, o julgamento seria diferente.

    Graziella MArtins
    Jornalista professora

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  2. Fechei com você, cara. Nos três sambas!
    Também acho que o do Diego leva certa vantagem, sobretudo pelos padrões atuais, mas gosto muito do samba do Ricardo, lembra os da década de 80/90 e emociona.
    Pra mim, o do Arlindo Neto e Jorginho Medeiros seria imbatível se não faltasse nele um pouco do enredo.
    Enfim, ótima safra mesmo. Rezemos agora para que a escolha não seja política...

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  3. para mim nenhum dos três representa o que está na sinopse

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