domingo, 13 de março de 2011

Pague para entrar, reze pra sair.



A Unidos da Tijuca não merecia ganhar o carnaval de 2011. E talvez não merecesse nem voltar no desfile das campeãs. O que se viu na passarela foi uma sequência de belos efeitos e uma ou outra ideia original. Mas quando se avalia o desfile de Paulo Barros baseando-se nos dez quesitos julgados, poucos são aqueles que se salvam. A escola foi muito diferente, muito pior do que a campeã com méritos do ano passado. Em 2010 Paulo Barros apresentou um sopro de adequação ao que se espera de um desfile de escola de samba sem perder sua criatividade. O carro dos Jardins da Babilônia não precisou de nenhum grande efeito para ser um dos melhores do carnaval. Com o campeonato, Paulo resolveu voltar a ser o "show man" de antes e tentar ganhar o título sendo ele mesmo em sua essência. Não deu certo antes, não dará agora. E é bom que não dê, pelo bem do carnaval carioca. Seria criado um monstro ao se consagrar o péssimo desfile de 2011 da Tijuca, pois daria a Paulo a certeza de que poderia se afastar cada vez mais do samba no pé para investir em efeitos especias e teatralizações.

Paulo Barros não faz carnaval. Paulo Barros talvez nem seja tão genial quanto dizem, afinal qualquer carnavalesco do Rio certamente poderia pensar nas alegorias que ele produz. Porém talvez não ponham em prática tais ideias por saberem que não se trata de algo adequado a um desfile de escola de samba. Sem falar que Paulo apenas se repete e continua sendo chamado de gênio. O carro do Avatar deste ano não é nada mais do que o carro do DNA de 2004 com um dinossauro em cima. E se criticam os acabamentos das alegorias da Beija-Flor e da Mangueira, que dizer do carro do tubarão, que sai de uma piscina em uma casa de madeira mal concebida plasticamente? Mas ninguém vê isso afinal temos um tubarão devorando um mergulhador em plena Avenida. Fecha-se os olhos pra todo o resto e abre-se a boca de espanto. Com isso Paulo traz pra si aquele que é seu maior aliado em sua luta pela inovação: o público.

Uma verdadeira militância se forma a favor do carnavalesco, hipnotizada por cada coreografia representando o último blockbuster do cinema. E vai explicar pro público presente na Sapucaí, em sua maioria composto por pessoas que não entendem a fundo o carnaval, que o enredo da Tijuca é sobre filmes de terror e não cabe um tripé sobre Transformers e uma alegoria do Harry Potter. Ninguém quer saber disso, ninguém se importa. Dessa forma Paulo consegue sempre um público fiel, pronto a gritar "é campeã" para suas ideias repetidas e sem sentido. É como ir ao circo e aplaudir de pé cada número, mesmo já o tendo visto milhares de vezes.

Foi muito bom para o futuro do carnaval que o desfile tradicional da Beija-Flor tenha vencido as inovações não tão novas de Paulo Barros. Independente de toda a polêmica envolvendo a apuração e o campeonato da escola de Nilópolis, que foi merecido, o resultado deste carnaval serviu para mostrar a Paulo que carnaval se ganha com carnaval. A Tijuca tem um casal excelente e uma comissão de frente que cumpre seu papel. Mas o samba de 2011 foi péssimo, um dos piores do ano. Apesar da melodia correta, a letra não faz o menor sentido e, diferente do samba de 2010, continuou sem sentido após o desfile. Os componentes que mostraram empolgação e muito canto nos ensaios técnicos murcharam na Avenida, prejudicando quesitos técnicos da escola. E, como já foi dito, o enredo foi extremamente mal desenvolvido, colocando a Fuga das Galinhas em um desfile sobre o terror no cinema. "É campeã", gritam as arquibancadas.

6 comentários:

  1. Concordo em alguns pontos e discordo de outros.

    Ao meu ver ele sabe sim fazer carnaval, mas comete muitos equívocos. O enredo era sobre medo através do cinema, onde por exemplo o Harry Potter, a fuga das galinhas (etc) seriam os personagens que "encaram" esse medo. Já os transformers, realmente, não há nem como defender o equívoco, assim como no caso da Rainha do Deserto. Ao contrário de alguns enredos desastrosos do Paulo Barros, como 2006 e 2008, em 2011 ele conseguiu uma linha de costura pra tudo isso, que era Caronte. Embora a costura seja defeituosa em alguns pontos e sem nenhum valor cultural, ela pelo menos existe e é bem original.

    Parabéns pela analise, muito coerente!

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  2. Não concordo com você. Paulo Barros é sim um gênio, muito criativo e a Unidos da Tijuca desfilou bem e poderia muito bem ostentar o título. Não tirando o mérito da Beija-flor, que fez um bom desfile, mas não merecia vencer com uma margem de pontos tão grande. isso gerou insatisfação em grande parte do público e as vaias do setor 1 da arquibancada.

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  3. Zeca Camargo escreveu um post se derramando de amores pela Tijuca e por seu "desfile vencedor". Comentei:
    "Zeca, o comentarista de tudo.

    Os jurados não congelam um modelo de carnaval não, Zeca, tanto que ano passado, se sua memória te traiu, a Tijuca ganhou de forma arrebatadora. E merecida. Apesar de ser cheio de elementos pop, o desfile mostrou um acabamento e uma face criativa de Paulo Barros genial. O enredo proporcionou aquilo.

    Esse ano a escola não foi tecnicamente bem, um samba pobre e um Paulo Barros dos anos anteriores: referências ao universo pop brutas, quase sem tratamento estético nenhum. Sem falar em fantasias mal cuidadas, que um observador atento de carnaval veria nos primeiros setores.

    O carro abre-alas, por exemplo, ele criou, deglutiu e misturou. Uma boa solução. O carro Avatar era de um acabamento primoroso, mas aquilo é carnavalizar? É acrescentar à festa? É fazer evoluir um modelo “conservado no formol dos anos 80″? São Renato Lage que ilumine esses caminhos."

    Agora imagino Paulo Barros cantado "Perguntei ao espelho meu qual delas é mais linda do que eu. Ele então me respondeu mais linda do que eu só eu" e desenhando isso aqui.

    As notas foram estranhas mesmo. Muito estranho esse vice campeonato...

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  4. Discordo de algumas coisas. Paulo Barros é repetitivo? Ele tem um estilo, gente! Não confundam! Não vejo problema em usá-lo todos os anos. Não lembro de ter visto no desfile deste ano alguma repetição. A única semelhança do carro do DNA e do Avatar era a cor da pintura corporal. Só isso. Paulo Barros ganhou o público que, pra mim, é quem mais deve sair satisfeito do Sambódromo. Concordo que ele pecou algumas vezes. Odiei, por exemplo, aquele carro de cabeça pra baixo e a bateria que subia numa das alegorias no desfile da Viradouro de alguns anos atrás. Foi desastroso sim, mas isso não diminui a genialidade dele. Perfeito ele não é, mas que é incrível, isso não dá pra negar. A Tijuca pode não ter sido campeã do júri, mas foi do público. Já a Beija-Flor segue o mesmo caminho da Imperatriz. Faz desfile pra jurado ver. Eu teria medo de ganhar fama de escola antipática e não acharia bacana entrar no desfile das campeãs e ouvir do público que a campeã moral é outra escola.
    Acho que o Roberto Carlos merecia mais. A Beija-Flor vinha de uma sucessão de desfiles impecáveis e eu, sinceramente, esperava mais da homenagem àquele que é um dos maiores cantores populares deste país. O samba-enredo era fraco, mas era do filho do Neguinho, né? Talvez isso explique alguma coisa. Aliás, este ano nenhum samba se destacou. Foi-se o tempo em que os sambas ainda eram lembrados mesmo depois do Carnaval. Creio que "Peguei um Ita no Norte" tenha sido o último.

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  5. Gosto muito do blog e sempre passo por aqui pra ler as excelentes opiniões e postagens. Mas tenho que discordar veementemente desta postagem. Dizer que Paulo Barros não se preocupa com o acabamento dos carros e das fantasias é uma colocação absurdamente leviana. De perto, os carros têm um acabamento fantástico. Até concordo que a Tijuca deixou a desejar em número de carros alegóricos em 2011. Seria exagero dizer que eram seis carros... Eram apenas cinco carros alegóricos e diversos elementos alegóricos espalhados pelo desfile, alguns sem o menor sentido para o enredo, como o ônibus da Priscila. Realmente Paulo Barros pecou na concepção do enredo e perdeu o carnaval pelo excesso. Em 2010 a Tijuca passou mais compacta, mais bem organizada, com alegorias de fácil compreensão e fantasias bem pensadas. Em 2011 a Tijuca passou confusa, com um samba-enredo chato e confuso e uma bateria que não conseguiu se encaixar com o samba. Aliás, acho que nenhuma bateria conseguiria dar conta daquele Frankenstein cantado. Enfim... Isso só prova que a Beija-Flor levou o título por falta de concorrentes, e não por mérito próprio. A Grande Rio é a campeã moral de 2011. Excelente desfile. A Ilha provou que em alguns anos pode brigar pelo campeonato, o que seria uma justiça enorme para o carnaval carioca. Portela, Mocidade e Imperatriz brigarão com a Porto da Pedra para não cair. E a São Clemente mais uma vez errou de grupo. Foi o pior trabalho do Fábio Ricardo, com certeza, o que é uma pena. A Tijuca, no entanto, pode até não merecer o título por pecar pelo excesso, mas a Beija-Flor, por acaso, merece o título mesmo pecando na extrema cafonice? O que dizer das alegorias que ultrapassavam mesmo os limites do kitsch? Ou do samba risível, que foi, assustadoramente, elogiado pela crítica? O carnval de 2011 não teve campeões. A Grande Rio desfilou, mas não foi julgada. Então, um ano passou em branco. E olha que eu sou um dos maiores crítcos da Grande Rio e nunca simpatizei com a escola...

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  6. Olha muito bom seu post! Acho o Paulo um cara genial sim, mas a meu ver ele peca no acabamento das alegorias, com excessão ao campeonato de 2010.
    Eu vi o Abre-Alas da Tijuca de perto e pensava; não não pode ser que estas cadeiras de plástico vão assim pra avenida!
    E foram!!! Se eu fosse jurado dava 8 de Alegoria pra Tijuca, mas senti um certo medo dos julgadores... deram boas notas no final das contas!

    Outros defeitos, o robô Transformer estava torto, pendido pro lado esquerdo, tbem tive a sorte de vê-lo sendo colocado na concentração bem a tardinha e não arrumaram pro desfile... uma lástima! Sem contar que a cor não tinha nada haver!

    Apesar de ainda assim considerar o Paulo Barros um gênio e um renovador, acho genial sua colocação: "afinal qualquer carnavalesco do Rio certamente poderia pensar nas alegorias que ele produz. Porém talvez não ponham em prática tais ideias por saberem que não se trata de algo adequado a um desfile de escola de samba. " Pensemos nisto!

    Outra é que não acredito em mensagem negativa em desfile de escola de samba, os desfiles caracterizam-se pelo otimismo e mensagens de esperança, vindo talvez da própria essência do samba que nasce do desejo de liberdade! Não sou puritano, gosto do enredo crítico, do enredo piadista ou até sensual, mas positivo!

    E o enredo? O que era aquele título e o que foi na avenida?!... E ninguém criticou os enredos do Paulo Barros ainda! Não possuem continuidade e nem coesão... não só são temas mas na prática parece um monte de cenas dissociadas! Pelo título parecia que seria um enredo de terror e Avatar é Terror?... Acabou sendo um enredo sobre cinema, disfarçado pra não competir com o Salgueiro!

    Acho que falei demais! Isto dá um post! rssss

    Abraço.

    William Oliveira.

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