
Três horas da manhã. Já estava tarde e não conseguiam decidir qual seria o nome da escola de samba. Um dos presentes falou: "tenho que me retirar, está em cima da hora". Pronto. Nascia ali uma das mais importantes agremiações da história, orgulho do morro da Primavera e de Cavalcanti. Essa é uma das versões para o surgimento do nome e do símbolo da escola, um relógio marcando três horas. O fato é que a Em Cima da Hora é pura tradição, mesmo não tendo participado tantas vezes do grupo Especial. Na verdade, grande parte de toda a importância que se atribui à ela se deve a um único samba.
O primeiro desfile foi em 1962, com o enredo "Independência do Brasil". Pouco tempo depois, a primeira passagem no grupo Especial, na época chamado de grupo 1, em 1969, com o enredo "Ouro escravo". Foi rebaixada no mesmo ano, mas logo estaria de volta para uma estadia mais longa, de 1972 até 1976. Em 1973 obteve seu melhor resultado: sexto lugar, com o enredo "O saber poético da literatura de cordel", cujo samba levou o Estandarte de Ouro. Mas foi em 76 que a agremiação fez história.
Falar de "Os Sertões" é difícil pois faltam adjetivos pra essa obra. Objetivamente, trata-se de um dos melhores sambas-enredo de todos os tempos, inclusive apontado por muita gente como o melhor. O enredo é baseado no livro homônimo de Euclides da Cunha. E o samba transmite perfeitamente a essência da obra. A melodia, excepcional, acompanha a letra, sendo pesada nas partes mais tristes e pra cima nas partes alegres. É uma composição genial, sendo redundante qualquer outra forma de qualificá-la. Infelizmente, se tratou de mais um caso onde um bom samba acabou rebaixado. E em penúltimo lugar. Não consigo imaginar a Em Cima da Hora fazendo um desfile tão terrível assim, mas o fato é que caiu e só voltou quase dez anos depois, pela última vez.
Em 1985, um ano após a inauguração do Sambódromo, a escola estava novamente no Especial e desfilou com o enredo "Me acostumo mas não me amanso". Foi rebaixada e não conseguiu mais voltar. Ficou durante muitos anos no segundo grupo até amargar algumas quedas consecutivas e passar a alternar entre os grupos C e D. Em 2010 foi campeã do grupo D repetindo o feito de 2006, ascendendo ao C, hoje chamado de RJ2, para o carnaval de 2011. Só ano que vem poderemos saber se a escola continua oscilante ou engrena de vez, o que já está mais do que na hora, ou melhor, "em cima da hora" de acontecer!
Com relação aos sambas, temos composições explêndidas. O samba do campeonato desse ano, trilha de um dos desfiles mais emocionantes de 2010, é muito bom. Com o enredo "50 anos de história, assim conta minha senhora, Em Cima da Hora", a escola venceu falando de si própria. Outro destaque mais recente é o de 1996, "Iara cigana, canta, dança e toca, é Rio, é rua, é Carioca", que possui melodia ímpar. Da safra mais antiga temos clássicos do carnaval, como o já citado "O saber poético da literatura de cordel", de 73 e o de 74, "Festa dos deuses afro-brasileiros".
É quase um crime deixar de dar destaque à obra maior da escola, "Os Sertões". Mas vou deixar o gosto pessoal falar um pouco mais alto agora e destacar um samba que, na minha opinião, também se encaixa entre os grandes clássicos da Em Cima da Hora. "Horas... Eras de glórias... E outras histórias..." foi o enredo que a escola levou pra avenida em 1999, falando das horas e sua relação com o homem. Melodia excepcional e letra que é uma poesia. Os refrões são o grande destaque, sobretudo o do meio, com seus versos "Oh madrugada/ O amanhecer já bate a sua porta". É pouco conhecido, até pelo fato da escola estar no grupo A na época. Um dentre os tantos sambas incríveis que a simpática escola de Cavalcanti forneceu ao carnaval carioca. Mas não tira o posto de "Os Sertões" de grande clássico da agremiação.
AHUAHAUHAUAHUAHAUAHU adorei o nome dessa escola. Pode-se dizer que é a escola do brasileiro.
ResponderExcluirNem posso falar q é a minha escola pq a minha seria Unidos do Atraso.
Mas falando sério, é bem interessante a história do nome da escola. O que eu não imaginava é que ela já tenha estado no grupo especial.
Sambinha é bom..
Depois com calma vou ouvir todos, mas o samba de 76 pra mim é um épico!
ResponderExcluirEu tinha só 12 anos, naquela época desfilavam todas as escolas num dia só e a "estrela da noite" pra mim naquele dia era a Em Cima da Hora, só por causa desse samba.